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O escândalo que abalou a Siemens

A mais tradicional multinacional alemã foi acusada de distribuir subornos milionários, assumiu sua culpa e irá pagar a maior multa da história.

Em uma cena de Syriana, filme que retrata a corrupção na indústria petrolífera, um dos diretores envolvidos com a distribuição de subornos defende a prática da seguinte forma: “A corrupção não é nada mais que a intrusão do governo nas eficiências do mercado. Temos leis contra ela exatamente para podermos nos safar. A corrupção é como nós vencemos.” Pois a mesma resposta poderia facilmente GUSTAVO GANTOIS ter saído da boca de Reinhard Siekaczek, ex-diretor de telecomunicações da multinacional alemã Siemens. 

PETER LÖSCHER, O CEO: presidente da empresa disse que a Siemens não irá mais tolerar a prática de ações ilegais e antiéticas na disputa por grandes contratos nos setores de energia e telefonia, como fazia no passado.
Perante um tribunal de Munique, o ex-executivo confessou que “comprou” funcionários dos governos da Nigéria, da Líbia e da Rússia, distribuindo cerca de € 420 milhões. 

ATÉ 1999, AS FIRMAS GERMÂNICAS PODIAM DEDUZIR A CORRUPÇÃO DO IMPOSTO DE RENDA 

Siemens, por conta disso, foi multada em € 201 milhões. “Não toleramos comportamentos ilegais e repreendemos atos ilícitos com atitudes claras”, disse o presidente do grupo, Peter Löscher. A comoção, porém, deve ser ainda maior. Siekaczek disse aos promotores que cuidam do caso que sabe de propinas pagas em mais países além dos três. E o Brasil seria um deles. A suspeita de que uma empresa que faturou R$ 27 bilhões nos últimos cinco anos no País possa ter aberto parte deste caixa para distribuir dinheiro a políticos causou transtorno em Brasília. A Secretaria de Direito Econômico e o Conselho de Controle de Atividades Financeiras já receberam instruções para monitorar a movimentação da Siemens do Brasil na última década. Procurada, a empresa não retornou os pedidos de entrevista da DINHEIRO. 

420 MILHÕES é quanto a Siemens teria pago em propinas nos quatro cantos do mundo 

A máquina de pagamentos da Siemens, no entanto, mostra-se bem maior. O escritório de advocacia Debevoise & Plimpton, contratado para fazer uma investigação independente, comunicou à empresa que foram feitos pagamentos irregulares em torno de € 1,6 bilhão. Em função da suspeita de outros países estarem envolvidos na corrupção, foram iniciadas investigações também na Suíça e nos Estados Unidos. Com a imagem do grupo arranhada no exterior, a Siemens tenta se reerguer. Depois do ex-presidente Heinrich von Pierer, também seu sucessor Klaus Kleinfeld teve de deixar o cargo em função das suspeitas. O austríaco Peter Löscher é o primeiro CEO que não vem diretamente dos quadros da empresa. E uma de suas primeiras ações foi criar um cargo na presidência para o combate à corrupção. A questão maior, no entanto, é que o episódio expôs as vísceras de um sistema que era considerado legal. Até 1999, as empresas alemãs podiam descontar dos impostos federais pagamentos de propinas. A situação só mudou quando a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico lançou uma convenção internacional contra as empresas corruptoras.

HOJE, ELAS SÃO FORÇADAS, DIANTE DOS TRIBUNAIS, A ASSUMIR OS ERROS 

A menção de Siekaczek ao Brasil não é bem uma novidade. Freqüentemente o País é apontado como um dos lugares onde multinacionais são levadas a cometer ilegalidades para vencer contratos. O presidente do grupo sobre corrupção da OCDE, o suíço Mark Pieth, é um dos poucos que revelam bastidores sobre a prática. Ele comenta o caso de uma grande companhia que teria pago milhões de dólares a um alto funcionário brasileiro para vender turbinas elétricas destinadas a uma barragem construída por um governo estadual. “Isso é uma prática recorrente que tem apoio não só dos governos como das empresas corruptoras”, disse Pieth à DINHEIRO. Há dois meses, a Transparência Internacional divulgou um relatório sobre a relação espúria entre governos e multinacionais. Para o órgão, os conglomerados são responsáveis pelos altos índices de corrupção nos países mais pobres. “O dinheiro de propinas vem de multinacionais sediadas nos países mais ricos”, vaticinou à DINHEIRO Akere Muna, vice-presidente da TI. “Não pode mais ser aceitável que essas companhias vejam o suborno nos mercados de exportação como uma estratégia empresarial legítima.” 

Fonte: ISTOÉ

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