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Índios faltam às provas da UnB

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Apesar da iniciativa inédita de aplicar as provas do vestibular em nove cidades do país, quase a metade dos índios inscritos no processo seletivo direcionado a eles não apareceu. De acordo com Universidade de Brasília (UnB), a primeira instituição a realizar um vestibular para indígenas, o índice de abstenção chegou a 49,45%. Dos 1.183 candidatos que se inscreveram, 585 não fizeram as provas, realizadas na tarde de ontem. Em Brasília, um dos nove pontos de aplicação dos testes, o índice foi 33,33%. Os 598 indígenas que fizeram as provas saberão o resultado no dia 5 de abril. A matrícula está marcada para o dia 12, e as aulas começam no dia 17.

A coordenadora de apoio pedagógico da Fundação Nacional do Índio (Funai) diz que não faltou transporte para que os índios fossem levados aos locais das provas. “O que pode ter ocorrido é que não conseguiram um meio de condução para chegar aos pontos de embarque dos ônibus fornecidos pela Funai”, supõe Neide Martins Siqueira. Ela suspeita ainda que muitos candidatos preferiram concorrer à vagas oferecidas em universidades mais próximas das aldeias. “Foi o que aconteceu com os índios Baikairi, do Mato Grosso, que preferiram os cursos de licenciatura das faculdades do estado”, aponta.

“Depende também do interesse. Índios de São Félix do Araguaia, a 800 km de Brasília, vieram fazer a prova. E lá o acesso é difícil. Só se chega à aldeia de barco”, comenta Neide. Ela informa que checará os reais motivos do alto índice de abstenção a partir de hoje. O Centro de Seleção e de Promoção de Eventos (Cespe/UnB) só comentará as ausências depois de receber as informações da Funai.

Os índios disputam dez vagas, distribuídas em cinco cursos na área de Saúde: Ciências Biológicas, Ciências Farmacêuticas, Enfermagem e Obstetrícia, Medicina e Nutrição. As provas foram realizadas em Belém (PA), Boa Vista (RO), Brasília (DF), Campo Grande (MS), Manaus (AM), Porto Seguro (BA), Recife (PE), São Gabriel da Cachoeira (AM), cidade com o maior número de inscritos (390) e Tabatinga (AM). Em Brasília, apenas 30 dos 45 inscritos fizeram os testes. As provas foram de Redação, Matemática e Língua Portuguesa.

Isabel Tucano, 25 anos, se prepara desde o ano passado para a prova. A índia da tribo Tucano da cidade de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, disputa uma vaga em Medicina. “É um sonho que alimento desde a infância. Já vi vários índios e até parentes morrer pela falta de médicos”, conta a jovem, que pretende trabalhar nas regiões ribeirinhas e pobres da Amazônia. De acordo com a Funai, neste primeiro vestibular foram escolhidos cursos na área de Saúde porque era principal demanda. “Os vestibulandos querem atuar na área de saúde para conquistar autonomia”, comenta Neide Siqueira.

O vestibular é resultado de um convênio entre a UnB e a Funai, firmado em março de 2004. Faz parte do Plano de Metas para a Integração Social, Étnica e Racial da UnB. A instituição fica responsável pelas vagas – que podem chegar a 20 por ano – e o apoio acadêmico. Já a Funai indica os cursos de interesse dos indígenas, encaminha os candidatos e presta auxílio durante os estudos em Brasília, com moradia e bolsa no valor de R$ 260. As vagas oferecidas não fazem parte da oferta dos vestibulares e do Programa de Avaliação Seriada (PAS).

Apesar de as disciplinas serem as mesmas estudadas pelos alunos de outros vestibulares, os índios receberão tratamento diferenciado. Eles contarão com acompanhamento psicopedagógico do Serviço de Orientação ao Universitário. “Eles têm dificuldades por conta da língua. Ajudaremos no que for possível para que se formem. Trata-se de um programa de integração. É um vestibular diferenciado”, explica Paulo Portela, gerente de acesso à Educação Superior do Cespe.

[Correio Braziliense]

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