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Paraibano dono de academia nos EUA, projeta volta ao MMA e recorda época que morava nas ruas

Estabilizado na Califórnia, Carlos Eduardo "Tá Danado", companheiro de treinos de Khabib Nurmagomedov e Daniel Cormier, diz que está curado de lesões e projeta lutar ainda em 2020.

Paraibano dono de academia nos EUA, projeta volta ao MMA e recorda época que morava nas ruas

A mistura de palavras em português e inglês – além do sotaque carregado – entregam que Carlos Eduardo Rocha, o “Tá Danado”, está longe do Brasil há anos. Natural de Cabedelo, na Paraíba, o ex-lutador do UFC, que morou anos na Alemanha, se estabilizou nos Estados Unidos no início da década, escolheu Hayward, na Califórnia, para fincar suas raízes, abrindo, em abril de 2017, a Spark Martial Arts. É lá que consome a maior parte do seu tempo, sem deixar de projetar seu retorno ao MMA. O fato de ter se tornado “homem de negócios” foi uma questão de sobrevivência. A badalação do Ultimate não era proporcional à sua necessidade financeira.

– Sou cidadão americano, abri a academia e comprei a minha casa. Estou em paz. O meu foco maior nestes cinco anos sem lutar foi botar a minha academia para funcionar. O MMA não dá aquela grana para viver, é mais sacrifício do que recompensa. Houve um tempo na minha vida que eu precisava pagar as contas, tive uma filhinha, a Kira Rocha, então precisei abrir um “business” para mim. Hoje eu tenho 200 alunos inscritos, consegui fazer um milagre em três anos de academia. Eu faço de tudo, administro e dou aula em quatro classes. É uma academia de jiu-jítsu e muay thai – declarou o atleta, que ganhou o apelido por ser inquieto na infância, ao Combate.com.

Fora do UFC após acumular duas derrotas e uma vitória, Tá Danado amargou outros dois reveses fora da organização, o último, pelo Bellator, em 2015. O acúmulo de lesões o obrigou a focar mais na academia do que na carreira de atleta. Foi preciso curar as feridas, sem forçar um retorno prematuro ao cage. O faixa-preta de jiu-jítsu, no entanto, se vê pronto para calçar as lutas novamente, aos 38 anos de idade.

– Tive lesões cruéis, uma artrose que atacou meus ombros. Precisei passar um tempo parado, por estratégia mesmo. Continuei competido no jiu-jítsu, no Mundial, na Copa Pódio. Hoje eu posso dizer que estou 99% curado, forte, ajeitei meu joelho, que estava com água. É esperar as academias voltarem da quarentena para treinar e falar com os eventos. Estou muito motivado, vou treinar bastante. Com certeza até o fim do ano estarei entrando para mostrar aquilo que sou e que eu sei. Quero lutar mais um ou dois anos. A galera fala que tenho nível para, pelo menos, entrar no top 10 da categoria (meio-médio). Meu jiu-jítsu é muito bom, a trocação melhorou bastante e treino com os melhores do mundo no wrestling.

– Vou para tirar onda, para provocar todo mundo. Antes, tinha aquele medo de a galera se decepcionar comigo ou não dar valor. É tudo bobagem, não dá para deixar todo mundo feliz, sempre vai ter quem critique, quem apoie e os fanáticos. Eu pegava muita pressão, não entendia isso. Não falta mais nada, se eu morrer hoje, morro feliz. Na verdade, não… Quero ainda sentir o prazer de botar o cinturão do UFC. Só uma vez mesmo. Não quero para sempre, não. E quero lutar pelo UFC uma vez no Brasil. Era para ter lutado naquela época, mas estava contundido.

Embora sonhe com o topo do Ultimate, o que move Carlos Eduardo “Tá Danado” é o prazer de competir no esporte que lhe deu sustento. Em outros tempos, dinheiro e fama estavam em sua alça de mira. Hoje em dia, a visão é outra.

– Eu era um garoto pobre na Alemanha, minha intenção era ganhar meu espaço, ser respeitado entre os melhores, mostrar meu potencial. Imagina uma criança de Cabedelo, na Paraíba, que nunca teve nada, treinar com os melhores do mundo? Treinei com Anderson Silva, Lyoto Machida, Pedro Munhoz, na Black House, em Los Angeles. Era meu sonho fazer isso. Lutava por dinheiro e fama. Depois passei por vários perrengues, a vida não é fácil para o lutador de Vale-Tudo. E eu vi que no Vale-Tudo tem muito ego. O MMA me mostrou que posso ser uma pessoa diferente, do que entrar no tráfico, no contrabando. Hoje em dia eu luto MMA por gratidão, por paixão, por tudo o que conquistei. É por amor mesmo.

A gratidão pelas conquistas de sua vida são mais tocantes para “Tá Danado” devido à trajetória conturbada. Abandonado pelos pais, foi criado pela avó – que morreria em seus braços, de câncer, quando ainda era uma criança. Foi acolhido por um vizinho, alcoólatra, que o espancava. O sofrimento era tamanho, que morar nas ruas virou uma opção melhor.

– A minha avó teve câncer no pescoço e, naquela época, em Cabedelo, ter câncer era certeza de que iria morrer. Ela morreu nas minhas mãos. Morávamos em uma casa de pau, de lixo, que não tinha nem banheiro. O vizinho que me acolheu me batia para cara*** com o cabo da vassoura. Não me deixava comer como pessoa, eu esperava todo mundo para comer o resto. Fugi de casa, não aguentei. Fui parar no Recife, em Natal, em Fortaleza.

– Eu dormia na rua, na areia. Essa era a minha vida. Foi assim até eu saber do projeto social Pequenos Samurais, do professor Dárcio Lira. Tinha aula de jiu-jítsu de graça e merenda. Eu estava indo atrás da comida (risos). Comecei a lutar, a me destacar, a disputar os campeonatos, até aparecer a oportunidade de morar no exterior.

Quando relembra as agruras do passado, Tá Danado fica atônito ao ver onde chegou. Fala mais de um idioma, é proprietário de uma academia, passou pelos dois maiores eventos de MMA da atualidade e, principalmente, exorcizou os fantasmas da infância. Entretanto, brinca que seu auge não está ligado ao MMA, e sim, ao encontro com a lenda do surfe Kelly Slater, no Havaí (EUA).

– Eu realizei todos os meus sonhos, até conhecer o Kelly Slater, brother (risos)! Estava surfando em Pipeline em 2018, e meu sonho era ir para o Havaí. Quando olhei para o lado: Adivinha quem estava lá? O Kelly! “Sou maior fã teu, você é a motivação da minha vida para não me envolvesse com tráfico, essas coisas”. Ele é muito gente boa, um ser humano incrível. A minha vida é um paraíso.

Fonte: combate.com

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