As preocupações com a desaceleração da maior economia do mundo fizeram com que os principais índices acionários encerrassem o primeiro semestre com fortes quedas. O S&P 500, da Bolsa de Nova York, sofreu um tombo de 20,58% — o pior resultado para o período desde 1970, quando desabou 21%. Com isso, mais de US$ 9 trilhões evaporaram do mercado americano.
Ainda em Nova York, o Dow Jones perdeu 15,31% no semestre, enquanto a Bolsa eletrônica Nasdaq teve queda de 29,51%.
Na Europa, o cenário não foi diferente. Segundo a agência Bloomberg, foi o pior semestre de fechamento para as Bolsas europeias desde a crise financeira global, em 2008. O Stoxx Europe 600, que reúne ações de diferentes países europeus, já perde no ano 17%.
O governo americano informou que os gastos dos consumidores — que representam cerca de dois terços da economia — caíram em maio, pela primeira vez no ano. O recuo foi de 0,4%.
— Quando a demanda não é o principal fator por trás da inflação, a desaceleração da economia não vai ajudar a baixar os índices de preços, como muitos especialistas imaginam — disse à Bloomberg Matt Maley, estrategista-chefe de mercado da gestora Miller Tabak.
Risco de recessão nos EUA
— O que puxa esse sentimento negativo é, principalmente, a recessão nos Estados Unidos. Está claro que existe um risco muito maior e um desafio muito maior para o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) em relação a isso — afirma a analista-chefe do Banco Inter, Gabriela Joubert.
Desde o primeiro trimestre, diversos BCs de economias desenvolvidas vêm promovendo aumentos de juros. Na tentativa de enfrentar a maior inflação em quatro décadas, o Fed já promoveu três aumentos consecutivos de sua taxa básica, hoje no intervalo entre 1,50% e 1,75%.
O Banco Centro Europeu (BCE), que costuma ter uma postura mais favorável à manutenção de estímulos, já sinalizou que vai subir os juros este mês.
— Lá fora, os Estados Unidos têm um índice com peso muito grande em tecnologia. Eles são mais sensíveis com a subida de juros. E a Europa é mais exposta ao conflito entre Rússia e Ucrânia, além de ter uma economia mais fragilizada por causa disso. De uns meses para cá, os mercados começaram a precificar esses riscos de recessão — ressalta a estrategista de ações a XP, Jennie Li.
Dólar sobre 10% em junho
“O cenário externo desanimador levou o Ibovespa a encerrar o semestre em queda de 5,99%. O mês de junho teve o maior peso, com um tombo de 11,5%, refletindo o recente imbróglio fiscal.”
Em dólares, no entanto, o Ibovespa tem leve alta de 0,15% no ano.
O dólar, por sua vez, também teve suas perdas ante o real limitadas nos últimos meses. Em junho, registrou alta de 10,13%, maior elevação desde março de 2020.
“Ainda assim, a divisa encerrou o semestre com queda de 6,14%, a maior desde 2016 para o período. O real foi beneficiado pelo patamar elevado de commodities importantes, devido à guerra na Ucrânia, e pelo diferencial de juros ainda alto em relação ao praticado no exterior.
“Para o segundo semestre, os analistas observam que será preciso acompanhar atentamente as consequências do aperto monetário do Fed na economia e a forma como a China atuará para atingir as metas de crescimento.”
— Mais do que esse ciclo de aperto (nos EUA), que já está dado, é o quanto essa elevação de juros vai gerar de desaceleração ou possível recessão — diz Gabriela.
(*Com Bloomberg News)