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Com maior fila por leitos para Covid do país, Paraná reabre comércio e escolas

A profissional apela para que governantes imponham medidas mais restritivas para diminuir a circulação do vírus pelo estado.

Com maior fila por leitos para Covid do país, Paraná reabre comércio e escolas

O Paraná tem hoje a maior fila por leitos do país: 1.185 pessoas aguardavam vagas nesta quarta-feira (10) em todo o estado —567 para UTIs e 618 para leitos de enfermaria. — Foto:Reprodução

CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) — É com um pedido de socorro que a médica intensivista Karla Moretto finalizou o relato à Folha de S.Paulo em que trata do cenário enfrentado em um dos maiores hospitais de Curitiba diante da explosão de internamentos por Covid-19. A profissional apela para que governantes imponham medidas mais restritivas para diminuir a circulação do vírus pelo estado.

“Sou sensível ao impacto econômico ocasionado pela pandemia, porém, para mim, a variável mais importante é se queremos que o desequilíbrio econômico, que parece certo, virá com maior ou menor contabilização de mortes”, afirmou a médica.

O Paraná tem hoje a maior fila por leitos do país: 1.185 pessoas aguardavam vagas nesta quarta-feira (10) em todo o estado —567 para UTIs e 618 para leitos de enfermaria. De outro lado, no final da tarde, havia apenas 48 UTIs disponíveis. Há um mês, a fila era composta por 45 pessoas, ou seja, houve um aumento de mais de 25 vezes na demanda.

Mesmo assim, o governador Ratinho Jr. (PSD) anunciou o fim do lockdown, que durou 12 dias, e autorizou a reabertura do comércio e das escolas com modelo híbrido de ensino a partir desta quarta (10), com restrições de horário e público. O toque de recolher das 20h às 5h permanece e, aos finais de semana, os estabelecimentos continuam fechados.

A flexibilização das medidas ocorreu num cenário pior do que o anterior. Na sexta-feira (5), dia do anúncio do governo, nenhum dos principais indicadores da pandemia no estado estava melhor do que no primeiro dia de lockdown, em 26 de fevereiro.

Apesar de afirmar que o estado deve viver um mês de março “muito difícil”, Ratinho justificou que é necessária “uma oxigenação no comércio, para que não seja tão prejudicado”.

“O que vai fazer a gente salvar vidas, agora, é a consciência de cada um. Não é um decreto, uma folha de papel, uma assinatura minha que, sozinha, vai salvar vidas, mas sim as pessoas entenderem que estamos na maior guerra de saúde pública dos últimos cem anos”, disse.

Mesma direção seguiu a prefeitura de Curitiba, que manteve, nesta terça-feira (9), a bandeira média de restrições, impondo limite de público e horário para funcionamento das atividades. Nas redes sociais, o prefeito Rafael Greca (DEM) não descartou um futuro confinamento.

“Se, passada essa fase em bandeira laranja, com emergência de alerta máximo, [não houver resultados], aí sim seremos obrigados ao lockdown. Com o coração apertado, cumpro meu dever de prefeito ao anunciar que estamos chegando ao nosso limite”, declarou.

Para especialistas, a situação tende a se agravar nas próximas semanas. Segundo um estudo do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) com diversas universidades, se seguir a tendência atual, entre o final de março e o início de abril, Curitiba pode atingir uma média diária de 80 a 90 mortes, quatro vezes mais do que o dado desta quarta, de 22 óbitos.

“Abrindo [comércio e escolas] agora vai haver um aumento nos contágios, o que pode impactar nesse número, chegando até a cem mortes por dia”, alertou o professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) Luiz Duczmal, um dos integrantes do estudo.

Nos hospitais, os relatos de exaustão das equipes são cada dia mais frequentes. Tiago Freire, enfermeiro em duas instituições da região metropolitana de Curitiba, contou que tem atendido pelo menos cinco vezes mais doentes nas últimas semanas.

“A dificuldade maior é o cansaço que vem nos abatendo todos os dias, a maioria tem ficado doente por conta dessa exaustão. É trabalho em excesso, o cansaço é nítido para todos”, disse.

Moretto também ressaltou o impacto do número crescente de mortes nos profissionais. “Sempre tenho medo de acharem que somos frios, que nos acostumamos, mas sofremos com cada perda. Alguns externam com o choro, outros não, mas todos são acometidos pela tristeza.”

Freire notou também uma mudança no perfil dos pacientes, com alta na internação de jovens e adultos sem comorbidades. Há alguns dias, ele atendeu uma menina de 14 anos que morreu depois de chegar ao hospital já com parada cardíaca, com suspeita de infecção pela Covid-19.

Um estudo da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) detectou que 70% das 254 amostras de testes de Covid-19 feitas durante um dia no Paraná são da variante brasileira do novo coronavírus, a P.1. O dado deixou o estado em segundo lugar, entre oito, com maior prevalência da mutação.

O diretor do departamento de urgências e emergências da prefeitura de Curitiba, Pedro Henrique de Almeida, acredita que, além da circulação da nova cepa, a diminuição da faixa etária de internamentos se deve também à vacinação da parcela mais velha da população.

“Outro possível fator tem ligação direta com a quantidade de pessoas infectadas nessa fase, que é muito alta, e está impactando também nos internamentos, já que sempre tivemos pessoas de outras idades nos hospitais, mas em menor número”, acrescentou.

O cenário alarmante fez com que a secretaria de Saúde de Curitiba reestruturasse toda rede de atendimento. As 42 Unidades Básicas de Saúde (UBS) foram fechadas e transformadas em pronto-atendimento, enquanto sete Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) passaram a funcionar como “mini hospitais” de retaguarda para internação de pacientes com Covid-19.

A mudança deve impactar a atenção a outras doenças, afirmou a secretária Márcia Huçulak. “O risco de contaminação é muito alto, então estamos clamando para que as pessoas não vão para as UPAs com sintomas leves ou outras doenças”, apelou aos curitibanos.

Moretto alertou ainda para outros problemas que vão além da falta de leitos. “Assim como os insumos são necessários à abertura de leitos, também são os profissionais. Pergunto: quem irá atender essas pessoas enfermas? Estamos exaustos, física e emocionalmente.”

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