Ataque russo

Barrados na fronteira da Ucrânia com a Polônia, brasileiros buscam alternativas para fugir

Os jogadores Edson Fernando e Talles Brener e a namorada de Talles, Jessika Ariani, estavam desde a quinta-feira (24) em um posto fronteiriço tentando passar para a Polônia, sem sucesso.

Barrados na fronteira da Ucrânia com a Polônia, brasileiros buscam alternativas para fugir

Segundo Jessika, os militares ucranianos deixam passar mulheres e crianças, mas não estão autorizando homens, mesmo estrangeiros, a atravessar. Há relatos de que motoristas de ônibus e alguns lojistas não aceitam clientes de fora, só ucranianos. — Foto:Pixabay

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Exaustos após quatro dias sem dormir nem tomar banho, um grupo de três brasileiros percorria a fronteira oeste da Ucrânia na noite deste domingo (27), tentando achar uma saída.

Os jogadores de futebol Edson Fernando e Talles Brener e a namorada de Talles, Jessika Ariani, estavam desde a quinta-feira (24) em um posto fronteiriço tentando passar para a Polônia, sem sucesso.

“O frio era tanto que nossa boca está toda cortada, as mãos queimadas. Ficamos 24 horas na fila, sem dormir. Está sendo horrível”, diz Jéssika, 28.

Eles levaram 16 horas para percorrer em uma van os 80 quilômetros da cidade de Lviv até a fronteira. Deixados pelo motorista, que por ser ucraniano não poderia atravessar, eles tentaram carona na fila de carros, mas ninguém os ajudou. “Chegamos a oferecer US$ 300 para andar 2 km, mas ninguém nem abria o vidro para a gente. Fomos entrando em desespero.”

Segundo Jessika, os militares ucranianos deixam passar mulheres e crianças, mas não estão autorizando homens, mesmo estrangeiros, a atravessar. Há relatos de que motoristas de ônibus e alguns lojistas não aceitam clientes de fora, só ucranianos.

O grupo foi socorrido por outra brasileira, Clara Magalhães, que veio da Alemanha de carro para ajudar refugiados na região. Depois de dois dias de tentativas, ela conseguiu atravessar para o lado ucraniano, com uma bandeira do Brasil no veículo lotado de doações. Além dos três brasileiros, que ela não conhecia antes, deu carona para um ucraniano e um nigeriano que encontrou pelo caminho.

“A fronteira está um caos. Os militares estão agressivos, impacientes, usam cassetetes, armas com balas de borracha. O pessoal está sem água, com fome, com frio”, descreve a brasileira. “Se continuar assim, eles vão acabar derrubando as grades e invadindo.”

Clara dirigiu até a Eslováquia, mas a fila de carros chegava a 50 quilômetros. O grupo passou por seis pontos de fronteira até chegar à Hungria, onde esperavam conseguir passar enquanto conversavam com a reportagem.

O Itamaraty informou que até a noite de domingo cerca de 80 brasileiros conseguiram sair da Ucrânia pelas fronteiras com o apoio da embaixada, e outros cem que estão no cadastro da representação diplomática ainda tentam deixar o país. A comunidade brasileira na Ucrânia é estimada em 500 pessoas.

“Nos primeiros dias, ante a falta de condições de segurança, estamos implementando a evacuação segura e ordenada”, diz a nota.

Até agora, os esforços têm se concentrado principalmente na fronteira da Romênia. O presidente Jair Bolsonaro (PL) informou nas redes sociais que 39 pessoas -37 brasileiros e dois uruguaios- chegaram a Bucareste após deixar Kiev. Entre elas, estão os jogadores do Shakhtar Donestky, time da primeira divisão, e seus familiares.

“A Embaixada estabeleceu um posto avançado na fronteira com a Moldova (caminho entre Kiev e Romênia) para recepcionar os brasileiros que por ventura cheguem desgarrados por aquela região fronteiriça”, escreveu.

Bolsonaro afirmou ainda que duas aeronaves da Força Aérea Brasileira poderão transportar os que quiserem voltar ao Brasil.

Neste domingo, a embaixada na Ucrânia divulgou em um comunicado que não aconselha tentar passar a pé ou de carro pelos postos de fronteira entre Lviv e a Polônia. No sábado, eles haviam anunciado que receberam “inúmeros relatos de enormes aglomerações, atrasos que chegam a durar dias, comportamento agressivo, falta de hospedagem e necessidades básicas” no local.

Mas os brasileiros que já estão lá se dizem desassistidos pelas embaixadas na Ucrânia e na Polônia. Em vídeos postados nas redes sociais e na conversa com a reportagem, eles afirmam que não conseguem contato com a embaixada em Kiev, e que a representação brasileira na Polônia tem respondido que nada pode fazer por quem está do outro lado.

Questionado pela reportagem, o ministério afirma que vai enviar uma missão com oito funcionários à Polônia para ajudar os brasileiros.

Uma das situações mais críticas em Lviv é dos jogadores Guilherme Smith, Cristian Dal Bello e Juninho Reis, além da esposa dele, Vitória Magalhães, e do filho de três anos.

Depois de caminharem mais de 30 quilômetros , eles foram barrados na saída da Ucrânia. “Os guardas começaram a empurrá-los, empurraram até minha sobrinha com a criança. Nem abriram o passaporte, não quiseram saber”, diz Águida Magalhães, tia de Vitória.

No caminho, Guilherme feriu o pé e Vitória queimou a perna em uma fogueira que o grupo fez para se aquecer.

Eles acabaram voltando a Lviv, onde receberam atendimento médico e aguardam uma solução. “Não tem como voltar para trás, não tem como ir para a frente”, disse Vitória, em um vídeo. “Precisamos de ajuda para sair daqui.”

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