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Volkswagen anuncia novo modelo no Brasil, mas sem investimento novo nem vagas de emprego

Na manhã desta quinta, Doria disse esperar investimento de ao menos R$ 1 bilhão, com a criação de pelo menos 2.000 empregos, entre diretos e indiretos.

Volkswagen anuncia novo modelo no Brasil, mas sem investimento novo nem vagas de emprego

À tarde, em Wolfsburg, no entanto, a Volkswagen anunciou apenas a "aceleração" de parte dos investimentos já previstos, em 2016, para o quinquênio. — Foto:Reprodução

WOLFSBURG, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – O governador de São Paulo, João Doria, viu frustrada nesta quinta-feira (29) a expectativa de um anúncio de novos investimentos e vagas de empresas no estado de São Paulo.

Na manhã desta quinta, Doria disse esperar investimento de ao menos R$ 1 bilhão, com a criação de pelo menos 2.000 empregos, entre diretos e indiretos.

À tarde, em Wolfsburg, no entanto, a Volkswagen anunciou apenas a “aceleração” de parte dos investimentos já previstos, em 2016, para o quinquênio.

Dos R$ 7 bilhões projetados há 3 anos, serão destinados no ano que vem R$ 2,4 bilhões para as unidades de São Bernardo do Campo e de São Carlos.

A maior parte irá para a unidade de São Bernardo, que deve produzir um novo carro, com lançamento é previsto para o próximo ano.

Não foram anunciadas novas vagas de emprego pela montadora. Segundo a Volks, para reforçar o desenvolvimento de novos produtos foram contratados 100 pessoas. No total, incluindo as linhas de montagem, houve 500 novas vagas a partir de 2018.

O governador afirmou que o investimento vai criar cerca de 1.500 em toda a cadeia produtiva. Segundo ele, a montadora ainda tem novos planos para o estado. “Como o setor é muito competitivo, a divulgação precisa ser cuidadosa.”

A novidade do anúncio desta quinta foi o novo carro, 100% desenvolvido no Brasil. Pela primeira vez na história da montadora no país, um carro com desenvolvimento nacional será fabricado também na Europa, em Pamplona (Espanha).

O veículo, um modelo compacto que recebeu o apelido de “New Urban Coupé”, foi anunciado pelo chefe de produção global da Volkswagen, Ralf Brandstatter, e pelo CEO da Volkswagen na América Latina, Pablo di Si, na sede internacional do grupo, em Wolfsburg (Allemanha).

Em ambos os discursos, os dois falaram em “reforçar” a disposição de investir.
Di Si afirmou que investimentos olham o médio e o longo prazo e são reavaliados a todo momento, principalmente numa região em que a volatilidade econômica é alta.

“Com todas as dificuldades que temos, reafirmarmos e confirmarmos o investimento não é pouca coisa.”

Brandstatter também falou em parceria de longo prazo com o país e disse que pretende investir “durante vários ciclos de produção no futuro”.

O secretário de Fazenda e Desenvolvimento, Henrique Meirelles, afirmou que o anúncio marcou uma nova fase para a história brasileira: “São Paulo se consolida como um centro formal de desenvolvimento tecnológico, com pesquisas e desenho de novos produtos”.

Segundo o secretário, essa iniciativa pode elevar a qualificação dos empregos e os salários. “Não basta só ter mais emprego, é preciso ter uma melhoria de patamar.”
Outro fator relevante, segundo ele, é a formação de confiança. “O investimento depende de reformas, que começaram a ser feitas no governo anterior” (do qual Meirelles foi Ministro da Fazenda).

Mas, principalmente, segundo ele, “a demonstração de decisões rápidas e com segurança para o futuro”, como as demonstradas pelo governador João Doria.
Sem novos investimentos ou vagas de emprego, a montadora pode não se qualificar para o programa IncentivAuto, lançado pelo governo João Doria (PSDB-SP) em março, como reação à ameaça da GM de encerrar suas operações em São José dos Campos e em São Caetano e transferir a produção para outro país.

O programa do governo paulista dá descontos progressivos no ICMS a investimentos novos, que superarem R$ 1 bilhão e gerarem ao menos 400 empregos. Segundo o secretário estadual da Fazenda e do Planejamento, Henrique Meirelles, o abatimento vai de 2,7% a 25% (para investimentos acima de R$ 10 bilhões.

Doria, no entanto, mencionou o programa de incentivos em seu discurso na sede da Volks, com a possibilidade de novos anúncios por parte da montadora. Segundo ele, não se trata de guerra fiscal, uma vez que o estado não compete com outras unidades federativas do Brasil e, sim, com o mundo.

O governador também disse que está implantando nas escolas técnicas e faculdades técnicas estaduais o modelo alemão, no qual há conexão entre as necessidades concretas da indústria e a formação da mão de obra.

Desde que o IncentivAuto foi anunciado, a Volks já é a terceira empresa a divulgar investimentos no Estado, e espera-se movimento semelhante da Toyota.

A própria GM prometeu R$ 10 bilhões até 2024 nas fábricas de São José dos Campos (interior de São Paulo) e de São Caetano do Sul (Grande SP), em novos produtos e tecnologia.

Em maio, a Scania anunciou R$ 1,4 bilhão na modernização da fábrica de caminhões de São Bernardo do Campo (SP) para o período de 2021 a 2024 e na atualização de tecnologias e projetos relacionados a combustíveis alternativos.

O governo também estuda uma forma de usar o IncentivAuto em outra crise do setor automobilística, o fechamento neste ano da unidade de São Bernardo do Campo da Ford, que fabrica o Fiesta e, majoritariamente, caminhões.

A decisão foi tomada em fevereiro pela companhia americana, que pretende deixar de produzir os veículos de carga. A unidade 3.000 trabalhadores diretos e 1.500 terceirizados.

A solução negociada por Doria passa pela venda da unidade a outra empresa automobilística, mas a operação tem esbarrado na indefinição sobre incentivos tributários nesse caso.

Doria preferiu não falar da Ford durante o evento na montadora concorrente.
Representantes da Caoa, que pertence ao empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade, estiveram em abril na Secretaria de Fazenda e Planejamento paulista, pedindo descontos tributários em troca de preservar os empregos.

Meirelles, porém, que tem negado em entrevistas e artigo na Folha que o IncentivAuto seja guerra fiscal, quer que o programa seja aprovado apenas para novos investimentos.

Apesar do programa de incentivos, porém, presidentes de montadoras disseram em evento recente do setor que o Brasil é hoje pouco atrativo para as matrizes, por não acompanhar tendências tecnológicas como veículos autônomos, eletrificados ou compartilhados, que requerem investimento alto das corporações.

O presidente da Mercedes-Benz do Brasil, Philipp Schiemer, chegou a afirmar que o dinheiro está escasso e só será investido em países competitivos.

“O Brasil está perdendo o trem do futuro e isso me preocupa.”

A falta de atratividade do Brasil passa também por incerteza política, econômica e jurídica, além dos tradicionais custos tributários, trabalhista e burocrático.

Em julho, a exportação de veículos brasileiros teve um respiro em julho com vendas para a Colômbia e o México, segundo a Anfavea (associação das montadoras).

O resultado, porém, não compensou a queda provocada pela crise na Argentina, que deve se agravar com a renegociação de dívida anunciada ontem, segundo analistas do setor automotivo.

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