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Óleo combustível fica mais caro que diesel e afeta cabotagem

A alta do preço do óleo combustível prejudica empresas de cabotagem, que têm no produto algo entre 40% a 60% de seus custos operacionais.

Óleo combustível fica mais caro que diesel e afeta cabotagem

"É bem raro [essa diferença de preços]. O óleo combustível é depreciado e costuma ser 20% mais barato, quando não é bem mais barato", afirma o químico industrial Marcelo Gauto, especialista em petróleo e gás. — Foto:Reprodução

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) — A Petrobras vem vendendo óleo diesel a preços menores do que o cobrado pelo óleo combustível (OC) e pelo asfalto, produtos menos nobres e que, por isso, tendem a ser mais baratos.

A alta do preço do óleo combustível prejudica empresas de cabotagem, que têm no produto algo entre 40% a 60% de seus custos operacionais.

O óleo combustível é usado pela indústria para aquecimento de caldeiras e fornos e para movimentar navios, mercado em que é chamado de bunker de navegação. Menos poluente, o produto brasileiro se valorizou após a imposição, no início do ano, de limites para a emissão de enxofre no transporte marítimo global.

O diretor-executivo da Abac (Associação Brasileira de Armadores de Cabotagem), Luis Resano, diz que o cenário preocupa o setor, já que a diferença de preços entre o óleo diesel e o bunker de navegação beneficia o transporte rodoviário de cargas.

Ele lembra, porém, que essa diferença já foi superior no início do ano, quando as novas regras contra poluição da IMO (sigla em inglês para Organização Marítima Internacional) entraram em vigor. Após um movimento de queda durante o período mais crítico da pandemia, porém, os valores voltaram a aumentar.

“Quando dá um salto nos preços, o bunker para gente fica entre 40% a 60% do nosso custo operacional e temos um grande concorrente, que é o caminhão, que não sofre essa variação, o governo segura o preço”, disse.

Ele afirma que as empresas do setor “ficaram desesperadas” quando as novas regras do enxofre entraram em vigor porque o preço do bunker disparou e chegou a US$ 600 a tonelada. Hoje, está em US$ 370, em alta nas últimas semanas depois de chegar perto de US$ 239 no meio do ano.

Atualmente, segundo tabelas de preços da Petrobras, a diferença de preços entre óleo combustível e diesel é percebida em diferentes partes do Brasil. Em novembro, em Betim (MG), por exemplo, o OC é vendido pela estatal a R$ 2,14 mil por metro cúbico, enquanto o diesel sai a R$ 1,92 mil por metro cúbico.

Em Manaus (AM), os dois produtos são vendidos, respectivamente, por R$ 2 mil e R$ 1,71 mil por metro cúbico. E em Fortaleza (CE), por R$ 1,95 mil e R$ 1,7 mil.

“É bem raro [essa diferença de preços]. O óleo combustível é depreciado e costuma ser 20% mais barato, quando não é bem mais barato”, afirma o químico industrial Marcelo Gauto, especialista em petróleo e gás.

O consultor Luiz Henrique Sanches diz que as restrições impostas pela IMO dobraram o preço do combustível de navios no mercado internacional. A Petrobras acompanhou o movimento e, mesmo com preços em alta, vem batendo recordes de exportação do produto.

“Hoje a Petrobras tem operação de venda até em Cingapura, porque vale a pena levar para lá. É igual a soja, se posso exportar por que vender aqui barato?”, questiona o consultor.
O petróleo do pré-sal tem percentual de enxofre abaixo dos novos limites antes da mudança e ganhou novo valor no mercado global. Além disso, após um ciclo de investimentos entre 2004 e 2014, as refinarias da estatal foram preparadas para produzir derivados mais nobres, com menos poluentes.

“Aconteceu uma valorização do óleo com baixo teor de enxofre, e nossos óleos nacionais favorecem que produza óleo combustível assim”, disse Marcelo Gauto.

Marcelo Gauto afirma que outro fator que influencia a diferença nos preços, em menor escala, é a depreciação do preço do diesel em razão do excesso de estoques gerado durante a pandemia.

“O mercado americano, que é nosso fornecedor, está disfuncional, acaba tendo excedente de diesel que pressiona os preços para baixo”, diz Gauto.

A Petrobras aponta o mesmo motivo para a queda no diesel. Segundo a empresa, o produto foi o que mais se desvalorizou frente ao petróleo no mercado internacional devido à redução do consumo e à desaceleração econômica.

“Vale lembrar que o diesel faz parte do grupamento de produtos destilados, que também inclui o querosene de aviação, fortemente impactados pelas restrições de circulação devido à Covid-19”, disse a Petrobras.

A petroleira entende que essa é uma situação pontual e tende a se ajustar conforme a economia global se recupere.

A empresa afirma ainda que os preços de diesel, óleo combustível e asfalto praticados seguem a dinâmica de commodities em economias abertas, onde há liberdade para importação e exportação, e têm como referência o preço de paridade de importação, formado pelo valor do produto no mercado internacional, acrescido dos custos para trazer o produto importado ao país.

“Essa metodologia acompanha os movimentos do mercado internacional, para cima e para baixo”, afirmou a empresa. Ela acrescentou que, apesar de seguirem a mesma lógica econômica, cada produto possui dinâmica própria de acordo com seu mercado consumidor.

Já Sanches afirma que o diesel que a Petrobras vende está com um preço mais elevado em comparação com o diesel marítimo e internacional, sem acompanhar a evolução do mercado exterior.

Com relação ao asfalto, os especialistas dizem que a diferença de preços é explicada pelas eleições municipais, já que a demanda pelo produto para pavimentação de ruas se aquece.

Em Duque de Caxias (RJ), por exemplo, enquanto o asfalto está R$ 2,19 mil por metro cúbico, o diesel chega a custar R$ 1,86 mil. Já em Paulínia (SP), a diferença de valores fica em R$ 2,43 mil e R$ 1,84 mil, respectivamente.

“É engraçado, todo ano eleitoral os prefeitos querem asfaltar tudo e a demanda cresce nesses anos, às vezes mais, às vezes menos. Esse ano não foi tanto por causa da pandemia, mas tem anos que explode”, disse o químico.

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