Inclusão

Cadeiras que dão autonomia de banho no mar à pessoa com deficiência se espalham por praias do país

Iniciativa pública já está presente em pelo menos 15 estados; expansão foi afetada pela pandemia, mas vive retomada.

Cadeiras que dão autonomia de banho no mar à pessoa com deficiência se espalham por praias do país

Com o uso de cadeira adaptada, guarda-vidas auxiliam pessoa com deficiência durante o programa Praia Acessível, na praia de Iracema, em Fortaleza. — Foto:Tiago Stille / Governo do Ceará

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O uso de cadeiras anfíbias, que permitem o banho de mar a pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida, está se espalhando pelo litoral brasileiro, mesmo com a pandemia tendo freado a expansão. O que era raro de ser visto passou a ser mais frequente nas praias, proporcionando mais acesso ao mar, uma demanda histórica do grupo social.

Os programas envolvem a participação de administrações públicas, em alguns casos, aliadas a institutos e entidades educacionais. O serviço, hoje presente em pelo menos 15 estados, ocorre de duas maneiras: um, menos abrangente e apostando na autonomia do usuário – semelhante ao modelo mais adotado nos EUA -, é a entrega da cadeira ao usuário que fica com ela em períodos determinados; outro é o chamado banho assistido, em que a pessoa é auxiliada por guarda-vidas ou monitores.

As cadeiras anfíbias possuem rodas especiais, que se movimentam na areia e flutuam no mar. Devem ser utilizadas com a presença de um acompanhante, que guia o veículo na água, por exemplo

Maceió (AL) conta com o programa Praia Acessível, implantado como política pública desde 2015 pela Secretaria Municipal de Turismo, Esporte e Lazer. Uma vez por mês, um grupo de monitores faz uma ação de banho assistido na praia de Pajuçara.

O programa também possibilita que a pessoa interessada solicite uma cadeira por meio do número (82) 99102-4596 para poder usufruir pelo prazo de até sete dias, da maneira que for mais conveniente para ela.

“A proposta era de atender e dar mais autonomia para as pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, para que elas pudessem aproveitar as belezas naturais de Maceió, assim como praticar atividades esportivas com equipes especializadas”, diz João de Barros, coordenador do projeto.

Tabata Contri, 41, consultora de inclusão de profissionais com deficiência, optou por solicitar a cadeira durante as suas férias em Maceió. “Achei muito legal. Eu estava de férias com a minha família, queria ir para a praia todos os dias, conhecer praias diferentes, e no horário que eu estava a fim de ir, não em um determinado. Tive essa liberdade.”

O Paraná também tem um modelo mais autônomo na Ilha do Mel. O Instituto Água e Terra, em parceria com a Secretaria do Desenvolvimento Sustentável e do Turismo do estado, disponibilizou um número de WhatsApp para a reserva de cadeira adaptada. São duas na praia de Encantadas e duas em Nova Brasília. A pessoa interessada faz a reserva e tem o direito de passar o dia com a cadeira. A reserva pode ser feita pelo número (41) 99554-0313.

“É uma sensação de liberdade poder flutuar no mar. Foi um dia maravilhoso e recarregou minhas baterias”, disse o engenheiro civil Cândido Kowalski Junior. Ele disputava provas de maratonas aquáticas, mas uma doença neurológica o condicionou a uma cadeira de rodas, há pouco mais de um ano.

Santa Catarina tem uma política de praia acessível que abrange os cerca de 360 km de faixa litorânea do estado, com 150 cadeiras anfíbias espalhadas em 23 cidades.

O programa ocorre diariamente durante a temporada de verão, mas o governo estadual disponibilizou o aplicativo CBMSC Cidadão, com os endereços dos postos guarda-vidas que disponibilizam as cadeiras e a agitação do mar no dia, já que, dependendo das condições, a cadeira é levada para outra praia da região. O programa é acompanhando por guarda-vidas.

O serviço também foi ampliado para o interior catarinense. Neste ano, começou a funcionar em um lago na cidade de Itá, cerca de 500 km de Florianópolis.

Para Marco Pellegrini, ex-secretário nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência e especialista em diversidade e inclusão, “políticas públicas que cumprem o dever constitucional do salvo-conduto inclusivo e digno aos equipamentos públicos e ao meio social tem um grande poder transformador, somente a convivência no cotidiano é capaz de eliminar o capacitismo e a intolerância”.

No Ceará, o governo do estado mantém o programa Praia Acessível em parceria com os municípios de Fortaleza, Caucaia, Aracati e Aquiraz. O serviço também é assistido por monitores. A gestão estadual diz que cerca de 8.000 pessoas já foram atendidas pelo programa desde o seu início, em 2016.

A ideia é ampliar a iniciativa para as praias de Trairi e Camocim em março. No decorrer do ano, outras quatro localidades deverão contar com o programa.

Um dos primeiros projetos voltados à inclusão em praias foi o Praia Para Todos, do Instituto Novo Ser -organização sem fins lucrativos– em parceria com a Secretaria de Turismo do Rio de Janeiro, em 2008. O programa consistia no fornecimento de cadeiras anfíbias em Copacabana, Barra da Tijuca, Leblon, Ipanema e Piscinão de Ramos.

Segundo o instituto, de 2008 a 2020, o projeto atingiu um público de 35.944 pessoas, de forma direta e indireta. Dos frequentadores, a maioria (36,4%) não frequentava a praia havia mais de um ano, sendo que cerca de 10% mergulhava no mar pela primeira vez. O programa foi suspenso no ano passado por causa da pandemia, mas estava previsto para voltar neste mês.

A professora Bianca dos Santos Saint Martin, 43, levou o filho Matheus, 21, ao projeto antes da pandemia. A possibilidade de ver o jovem novamente em um banho de mar mexeu com toda a família.

“Foi maravilhoso, tanto para ele quanto para toda a família. Ele andava até os 14 anos, mas teve um tumor na coluna, deixando ele cadeirante. Desde então, a gente não tinha conseguido mais ir à praia. Quando a gente conheceu o projeto, fomos”, disse Bianca.

Na Bahia, a capital Salvador também conta com o programa Para Praia, mas foi suspenso por causa da pandemia.

A jornalista Laís Serrão, 41 (esq.), e a advogada Mari Pereira, 73, entram no mar em Santos (SP) com o auxílio dos monitores Anderson dos Santos (29), e Valter Martins, 54 – Foto: Karime Xavier / Folhapress

A crise sanitária também atrapalhou os planos em algumas praias. Em São Paulo, o serviço acabou sendo limitado. No Guarujá, são duas cadeiras na praia das Pitangueiras, e só funciona de quinta a domingo, das 10h às 14h, com o acompanhamento de monitores.

Johnny, coordenador do programa, diz que procura informar sobre as cadeiras para as pessoas que estão na praia. “Ando pela praia para ver se tem alguma pessoa de cadeira de rodas e ofereço o serviço.”

Na Praia Grande, o serviço também funciona aos finais de semana na alta temporada. As cadeiras estão disponibilizadas em quatro locais: Vila Mirim, Balneário Flórida, Canto do Forte e Jardim Guilhermina. O usuário, ao lado de um acompanhante, deve levar um documento e retirar a cadeira. O tempo de permanência depende da procura.

Santos tem cadeiras nos Canais 3 e 6, nos finais de semana, das 9h às 15h, também com acompanhamento de guarda-vidas. Funciona durante todo o ano, mas a limitação não agrada aos usuários.

“Infelizmente, o horário é muito ruim. Agora no verão, começa a ficar bom quando o sol começa a baixar, depois das 15h. Tinha que ficar disponível até umas 18h pelo menos”, diz a assessora de imprensa Laís Ferrão, 41, que frequenta o projeto desde 2010.

Para Tabata Contri, o turismo no Brasil ainda deixa muito a desejar no que diz respeito a acessibilidade.

“O turismo no Brasil, para pessoas com deficiência, tem que melhorar demais. Para poder viajar é preciso armar um esquema de guerra. Tem que ligar, pesquisar, e ainda corre o risco de não encontrar acessibilidade.”

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