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Esposa de Jéssica Bate-Estaca vira anjo da guarda na carreira da lutadora

Lutadora relembra "cano" de Fernanda quando se conheceram e ressalta o papel que ela tem na sua carreira. Bióloga, que participa do camp, fala de assédio e preconceito

Esposa de Jéssica Bate-Estaca vira anjo da guarda na carreira da lutadora

Jéssica Bate-Estaca — Foto:Divulgação

Um desencontro ao se conhecerem. Uma conversa pela internet anos depois. Um primeiro encontro numa cidade em que nenhuma das duas morava. Início de namoro. Mudança de uma delas para Niterói, onde foi morar com a outra. Parceria na vida e no trabalho. Esse é um pequeno resumo da história da lutadora paranaense Jéssica “Bate-Estaca” Andrade com a esposa e bióloga Fernanda Gomes. Uma longa história? Não, intensa. Tudo isso aconteceu num espaço de menos de um ano.

Hoje, as duas abraçaram o mesmo sonho, que pode se tornar realidade no próximo sábado, quando Bate-Estaca enfrenta a polonesa Joanna Jedrzejczyk pelo cinturão do peso-palha do UFC (até 52kg). Aos 25 anos, a lutadora pode ver sua vida se transformar caso acabe com a invencibilidade da adversária, que fará em Dallas sua quinta defesa de título. Apesar de morarem juntas, o casamento no papel está prometido. É isso, Jéssica?

– Engraçado que quando falam que vamos casar em agosto, falo: “A gosto de Deus” (risos). Mas vamos casar em agosto sim. Se Deus quiser, após o cinturão vamos nos casar. Ela sonhou que estava com um “nenenzinho” no colo, e eu sonhei que ela tinha acabado de ganhar um neném, estava na maternidade deitada na cama, a médica trazia o neném e dava no colo dela. Ela olhava para mim e falava: “Toma, amor. Segura”. E eu: “Meu Deus do céu, nem sei segurar isso aqui”. 

Quando ela me disse que sonhou a mesma coisa, pensei: “Ah, não pode! Como pode duas pessoas sonharem a mesma coisa assim?”. Com certeza queremos ter (filhos). Hoje temos dois cachorros que tratamos como filhos, mas queremos ter filhos, ensiná-los a serem pessoas boas e deixar o legado da PRVT. Um deles vai sair lutador também – aposta a lutadora, em entrevista.

E como ela mesma citou o assunto “filhos”, não deu para deixar de fazer a pergunta. Quem engravidaria? Jéssica admite que não se vê com um barrigão, e lembra que no momento uma gravidez atrapalharia a promissora carreira no MMA.

– Não me vejo grávida, mas hoje sei que temos a oportunidade de tirar um óvulo meu, ela fecundar e será nosso. Acho isso muito bacana. Também pela minha carreira não tem como eu pensar em ser mãe, nunca me imaginei sendo mãe, mas posso ser um bom pai (risos). Vamos ser duas mães. Duas pessoas que cuidam e vão amar do mesmo jeito.

Mas antes de chegarem a pensar em ter filhos, Jéssica e Fernanda superaram um desencontro em 2013. A lutadora tinha acabado de deixar a cidade natal de Umuarama-PR e já morava em Niterói-RJ, para começar o trabalho na equipe PRVT. Ela tinha lutado na Rússia, onde venceu Milana Dudieva. A conversa com Fernanda começou no Facebook, mas Jéssica levou um “cano”.

– Falei: “Vou estar aí tal dia, vamos lá para a gente se conhecer”. Ela: “Está bom, vou ver se eu vou”. Fui e ela não apareceu, me deu um cano, foi para um evento de motocross. Parei de falar com ela, concentrei em coisas de luta e, quando foi há um ano, ela mandou mensagem no Instagram: “Olha, parabéns, tenho muito orgulho de você, brasileira umuaramense, representando nossa cidade muito bem no mundo todo”. Conversei com ela e depois que lembrei que tínhamos conversado em 2013. Daí ia ter algo em Curitiba, ela pegou férias do trabalho, eu saí de férias do meu, o mestre deu um jeitinho (risos)… Aí nos conhecemos e hoje estamos juntas. É uma parceria imensa, ela me ajuda em tudo, tanto como esposa, como no meu trabalho. É como se fosse metade de mim.

Fernanda, de 25 anos, revelou que foi Jéssica quem tomou a iniciativa no relacionamento, e a ida para Niterói não demorou a acontecer. Mas não foi só a paixão que foi determinante para morarem juntas. A esposa virou funcionária da equipe e parte crucial na evolução da atleta.

– Quando surgiu a oportunidade de vir, já tinha terminado os meus estudos, e a gente conversou, ela achou melhor eu vir. Na verdade, fui para Minas, já que minha família toda é de lá, e daí fiquei em Minas um tempo e o mestre (Paraná) falou: “É melhor ela vir para cá, vamos precisar dela”. Sou formada em Biologia e ajudo muito na parte do corpo dela, da dieta, a parte do cansaço físico, mental, então trabalho junto no camp, sou funcionária do camp, além de ser esposa da Jéssica. Ele disse: “Vem para cá que você vai ajudar muito, a gente precisa de alguém como você, da nossa confiança, para estar junto”. E aí entrei para a equipe e trabalho junto com ela.

De fato, Fernanda se tornou um “anjo da guarda” na vida de Jéssica. Ela é a primeira a acordar e deixa tudo pronto para a lutadora enfrentar as oito horas diárias de treino antes das lutas.

– Ela me ajuda em muita coisa. Você ter uma pessoa do seu lado 24 horas por dia cuidando de você é essencial. Ela faz o almoço, café da manhã, bate meu suplemento, acorda mais cedo que eu para fazer as coisas, está o tempo inteiro comigo. Às vezes fico doente, não posso tomar remédio por causa de doping e ela pesquisa o que posso tomar e me dá. Ela é o que faltava para mim e está 24 horas do meu lado, não tem coisa melhor no mundo. Fez muita diferença – frisa a lutadora.

Presente a todos os treinos de Jéssica, Fernanda admite que a relação com a lutadora e possível futura campeão do UFC mudou a sua vida. A parte ruim? Por ironia da ocasião dessa conversa, as entrevistas.

– Nunca gostei de aparecer, agora que estou começando a dar entrevistas. Alguns repórteres falavam: “Essa menina é chata”. Me mandavam mensagem nas redes sociais perguntando da Jéssica e eu mandava ver com o assessor dela. Tenho minha profissão, sou formada, tenho uma vida fora a Jéssica, só que chegou um momento em que não teve mais como separar. Você acompanha, está junta, é assediada, é reconhecida, e tem fãs que não gostam: “Não gosto da mulher da Jéssica”, e nem me conhece. 

E eu trabalho com ela. Antes de a Jéssica acordar, levanto e deixo os suplementos prontos para ela tomar e ir treinar. Além de ser um trabalho de esposa, de cuidar da casa, de cuidar da alimentação, estou ali junto com a equipe. Então, tenho que aparecer, chegou um momento que não conseguia mais fugir disso. 

E foi quando todo mundo começou a ver que a Jéssica era casada, que tinha uma esposa. Hoje, os fãs gostam, pedem para fazer um “ao vivo” no Facebook nós duas, mas tem coisas que a gente não gosta de mostrar porque é um relacionamento homoafetivo, e existem fãs idosos da Jéssica, fãs religiosos, crianças, e têm coisas que preferimos não mostrar não por nós, mas por respeito aos fãs. Têm muitos fãs que a admiram como lutadora, mas que não admiram a opção (sic) sexual, e a gente não pode desrespeitar isso. Se a Jéssica chegou onde chegou, se é o que é hoje, é graças ao reconhecimento dos fãs.

Quanto aos fãs, o assédio a Jéssica Bate-Estaca é inerente, e Fernanda procura entender. Mas a preocupação dela é mesmo com as fãs femininas. Os homens não causam temores na esposa da lutadora.

– É muito, muito (assédio). Quando chega um homem, deixo, sei que dali não sai nada (risos). Quando chega uma menininha linda, aí já fico ali de olho. Mas a gente sabe quando é fã ou quando tem um interesse. Em quantos lugares eu chego e vão tirar foto e dizem: “Vem você também Fernanda, tirar foto junta”. Outros não dizem isso e tenho que respeitar. Quando estamos andando na rua e pedem para tirar foto, já saio e fico no meu cantinho e deixo ela lá, a famosa é ela, sei me comportar nesses momentos. Quando tem uma fã mais assanhada, fico de olho. Mas respeitam muito.

Por falar em respeito, ou na falta dele, o preconceito é parte quase que presente todo o tempo num relacionamento homoafetivo. Mesmo em 2017. Mesmo no século XXI. Fernanda conta que tenta se blindar de comentários maldosos, principalmente nas redes sociais. Mesmo que nenhuma delas tenha escolhido levantar bandeiras, elas sabem que isso é a consequência natural.

– Sempre acontece. O preconceito sempre existe. Só que levo uma coisa comigo que é a seguinte: tenho um pensamento muito forte, me bloqueio e não deixo nada me atingir. Escolhi isso, então tenho que ser forte o suficiente para assumir o que escolhi. E Jéssica também é dessa opinião. A gente não tenta levantar bandeiras, mas, a partir do momento em que você se assume e mostra seu posicionamento sobre diversos assuntos, automaticamente você levanta a bandeira de tal assunto. O assunto GLS (sic), o preconceito, e a respeito de ser lésbica, ou de ter um relacionamento lésbico, não tem como não levantar a bandeira. Quando você assume quem você é, e que mesmo você tendo uma opção (sic) sexual diferente você trabalha, você tem uma profissão e pode ser a melhor do mundo no que você faz, você levanta inúmeras bandeiras. Se tiver um comentário (preconceituoso) em redes sociais, apago, se fizer de novo, apago de novo, e se insistir, bloqueio. Só isso.

Mas as duas encontraram um cenário que muitas vezes um relacionamento homoafetivo não consegue ter: compreensão e afeto das famílias. As duas frequentam a casa da família da outra em Umuarama e são muito queridas por pais e irmãos. Jéssica conta que o sogro já virou seu fã.

– A família dela é muito igual (à minha). O pai e a mãe dela são muito parecidos com os meus pais no jeito de se tratar, carinho, humildade, a educação, respeito, foi uma coisa muito bacana. Parece que a gente já se conhecia há muito tempo. Quando fui lá conhecê-los, me trataram super bem. O pai dela me ama de paixão, falou que está doido para vir ao Rio ver um treino meu, assiste às reportagens: “Mas essa menina fala bem mesmo, né?” (risos). As irmãs dela também me trataram super bem, foram as primeiras que ficaram sabendo (do relacionamento), antes do pai e da mãe. Foi como se já nos conhecêssemos há muito tempo e a gente só tivesse se reencontrando.

A lutadora ainda lembra que, na casa dos seus pais em Umuarama, seu pai tem uma relação com Fernanda que nem mesmo ela tem hoje.

– Com a Fernanda, meu pai conversa muito, nunca fez isso de conversar com ninguém, e com ela ele conversa, debate, pede conselho. Meu pai não pede conselho nem para mim e vai pedir para a Fernanda! Ela está bem na fita mesmo (risos). Na época que nos conhecemos, ele não falou nada, mas hoje aceita bem, gosta quando levo a Fernanda lá. Minha irmã mais nova, que era mais ciumenta, aceita a Fernanda, brinca com ela e conversa.

O relacionamento entre Jéssica e Fernanda tem um apoio de peso. O mestre Gilliard Paraná, líder da equipe PRVT, comemora o fato de a lutadora passar por um momento muito mais tranquilo, o que favorece seu estado mental para a luta pelo cinturão.

– Estou muito feliz que ela casou, que está feliz. A esposa dela é uma menina muito querida, que não atravessa em nada (…). Como a Jéssica é do interior e a opção sexual dela não é “padrão”, essas meninas são muito carentes. Quando chega alguém e conta uma história, fala que ama… 

Em um mês não tem como você amar, mas isso acontece e ela ficou toda… Nessa época (da luta com a Marion Reneau, em 2015) ela conheceu uma pessoa que falava muita besteira, não entendia do que estava falando. Essa menina tinha 16 anos. Eu logo vi que era “furada” e, como pai, você vai orientar. Tempos depois, ela percebeu com os próprios olhos. Teve um desentendimento e ela perdeu essa luta muito pela cabeça (…). Mas hoje ela está mais adulta, mais madura, e a gente está conseguindo se concentrar melhor. Ela encontrou uma pessoa boa, que apoia, ajuda na dieta, ajuda nos horários. É muito importante você ter alguém do seu lado, um companheiro na vida, não só alguém para você se relacionar. Hoje ela encontrou uma menina legal. Acho que está num momento muito bom para ela disputar o cinturão – afirmou o treinador e um segundo pai para Jéssica Bate-Estaca.

O Combate transmite o UFC 211 ao vivo e com exclusividade no próximo sábado, a partir de 18h45 (horário de Brasília). O Combate.com acompanha o torneio em Tempo Real e exibe as duas primeiras lutas do card preliminar em vídeo ao vivo. Na sexta-feira, site e canal transmitem a pesagem cerimonial ao vivo a partir de 19h50. Confira o card completo:

UFC 211
13 de maio, em Dallas (EUA)
CARD PRINCIPAL (a partir de 23h, horário de Brasília):
Peso-pesado: Stipe Miocic x Junior Cigano
Peso-palha: Joanna Jedrzejczyk x Jéssica Bate-Estaca
Peso-meio-médio: Demian Maia x Jorge Masvidal
Peso-pena: Frankie Edgar x Yair Rodríguez
Peso-mosca: Henry Cejudo x Sergio Pettis
CARD PRELIMINAR (a partir de 19h, horário de Brasília):
Peso-leve: Eddie Alvarez x Dustin Poirier
Peso-leve: Chas Skelly x Jason Knight
Peso-médio: Krzysztof Jotko x David Branch
Peso-leve: Marco Polo Reyes x James Vick
Peso-palha: Jessica Aguilar x Courtney Casey
Peso-pena: Jared Gordon x Michel Quiñones
Peso-pesado: Chase Sherman x Rashad Coulter
Peso-pena: Gabriel Benítez x Enrique Barzola
Peso-meio-pesado: Joachim Christensen x Gadzhimurad Antigulov

Fonte: Portal Combate

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