Turismo

Principais cidades turísticas do Brasil têm 42% das praias poluídas

Nadar em áreas impróprias pode causar problemas de saúde, sobretudo doenças gastrointestinais ou de pele, como micoses.

Principais cidades turísticas do Brasil têm 42% das praias poluídas

Outros focos de contaminação, que não são considerados nesta análise, podem ser a presença de lixo na areia e o vazamento de óleo que atingiu o litoral nordestino no último semestre. — Foto:Walla Santos

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O sol reluzindo na água azul clara de um canto tranquilo da Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio de Janeiro, explica o espanto da turista argentina Florencia Pérez, 34, ao saber que aquele trecho é considerado impróprio para banho quase o ano inteiro.

“Aqui é muito lindo, nunca ia pensar nisso. Nossas praias perto de Buenos Aires parecem muito mais sujas”, diz ela logo depois de sair do mar com a filha no colo. Em visita ao Brasil pela primeira vez, ela mal imaginava que quase metade das principais praias turísticas do país estaria suja.

LEIA MAIS: Confira as praias impróprias para banho neste final de semana

O dado está em levantamento do jornal Folha de S.Paulo. No cálculo, foram incluídas as 31 cidades do litoral brasileiro classificadas na categoria A pelo Ministério do Turismo – as que recebem mais visitantes, geram mais empregos no setor e têm mais leitos de hospedagem.

Nesses municípios, 42% dos 663 pontos monitorados tiveram a água avaliada como ruim ou péssima entre novembro de 2018 e outubro de 2019. Isso quer dizer que esses trechos de mar estavam impróprios para banho em ao menos uma em cada quatro medições feitas no período.

Os dados, que são coletados pelo jornal com os governos locais há quatro anos, indicam uma piora. Em 2018, 40% dessas praias consideradas prioritárias estavam ruins ou péssimas, e em 2016 e 2017, 35%.

A tendência também é de alta quando se considera todos os mais de mil pontos monitorados no litoral brasileiro: 35% foram classificados como sujos neste ano, sendo que quatro anos atrás eram 29%.

Nadar em áreas impróprias pode causar problemas de saúde, sobretudo doenças gastrointestinais ou de pele, como micoses. Outros focos de contaminação, que não são considerados nesta análise, podem ser a presença de lixo na areia e o vazamento de óleo que atingiu o litoral nordestino no último semestre.

“A primeira sensação que a pessoa tem que ter quando vai à praia é segurança. Governos minimamente inteligentes deveriam querer monitorar e investir nisso, um diferencial para atrair turista”, diz David Zee, professor de oceanografia da Uerj (estadual do RJ) especializado em gestão costeira.

Para ele, tem havido avanços, mas são incipientes e oscilantes. O fato de apenas 46% dos brasileiros terem seu esgoto tratado é o que mais preocupa: “Olha o nível de absurdo: jogamos o esgoto no mesmo lugar em que queremos comer o peixe e nos banhar”.

Na última semana, a Câmara aprovou um projeto de lei sobre saneamento que permite a atuação de empresas privadas, com o objetivo de atingir a meta de universalização dos serviços até 2033. Ele precisa passar pelo Senado.

A balneabilidade das praias, porém, não está no radar do Ministério do Turismo, que tem como principal missão fomentar a atração de visitantes e desenvolver a infraestrutura dos destinos do país.

Questionada sobre iniciativas, a pasta informou que não tem responsabilidade sobre a questão. Citou que participa do júri do programa internacional Bandeira Azul, que certifica praias que atendem a critérios de qualidade da água, gestão ambiental, educação ambiental e segurança.

A reportagem seguiu normas federais no levantamento. Um trecho é considerado próprio se não tiver registrado mais de 1.000 coliformes fecais para cada 100 ml de água na semana de análise e nas quatro anteriores.

Para a avaliação anual, foi adotado o método da Cetesb (órgão ambiental de SP), que classifica as praias a partir dos testes semanais. Nos dois extremos estão as boas, próprias em todas as medições, e as péssimas, impróprias em mais da metade das medições.

Foram apurados dados das praias de 14 estados no período de 12 meses. Amapá e Piauí ficaram de fora porque não medem a qualidade da água, e Pará não informou dados.

A região que mais piorou foi o Sudeste. Principal destino do Brasil, a cidade do Rio de Janeiro teve apenas 4 dos seus 64 pontos de medição classificados como bons.

O Ministério Público Federal chegou a denunciar nesta semana a Cedae (estatal de saneamento do RJ) por supostamente ter lançado esgoto sem tratamento na Baía de Guanabara e na zona oeste carioca.

No litoral paulista, cinco cidades são prioritárias para o Ministério do Turismo: Ilhabela, Ubatuba, Praia Grande, Guarujá e São Sebastião. Dessas, Praia Grande tem o pior cenário: seus 12 pontos de medição são ruins ou péssimos.

Ilhabela, sem praias boas, também piorou: dos 19 pontos monitorados, 11 estavam ruins ou péssimos, ante 4 de 2018. A região Sul, que tem apenas municípios de Santa Catarina na lista, registrou leve melhora. As badaladas Jurerê e Jurerê Internacional, em Florianópolis, agora estão limpas em quase toda a extensão.

Já o Nordeste tem a maior faixa de praias turísticas do país, com municípios considerados prioritários espalhados por oito estados. E o pior cenário: 1 a cada 3 pontos monitorados ficou impróprio mais da metade do ano.

Em Salvador, quem quiser se banhar em Farol da Barra, Rio Vermelho ou Itapuã deve repensar. Dos 37 pontos medidos, 26 são ruins ou péssimos. Com cobertura de 81% de coleta de esgoto, a cidade tem duas praias boas (Aleluia e Ponta de Nossa Senhora).

Em Ilhéus, quase metade das praias são consideradas péssimas –inclusive a Praia do Sul, uma das mais frequentadas por turistas. Em Porto Seguro, todas são regulares.

A Embasa, estatal de saneamento baiana, alega que o volume de chuvas aumentou no litoral do estado, o que pode ter carregado para o mar a sujeira das ruas e matéria orgânica presente no lixo, restos de plantas e fezes de animais.

Já Natal e Aracaju se destacam por ter a maioria das praias próprias durante todo o ano. São Luís é a única das 31 cidades turísticas do litoral do Brasil com todas as suas praias “péssimas”.

“Ninguém vai em uma praia que está ou pode estar suja”, diz o oceanógrafo David Zee ao destacar a importância de monitorar e agir para manter as praias limpas. “É como lugares em guerra: ninguém vai, por mais bonito que seja.”

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