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Hoje mito enfraquecido, Fidel Castro completa 90 anos

Apesar de ainda influenciar governos no mundo, ex-presidente cubano vê prestígio diminuir

Hoje mito enfraquecido, Fidel Castro completa 90 anos

Fidel castro completa 90 anos hoje (13) — Foto:Divulgação

O punho cerrado contra os ianques, o uniforme e os discursos envolventes — que chegavam a durar mais de sete horas — deram lugar a uma figura aparentemente frágil, que trocou o estilo militar pelo esportivo e prefere, nos últimos anos, o quase anonimato. Em uma de suas últimas (e raras) aparições, em abril, num certo tom de despedida, o pai da Revolução Cubana lembrou que “brevemente acabaria como todos os outros”, mas pediu que seus ideais comunistas persistissem. Hoje, em seu aniversário de 90 anos, Fidel Castro continua sendo uma das personalidades políticas mais importantes do mundo e, a despeito das mudanças recentes empreendidas por seu sucessor, o irmão mais novo, Raúl Castro, de 85, mantém-se fiel às críticas ao “imperialismo americano”. Internamente, no entanto, seu poder de influência já não tem a mesma força. Analistas avaliam que apenas uma pequena geração de cubanos, aqueles com mais de 70 anos, mantém a visão positiva sobre o líder.

— No campo simbólico, uma grande parte da esquerda mundial ainda o valoriza como um símbolo da rebeldia. Dentro deste setor, Fidel tem um peso importante, principalmente na América Latina — afirma Marlene Azor Hernández, socióloga cubana que hoje vive no México. — Mas entre outros setores profissionais e intelectuais, sua importância diminuiu extraordinariamente nos últimos anos.

Internamente, é mais difícil precisar o nível de apego à sua figura. Nas ruas, principalmente em áreas rurais, seus aniversários eram celebrados com grandes festas, distribuição de bolo e cartazes com a foto “do comandante” — Birán, cidade onde nasceu, espera receber hoje dois mil visitantes. Mas as cerimônias são cada vez mais raras em grandes centros, como Havana. Para a historiadora cubana Regina Coyula — que trabalhou no departamento de Contra-Inteligência do Ministério do Interior — os cubanos têm uma visão paradoxal de Fidel.

— Ele ainda é uma referência e um líder para muitas pessoas, mas os mais jovens estão interessados em problemas mais imediatos e práticos, como a maioria dos jovens de qualquer parte do mundo.

Como 80% da população nasceram depois do triunfo da revolução, Fidel não encarna mais nenhum sonho do cubano médio, explica Marlene.

Fidel saiu de cena oficialmente em julho de 2006, quando uma crise de saúde — até hoje mal explicada — o obrigou a delegar o poder ao irmão, número dois do regime e ministro das Forças Armadas desde 1959. Ao longo da última década, Raúl fez mudanças substanciais que culminaram com a reaproximação com os EUA, iniciada em dezembro de 2014, após meio século de enfrentamento.

Nos setores econômico e turístico muita coisa também mudou. No último ano, milhares de americanos pisaram pela primeira vez na ilha, que bateu recorde de visitantes: foram 3,5 milhões de turistas, além de um desfile da marca francesa de luxo Chanel e um show histórico dos roqueiros britânicos Rolling Stones. As diferenças entre Fidel e Raúl são claras: enquanto o primeiro mostra-se mais ideológico, o segundo é mais pragmático.

— Fidel é carismático e sempre soube usar a palavra a seu favor. Raúl, pelo contrário, não é afeito a microfones. Ao meu ver, no entanto, tem feito mudanças mais positivas — destaca Regina.

REPRESSÃO POLÍTICA AUMENTOU

Muito se especula sobre se tais mudanças teriam sido colocadas em prática caso Fidel estivesse até hoje no poder. Para alguns, as mudanças seriam impensáveis; para outros, eram inevitáveis.

— Hoje, o Estado reconhece que é ineficiente para suprir o mínimo à população, mas Fidel não teria dado nem esses primeiros passos. Não porque Raúl tenha um pensamento mais avançado, mas por seu pragmatismo — acredita Marlene.

Luis René Fernández, do Centro de Estudos sobre os EUA da Universidade de Havana, no entanto, lembra que Fidel fez várias tentativas de aproximação desde o primeiro ano no poder.

— Não é verdade que as negociações com os EUA aconteceram por causa da saída de Fidel. A percepção dos próprios analistas americanos é de que a política de sanções tinha um alto custo para as relações dos EUA com a América Latina e o Caribe. Também contribuiu a rejeição da maioria dos cidadãos americanos à política de isolamento.

Mas, se economicamente algumas modificações vêm acontecendo a passos lentos, em alguns setores pouco ou nada mudou: a imprensa continua controlada pelo governo, dissidentes são perseguidos e não se esperam aberturas políticas. Segundo a Comissão Cubana dos Direitos Humanos e Reconciliação Nacional (CCDHRN), nos primeiros cinco meses do ano, foram realizadas 6.075 detenções, aumento significativo em relação a 2015.

— A situação é pior que há cinco ou dez anos. O descontentamento popular vem piorando, e o governo responde com repressão. Opositores podem viajar, mas alguns são intimidados quando voltam ao país — denuncia Elizardo Sanchéz, presidente da CCDHRN, afirmando que, mesmo longe do poder, Fidel continua mandando. — Nada importante se faz sem que ele aprove previamente. No mais, Raúl e Fidel são duas caras da mesma moeda.

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