O dólar disparou nesta segunda-feira (9) e marcou novo recorde de fechamento nominal (sem considerar a inflação), em dia de tensão com o tombo nos preços do petróleo e pelo avanço do coronavírus. O Banco Central reforçou a atuação no mercado de câmbio, mas não conseguiu evitar a alta da moeda norte-americana.
A moeda norte-americana subiu 2,03%, a R$ 4,7282. Na máxima, chegou a R$ 4,7921. Veja mais cotações. Foi a maior alta desde 6 de novembro do ano passado.
Neste ano, o dólar já acumula alta de 17,92%.
“O mundo está de pernas para o ar”, disse à Reuters Ricardo Gomes da Silva, superintendente da Correparti Corretora. “O movimento do real acompanha o exterior em meio a uma crise de confiança generalizada.”
No mercado de ações, o dia também foi de nervosismo. O Ibovespa recuava mais de 10%.
Na sexta-feira, a moeda teve um pequeno alívio após 12 altas seguidas, e fechou em queda de 0,36%.
Tombo nos preços do petróleo
Os preços dos contratos do petróleo recuaram cerca de 25% nesta segunda-feira, depois que a Arábia Saudita cortou o valor de venda do barril e indicou o início de uma guerra de preços entre os grandes produtores. Na abertura dos negócios no mercado asiático, ainda no noite de domingo (horário de Brasília), o preço do petróleo do tipo Brent chegou recuou 31%, no maior tombo desde a Guerra do Golfo (1990 e 1991).
A decisão da Arábia Saudita vem na esteira do fracasso das negociações entre a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e a Rússia sobre o volume da produção da commodity. A Rússia se opôs ao corte de produção sugeridos pela Opep para estabilizar os preços do petróleo em meio à epidemia de coronavírus, que desacelera a economia global e afeta a demanda por energia.
“O avanço do coronavírus trouxe pânico para o mercado de petróleo”, diz o sócio fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires. “O preço do petróleo nesse patamar deve provocar um estrago nas economias. O tamanho desse estrago vai depender de por quanto tempo os preços ficarão nesse patamar.”
Ação do BC
O Banco Central realizou nesta segunda-feira leilão de venda à vista de até US$ 3 bilhões, cancelando o anúncio de venda de até US$ 1 bilhão feito na sexta-feira. A decisão pelo aumento do volume leiloado se deu por “condições do mercado”, de acordo com a assessoria de imprensa do BC.
O BC decidiu ampliar o uso das ferramentas de intervenção no mercado de câmbio, após a venda de US$ 5 bilhões em swaps cambiais não ter impedido o dólar de bater recordes seguidos em meio à crescente desconfiança do mercado com a postura da autoridade monetária diante da pressão cambial.
“Este movimento turbulento, influenciado principalmente pelo avanço do coronavírus, tende a regredir com o tempo e com a chegada da primavera no hemisfério norte, alcançando uma cotação em um patamar mais aceitável, em torno de R$ 4,10 — tendo como base os fundamentos da nossa economia, aliados a uma previsão de crescimento menor do que o esperado”, afirmou o chefe da mesa de câmbio da Frente Corretora, Fabrizio Velloni.
Às 15h21, o BC anunciou um segundo leilão de dólar à vista, depois que a moeda norte-americana acelerou a alta e chegou a R$ 4,7801. Na segunda oferta, o BC não limitou a oferta, determinando apenas um valor de US$ 1 milhão como lote mínimo.
Desde 20 de dezembro do ano passado o BC não realizava esse tipo de operação – retomada em agosto de 2019 e que há uma década não era utilizada.
Em São Paulo, mais cedo nesta segunda-feira, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, afirmou que, desde o início das preocupações com o avanço do coronavírus, o real mostrou tendência de alta acelerada, semelhante a períodos de crise aguda e que, por isso, a instituição “diagnosticou as condições necessárias para atuação”.
Serra acrescentou que “as intervenções têm sido pontuais, respondendo a eventos e disfuncionalidades específicas, mas podem durar o tempo que for necessário para o retorno do regular funcionamento do mercado de câmbio”.