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Quadrilhas que limpam contas bancárias furtam celulares até dentro de shoppings

As instituições bancárias não aceitaram explicações e documentos apresentados e não querem ressarci-la. Dizem que não reconhecem a fraude porque foram usadas as senhas pessoais.

Quadrilhas que limpam contas bancárias furtam celulares até dentro de shoppings

Bancos afirmam que senha é responsabilidade do cliente. — Foto:Reprodução

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) — Depois de se conformar de ter sido furtada dentro de um shopping, a jornalista e empresária Fernanda Passos, 43, decidiu seguir as orientações dos especialistas: correu para uma loja para bloquear o chip do celular e, na sequência, foi à loja da Apple para trocar as senhas do iCloud, tudo na mesma noite.

“Você pode relaxar porque esse celular só vai servir para eles [ladrões] como peso de papel”, repete Fernanda o que ouviu do técnico da loja onde comprou novo celular, no Shopping Eldorado, na zona oeste da capital paulista, em maio deste ano.

Dias depois, porém, Fernanda descobriu que os criminosos tinham retirado R$ 45 mil de sua conta do Bradesco com o tal “peso de papel”.

“Conseguiram liberar um empréstimo na minha conta de R$ 52 mil com apenas um clique. Para você fazer um empréstimo, se bobear, pedem até exame de sangue”, afirmou à reportagem. “Parcelaram em 20 vezes de quase R$ 5.000, numa dívida total de R$ 94 mil. Mais o novo celular que comprei, são R$ 100 mil.”

Fernanda é mais uma das vítimas de uma modalidade criminosa cada vez mais comum em São Paulo: de criminosos que furtam ou roubam aparelhos celulares com o objetivo de invadir e limpar as contas bancárias das vítimas, conforme mostrou reportagem do jornal Folha de S.Paulo nesta segunda (14).

Além do transtorno de ter sido vítima desse crime, a empresária agora enfrenta uma nova luta, pois o banco não quer anular o empréstimo. Todo o seu histórico e os documentos juntados não foram suficientes para que o Bradesco admitisse a fraude. O banco quer obrigá-la a assumir a dívida.

A empresária não está só nessa luta.

A médica Suzana Carneiro Duque, 36, também teve seu iPhone XS furtado dentro de um shopping, dessa vez em Campinas. Assim como ocorreu com a empresária, correu para uma loja onde pediu para bloquear o chip do celular.

Na sequência, foi para casa e trocou a senha do iCloud. Na manhã seguinte, ligou para a Apple em buscar de eventuais medidas de segurança adicionais, mas foi tranquilizada pelo atendente.

Conheça algumas dicas para aumentar a segurança de seu smartphone. “Nem compre outro celular porque é muito comum que quem rouba um iPhone acaba descartando o aparelho porque o celular fica inútil, porque não vão conseguir acioná-lo”, diz Suzana sobre as orientações ouvidas do atendente.

Ela conseguiu um celular emprestado na esperança de o atendente estar certo, mas, quando o sistema operacional começou a atualizar, percebeu que as coisas não seriam bem assim. “Eu coloquei minha senha e o sistema não aceitou minha senha. Na hora me deu um frio na barriga”, disse.

Resumo: criminosos não só tomaram sua conta Apple como invadiram a conta do Santander e, de lá, transferiram cerca de R$ 20 mil para outra do Bradesco. E, do Bradesco, fizeram uma série de pequenas transferências para contas de terceiros.

“Foram várias TEDs. Não havia PIX na época. Se eu não fui a primeira, fui uma das primeiras vítimas desse golpe”, disse ela, que foi furtada em 7 de agosto do ano passado.

As instituições bancárias não aceitaram explicações e documentos apresentados e não querem ressarci-la. Dizem que não reconhecem a fraude porque foram usadas as senhas pessoais.

O músico Jorge de Godoy Monteiro, 30, foi furtado quando chegava em casa, na rua Frei Caneca, por volta das 13h do último 23 de maio. Ele tirou o celular do bolso por 20 segundos, conforme mostram as imagens da câmera de segurança do prédio, quando um rapaz de bicicleta passou e tomou o aparelho.

Era sua segunda semana com o celular, um iPhone 11. “Minha primeira preocupação foi bloquear as contas do banco. Não porque era uma coisa que estava sabendo, mas por ser uma coisa que sempre tive preocupação”, diz Jorge, que chora ao lembrar do crime.

De acordo com o músico, os atendimentos dos bancos Santander e Inter demoraram tanto que, quando conseguiu bloquear as contas, o estrago já estava feito. Os criminosos fizeram um empréstimo de R$ 51 mil e transferiram os valores para outra conta de Jorge; de lá, conseguiram movimentar R$ 15 mil para contas ligadas à quadrilha.

Assim como ocorreu com Fernanda e Suzana, os bancos também não reconhecem o golpe. Ele conseguiu anular o financiamento, mas não obteve ressarcimento dos R$ 15 mil.

“A funcionária do banco me disse: ‘O que consegui com meu gerente [do Santander] e com a regional é que você assuma essa dívida e, aí, a gente faz uma negociação para jogar essa primeira parcela para daqui a um mês e meio. Para ver se você consegue resolver no Inter nesse mês e meio”, disse.

Bancos afirmam que senha é responsabilidade do cliente. Procurado, o Santander informou que seu aplicativo é totalmente seguro. “Toda transação realizada necessita de uma senha de uso pessoal e intrasferível, não sendo possível a realização de qualquer transação sem a validação da senha. Além disso, não há registro de violação aos protocolos de segurança do aplicativo.”

O banco informou ainda que orienta seus clientes a proteger as senhas para que não ocorra o uso indevido e gere prejuízos financeiros. “As senhas do aplicativo não devem ser cadastradas de forma sequencial, repetidas em outros cadastros. E jamais devem ser salvas em blocos de notas, compartilhadas por WhatsApp e email, por exemplo. Essas práticas fragilizam a segurança.”

Com relação aos casos específicos desta reportagem, o Santander informou que a “transferência de valores via aplicativo ocorreu para o mesmo nome e CPF do cliente titular da conta em outra instituição financeira, o que, por si só, demonstra que nessa situação, mesmo na hipótese de a transação não ter sido feita pelo cliente, não houve prejuízo, porque foi o próprio cliente o receptor e beneficiário dos valores transferidos”.

Já o Bradesco não comentou os casos específicos. Apenas repetiu nota enviada anteriormente, na qual afirma que o aplicativo é seguro, que não conhece registro de violação dessa segurança e que a senha pessoal é necessária para acessá-lo.

O Banco Inter não respondeu aos questionamentos enviados na tarde desta terça (15).

O Shopping Eldorado informou que investe em treinamentos e na revisão de suas políticas internas para garantir a proteção e a preservação de todos que frequentam o local.

“O empreendimento reforça ainda que todas as ocorrências registradas em suas dependências são tratadas em conjunto com a Polícia Militar e Civil e ressalta que o monitoramento do interior das operações é de responsabilidade das marcas, que contam com o suporte da equipe de segurança na atuação e interface com os órgãos competentes”, disse em nota.

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