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Bombeiros presos passaram a noite dentro de ônibus

Os 439 bombeiros presos na manhã de sábado (4), depois da invasão do Quartel Central da corporação, passaram a noite dentro dos ônibus

Bombeiros presos passaram a noite dentro de ônibus

Os 439 bombeiros presos na manhã de sábado (4), depois da invasão do Quartel Central da corporação, passaram a noite dentro dos ônibus que os levaram até a Corregedoria da Polícia Militar, em Neves, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio. As informações são dos próprios presos e foram confirmadas pela Polícia Militar.

A grande maioria ainda está na corregedoria, na manhã deste domingo (5), aguardando transferência para uma unidade dos Bombeiros.

A assessoria da PM disse que tentou contornar da melhor maneira possível os problemas de logística para abrigar, de uma vez, os 439 presos e alimentá-los. Informou ainda que o prédio da corregedoria ainda não está totalmente pronto, já que só será inaugurado na próxima quinta-feira (9).

Neste domingo, pouco antes das 6h, três microônibus com 70 bombeiros deixaram a corregedoria e seguiram para a antiga escola de oficiais dos Bombeiros, que fica em Jurujuba, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio.

Um cabo que está preso e que falou com o G1 pelo celular reclamou das condições em que estão aquartelados. Ele disse que os presos foram obrigados a dormir nos ônibus que os levaram, que só receberam um sanduíche e uma fruta por volta das 18h de sábado e uma refeição de feijão e arroz, que só chegou por volta das 2h deste domingo.

Parentes que passaram a noite do lado de fora da Corregedoria, como o aposentado Márcio de Souza, relataram as faltas de condições dignas dos bombeiros presos.

“Meu filho e minha nora estão aí dentro. Eles passaram frio e fome, durante a noite. São poucos os parentes que tiveram condições de trazer roupas e comidas para quem está preso. Isso é desumano. Eles não são bandidos, só querem um salário digno”, disse o aposentado.

Bombeiros presos protestam

Pelo menos 30 bombeiros ouvidos em uma das salas da corregedoria protestaram contra a maneira como estão sendo tratados desde que foram presos, na manhã de sábado.

“Passei minha vida toda salvando vidas e agora estou me sentindo como se fosse um bandido. Estamos há mais de dez horas sem comer”, disse o sargento Monteiro ao G1, pelas grades da janela da sala. “Minha mulher está grávida, aí fora, nervosa, preocupada comigo. É meu primeiro filho e ela está numa gravidez de risco”, afirmou.

Outro que protestou foi o sargento Félix. “Ficamos encurralados pelos ataques do Bope e do Batalhão de Choque. Tive que correr como se fosse um bandido. Muitas crianças chegaram a ficar sufocadas”, disse, também por entre as grades do prédio da Corregedoria da PM.

Mais cedo, o corregedor da Polícia Militar, coronel Ronaldo Menezes, negou maus-tratos aos manifestantes presos, afirmando que os bombeiros estão sendo atendidos com tratamento digno e não estão mais em ônibus e, sim, em salas.

Presos responderão por três crimes
Conforme o promotor militar Leonardo Cunha, que acompanha o caso, todos os 439 bombeiros presos durante a madrugada após a invasão do Quartel Central, no Centro do Rio, irão responder por três crimes: motim, dano e impedimento ao socorro.

Pelo Código Penal Militar, diz o promotor, a pena prevista para o crime de motim é de 4 a 8 anos de prisão. Pelos danos causados no Quartel General durante o protesto, os bombeiros poderão ser condenados ainda a penas de 1 a 6 anos pelo crime de dano. Pelo crime de impedimento ao socorro é prevista a pena de mais 3 a 6 anos de prisão.
“Todos os presos dentro do quartel também estão sendo enquadrados no crime de impedimento ao socorro porque impediram que viaturas e homens deixassem a unidade para cumprir missões e atender ocorrências”, diz o promotor. Líderes do protesto poderão ter a pena aumentada por incitação ao motim, segundo ele.

Os autos de flagrante dos bombeiros presos serão remetidos à Justiça Militar em até 20 dias. Segundo o promotor, um Inquérito Policial Militar (IPM) foi aberto para investigar o caso e “muito provavelmente” o Ministério Público irá oferecer denúncia contra os presos.

Coronel ferido

O comandante do Batalhão de Choque da PM (BPChoque), coronel Waldyr Soares Filho, afirmou na tarde deste sábado (4) que a movimentação dos bombeiros e a invasão do Quartel Central, no Centro do Rio, poderia ser considerado um motim.
Com o pulso esquerdo fraturado e uma luxação no joelho esquerdo, em consequência da invasão do quartel dos bombeiros, o comandante acompanhou o trabalho de qualificação dos bombeiros presos na Corregedoria da PM. À paisana, ele contou como tudo aconteceu.

“Fui empurrado por um dos líderes da invasão. Como era a autoridade de patente mais alta no quartel naquele momento, fui dar voz de prisão a ele. Ele me empurrou, eu tentei agarrá-lo. Ele se desvencilhou de mim, enquanto eu torcia o joelho. Logo depois, ele me empurrou de novo numa escada e, ao cair, quebrei o pulso esquerdo”, contou o comandante.

O coronel Waldyr Soares Filho deverá ficar engessado por pelo menos uma semana, até que sejam feitos novos exames para que se constate se houve ou não rompimento de ligamentos.

Troca de comando nos bombeiros

Mais cedo, em entrevista coletiva, o governador do Rio, Sérgio Cabral, disse que os bombeiros que invadiram o quartel Central do Corpo de Bombeiros são “vândalos, irresponsáveis, que não irão de forma alguma prejudicar a imagem de uma instituição tão respeitada e querida pelo povo do Rio de Janeiro.”

Após uma manhã de reuniões, o governador anunciou um  novo comandante para o Corpo de Bombeiros, o coronel Sérgio Simões assume a corporação no lugar do coronel Pedro Machado. Simões era comandante da Defesa Civil do município. O motivo da substituição, segundo Cabral, foi descontrole hierárquico.

“Foram eventos completamente inaceitáveis do ponto de vista do estado de direito democrático, do ponto de vista do que representa o respeito as instituições, sem falar na própria hierarquia nessa instituição tão querida pelo povo do Rio que é o Corpo de Bombeiros”, continuou Cabral.

Cabral afirmou que há planos de aumento de salários já anunciados para os bombeiros. “Há um programa de incremento salarial aprovado na Alerj, de R$ 2 mil, esse grupo ao final do ano já está atendido. Se não é ideal é o melhor da historia da corporação.”

Invasão

Após uma noite inteira de negociações para que os cerca de dois mil bombeiros deixassem o quartel, a tropa de Choque da Polícia Militar e também policiais do Bope invadiram o quartel do Centro.

Para entrar no complexo, por volta de 6h10, os policiais usaram bombas de efeito moral e bombás de gás lacrimogêneo. Pelo menos duas crianças sofreram intoxicação devido ao gás e dois adultos tiveram ferimentos leves na cabeça, por conta das bombas de efeito moral que foram lançadas pelo Bope.

Desde 19h30 de sexta (3), bombeiros ocuparam o pátio e as dependências do complexo. Mulheres e até crianças se uniram a oficiais numa passeata que começou em frente à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e que passou pelas principais avenidas do Centro, até chegar ao quartel.

 Reivindicações

O Cabo Benevenuto Daciolo, porta-voz do movimento, que também está preso, explicou que entre as reivindicações estão piso salarial líquido no valor de R$ 2 mil e vale-transporte.

“Nós temos o pior salário da categoria no país, que é de R$ 950. Estamos há dois meses tentando negociar com o governo, mas até agora não obtivemos resposta. Nosso movimento é de paz e estamos em busca da dignidade. Não vamos recuar até que haja uma solução. Queremos um acordo, queremos que o governador se pronuncie”, disse o porta-voz.

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