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Os trancos e barrancos nos bastidores de’Liga da Justiça’

De leves deslizes até se tornar uma tragédia completa, a produção de 'Liga da Justiça' foi apressada, desconjuntada e desapontadora

Os trancos e barrancos nos bastidores de'Liga da Justiça'

Liga da Justiça passou por maus bocados desde o começo de sua produção. Uma iminente fusão corporativa, uma tragédia em família, uma disputa interna entre os temas de luz e trevas. Mas seu maior inimigo foi o tempo. Não tinha como sair um filme realmente bom com tanta coisa pra atrapalhar.

Mesmo como fã que cresceu lendo as HQs e vendo os (ainda excelentes) cartoons dos heróis da DC Comics, não há otimismo e vista grossa que alivie o desapontamento de ver desperdiçada a reunião, pela primeira vez no cinema, de personagens queridos por gerações de fãs.

Poucas pessoas ficaram realmente felizes com o resultado final do projeto, que foi chamado por quem trabalhou nele de Frankenstein (vocês sabem, o monstro clássico cujo corpo era um arremedo de vários corpos diferentes).

Mesmo com isso e aquilo para ser apontado de proveitoso no filme, é visível que a bagunça deve ter tido algum culpado. E tem. O The Wrap publicou o depoimento de diversos insiders (pessoas de dentro da produção) revelando os trancos e barrancos pelos quais o filme passou desde a sua concepção.

Liga da Justiça está em cartaz nos cinemas da Paraíba — confira sessões.

Diversos executivos e diretores com visões diferentes enfiaram no filme o que acharam que deviam e o resultado é uma das piores aberturas para um filme baseado em HQs de toda a história. Diversas pessoas falaram ao The Wrap sobre a decisão de lançar o filme ainda em 17 de novembro — um erro flagrante como a cara do Superman, cheia de computação gráfica bizarra pra tapar um bigode que não deveria estar lá porque o ator havia assumido já outro papel em outro filme quando as refilmagens começaram.

Mas não foi só isso. Abaixo, falamos sobre os muitos problemas enfrentados na produção apressada, e no resultado que deixou o público insatisfeito e fãs desapontados.

O Cavaleiro das Trevas

Quem diria que um filme estrelado por heróis que fazem parte do imaginário de gerações poderia ser uma decepção tão grande? A reunião de Batman, Mulher-Maravilha, Ciborgue, Aquaman, Flash e Superman abriu com 96 milhões de dólares em seu fim de semana de estreia nos EUA. Pra você ter uma ideia: Minions abriu com 115 milhões.

(A ironia é que o filme foi a maior estreia de todos os tempos no Brasil, superando o antigo recorde de Saga Crepúsculo: Amanhecer – Parte 2.)

Quando Christopher Nolan completou sua celebrada trilogia de O Cavaleiro das Trevas em 2012, a Warner Bros. esperava que ele voltasse e ajudasse com o reboot do Superman.

Mas Nolan caiu fora, e deu suporte a Zack Snyder assumir a direção do reboot Homem de Aço. Assim como Snyder, Nolan faz filmes com sua esposa Emma Thomas, que trabalha como produtora. Eles eram inclusive mais ou menos da mesma idade, e se davam muito bem.

Snyder parecia mesmo uma boa ideia. Ele dirigiu adaptações de HQs com grande fidelidade. Ele dirigiu 300 em 2006, que adaptava a HQ homônima de Frank Miller, e três anos depois levou aos cinemas a ambiciosa adaptação da HQ mais aclamada de todos os tempos: Watchmen, de Alan Moore e David Gibbons.

Familiar ao trabalho de Miller, que praticamente reinventou o Batman nos anos 80 com as histórias Batman: Ano Um e O Cavaleiro das Trevas, Snyder parecia a escolha perfeita para oferecer ao estúdio uma visão do universo DC condizente com a de Nolan em seus filmes.

Na época, ele respondia a Greg Silverman, executivo da Warner Bros. que trabalhou em 300, O Cavaleiro das Trevas e Se Beber Não Case. Em 2013, Silverman foi nomeado presidente da Warner Bros., reportando diretamente ao CEO Kevin Tsujihara.

Um indivíduo com profundo conhecimento do estúdio disse que Silverman não lia anotações nos roteiros de Snyder. Outro descreveu que a atitude de Silverman era notavelmente “tanto faz”. O que teria sido bom se os filmes de Snyder tivessem sido um sucesso: executivos normalmente são criticados por interferir demais, não de menos. Ninguém jamais reclamou que Nolan teve liberdade demais para dirigir O Cavaleiro das Trevas.

Silverman declinou comentários.

Homem de Aço

O tom niilista de Snyder fazia sentido para Batman, um vigilante movido por determinação sombria. Mas muitos fãs acharam ruim que o mesmo valesse para Superman, um personagem conhecido por ser símbolo de esperança e otimismo. Quando Superman quebrou o pescoço de um inimigo no fim desesperado de uma luta que destruiu Metropolis no fim de O Homem de Aço (2013), muitos fãs mais puristas sentiram que Snyder jamais havia entendido o sentido do herói.

Sua continuação, Batman vs Superman: A Origem da Justiça foi ainda pior. O que poderia ser pior que Superman matando por desespero? Superman morrendo. Batman vs Superman termina com o Homem de Aço a sete palmos.

E mesmo assim, Batman vs Superman obteve a segunda maior abertura de 2016, atrás apenas de Capitão América: Guerra Civil. Mas falar mal fez efeito: depois de uma abertura de 166 milhões de dólares, a segunda semana caiu 69% para 51 milhões. Meses depois, no mesmo ano, Esquadrão Suicida desapontou quem ainda mantinha esperanças com uma mistureba incoerente de visão sombria com humor forçado na tentativa de pegar o embalo de humor e música de Guardiões da Galáxia.

A marca já estava erodida desde Batman vs Superman. Um indivíduo de dentro da Warner Bros. disse que executivos do estúdio foram a Silverman várias vezes para sugerir a remoção de Zack Snyder de Liga da Justiça. Um deles disse que o Jon Berg, presidente da DC, foi mandado ao set de filmagem para inspecionar a produção de perto e manter um controle acirrado do orçamento.

Warner Bros. declinou comentários.

O informante disse ainda que Silverman era ‘bastante duro com Zack’, quando ‘Batman vs Superman’ desapontou o público. Mas ele não o demitiu: remover um diretor é uma distração terrível em qualquer filme, e seria um sinal de problema sério se um filme designado para ser o passo inaugural num universo cinematográfico passasse por tantos problemas.

“Eles já estavam profundamente preparados para Liga da Justiça e o custo seria uma fortuna. Sairia mais caro trocar o diretor do que mantê-lo”, disse um informante da produção. “A Warner é um estúdio que quer quase sempre projetar força.”

Perguntado sobre de quem foi a decisão final de manter Snyder no projeto, o informante disse: “Não foi Greg [Silverman]. Foi tudo no nível Tsujihara”.

Em dezembro, Silverman deixou a presidência da Warner Bros. Pictures e foi substituído por Toby Emmerich.

Luz vs Trevas

Essa parte não é a favorita dos fãs de quadrinhos, mas é crucial: em outubro de 2016, a Warner Bros. anunciou planos de fazer uma fusão empresarial com a AT&T, e as companhias começaram a medir uma a outra e cada um dos seus aparatos e possíveis prejuízos.

Mover a data de lançamento de Liga da Justiça, um blockbuster designado a arrecadar fortunas em bilheteria, teria projetado fraqueza. Um sucesso projetaria força. E a Warner esperava — contava — com um sucesso.

O estúdio se tornou bastante vocal a respeito de fazer de Liga da Justiça um filme com o tom mais leve. Joss Whedon, que havia deixado a Marvel Studios após dirigir Vingadores: Era de Ultron, foi contratado para dirigir um filme solo protagonizado pela Batgirl. Com isso, o estúdio colocou Whedon para reescrever o roteiro de Liga da Justiça, e inserir nele um pouco da leveza e diversão presente nos filmes da Marvel.

E foi mais ou menos nessa época, em que Zack Snyder estava nessa queda de braço com o estúdio disputando se o filme devia ser sombrio e sério ou engraçado e leve, que a tragédia aconteceu.

A filha de Zack e Deborah Snyder morreu.

A princípio, Zack teria dito que “trabalhar será um refúgio”.

Mas não foi. Snyder estava sob extrema pressão do estúdio porque a Warner Bros. estava abraçando completamente a visão “leve, diferente e divertida” de Joss Whedon.

Em maio, Snyder deixou a direção de ‘Liga da Justiça’ para focar em sua família, e eventualmente, produzir um projeto mais pessoal com o suporte da Warner Bros. chamado Last Photograph.

E Whedon tomou as rédeas do projeto.

E faltavam menos de 5 meses para a estreia.

A Fusão e o Bigode

Logo que Snyder deixou a direção de ‘Liga da Justiça’, a Warner Bros. obteve outro sinal de que seus filmes não deviam ser sombrios: Mulher-Maravilha, de Patty Jenkins, sacudiu a visão violenta e monocromática do Universo DC e obteve aprovação da crítica e do público com uma heroína otimista, bondosa e vitoriosa – e com uma performance inacreditável nas bilheterias.

Whedon precisava escolher entre continuar a visão de Snyder ou aliviar as coisas em Liga da Justiça o máximo possível.

Ou pelo menos, até 17 de novembro.

A agenda era intensa: o ator Henry Cavill (Superman), já a todo vapor nas gravações de Missão Impossível 6 para a Paramount, não tinha permissão de raspar o bigode que ele deixou crescer para gravar aquele filme, então a produção de Liga da Justiça foi forçada a remover o bigode com efeitos especiais. Não faltou quem reclamasse que a cara dele estava estranha.

Um executivo contou que Tsujihara e Emmerich “queriam preservar os bônus que iam receber antes da fusão”, e estavam preocupados que “se eles adiassem o filme, esses bônus seriam adiados para o ano seguinte e eles poderiam não estar mais no estúdio.”

Outro interno disse que, nos mais elevados níveis da Warner Bros., bônus são dados a quem “toma boas decisões”. Se atrasar um filme era a decisão certa, um executivo poderia ter sido recompensado com isso.

Frankenstein

A versão final de ‘Liga da Justiça’, esse mamulengo que não é nem a visão sombria de Zack Snyder nem o filme divertido e leve de Joss Whedon, deixou muito pouca gente feliz – inclusive circulam na internet acirrados debates do quanto cada diretor foi responsável, qual cena foi ideia de qual, e até de cenas deletadas ou completamente descontextualizadas.

“O maior erro da Warner Bros. foi não adiar o lançamento de ‘Liga da Justiça’ quando Snyder deixou a direção”, disse um executivo.

Mais de 100 mil fãs assinaram a petição exigindo que a Warner Bros. lançasse a versão ‘Snyder’ do filme.

Mas o público geral não está tão loucaço pela versão ‘pura’ de Snyder. Por hora, o controle de Snyder sobre os filmes DC acabou.

O Futuro

Matt Reeves está escrevendo o roteiro do zero para seu filme solo do Batman, que pode nem ter Ben Affleck e nem ser parte do já estabelecido DCEU; Patty Jenkins foi recentemente confirmada na direção de uma sequência de Mulher-Maravilha, com os rumores iniciais apontando que a história pode se passar na época da Guerra Fria; e ‘Shazam’ está sob  direção de David F. Sandberg, com o ator Zachary Levi recentemente confirmado no papel do herói. 

Por hora, não há diretor no comando dos já anunciados Ciborgue e Tropa dos Lanternas Verdes, e todos acompanharam como a Warner perdeu três diretores e até agora nada foi confirmado sobre o filme solo do Flash.

As grandes esperanças do estúdio recaem então sobre ‘Aquaman’, o filme solo do herói que já deu as caras em ‘Liga da Justiça’, protagonizado pelo parrudo Jason Momoa, em dezembro de 2019.

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