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Com dados, pesquisas tentam prever novos focos de Covid-19

Ao mesmo tempo, outra pesquisa, em parte com base nos dados obtidos pelo primeiro projeto, busca modelar o deslocamento da Covid-19 no país.

Com dados, pesquisas tentam prever novos focos de Covid-19

Os estudos são voltados para biologia viral, modelos matemáticos e imunologia. — Foto:Reprodução

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um projeto que quer aprofundar e diversificar os dados disponíveis sobre Covid-19 no Brasil recolhe dados de sintomas e informações sobre contatos de pessoas infectadas pelo novo coronavírus.

Ao mesmo tempo, outra pesquisa, em parte com base nos dados obtidos pelo primeiro projeto, busca modelar o deslocamento da Covid-19 no país e, dessa forma, colocar em prática isolamentos mais inteligentes.

Estes dois projetos receberam o apoio conjunto do Instituto Serrapilheira, a primeira instituição privada de fomento à ciência do país, e do Idor (Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino), que juntos estão investindo R$ 5 milhões em cinco pesquisas relacionadas à Covid-19.

Os estudos são voltados para biologia viral, modelos matemáticos e imunologia.

O primeiro projeto citado se chama Dados do Bem. A ideia tem um aplicativo como ponto de partida, no qual os usuários podem apontar sintomas relacionados ao novo coronavírus.

A partir disso, um algoritmo informa a probabilidade de infecção pelo vírus.
Dependendo do caso, o aplicativo indica encaminhamento para a realização de testes para detectar a Covid-19.

Além disso, o aplicativo também mostra um mapa de risco do novo coronavírus, com dados predominantemente do Rio de Janeiro, por enquanto.

Fernando Bozza, coordenador do laboratório de pesquisa clínica em medicina intensiva da Fiocruz e responsável pelo Dados do Bem, afirma que o objetivo é, com os dados mais detalhados, conseguir predizer e controlar melhor a doença.

“Por exemplo, agora estamos na discussão de reabertura e sabemos que vão aumentar os casos. A questão é: seremos capazes de identificar onde estão surgindo os casos para controlar esses focos ou vamos olhar pelo retrovisor?”, pergunta Bozza.

De acordo com o pesquisador, com os dados disponíveis atualmente (principalmente sobre o número de casos e mortes), não é possível identificar pontos focais de disseminação da doença.

É aí que se encaixa o ModCovid-19, projeto de modelagem pandêmica de Tiago Pereira da Silva, matemático pesquisador da USP (Universidade de São Paulo), de São Carlos.

Com base nas informações do Dados do Bem e da base do Idor, o pesquisador busca identificar novos focos da pandemia, levando em conta dados locais de mobilidade, capacidade do sistema de saúde, distribuição de faixa etária e até mesmo o número de mercados na cidade (o que pode ter impacto no deslocamento das pessoas).

De acordo com Pereira da Silva, a partir disso, é possível criar protocolos inteligentes de prevenção do espalhamento da doença.

“Você passa um objetivo para o programa, como não colapsar o sistema de saúde e não fechar a cidade inteira. As equações procuram estratégias”, afirma.

É uma espécie de simulador de vida, que, para ter maior precisão, precisa ir além de aspectos mais técnicos da doença (como capacidade de transmissão), e considerar também dados de hábitos sociais, que variam em diferentes regiões do país e até mesmo entre bairros em cidades maiores, como São Paulo.

A diferença pandêmica dentro das cidades é perceptível, por exemplo, pelas informações capturadas pelo Dados do Bem, de acordo com Bozza.

O pesquisador da Fiocruz afirma que seus dados apontam uma soroprevalência de cerca de 5% em locais do Rio de Janeiro como nos bairros da Urca e de Botafogo, aumentando a nível de até 35% em regiões periféricas.

Até mesmo entre os vizinhos Leblon e Rocinha há diferenças significativas, segundo Bozza.

No outro braço do Dados do Bem, relacionado aos contactantes, o pesquisador da Fiocruz afirma que o projeto busca ser menos invasivo do que as ações nesse sentido feitas em alguns países asiáticos.

Para quem testa positivo, os pesquisadores somente pedem indicação dos contatos próximos, os quais entram em prioridade para a testagem.

Há ainda outros três projetos apoiados pela parceria entre os institutos Serrapilheira e Idor.

Um deles busca uma maior compreensão sobre a resposta imune de pacientes frente à Covid-19.

O foco é a análise de profissionais de saúde, mais expostos a uma possível contaminação pelo vírus Sars-CoV-2.

Outra pesquisa busca biomarcadores prognósticos e preditivos da Covid-19 em pacientes aos quais foram aplicados diferentes tipos de tratamento.

Por fim, o último projeto estuda a biologia do novo coronavírus e analisa transferências de células e mitocôndrias para recuperação de órgãos impactados pela doença.

INVESTIMENTO EM PESQUISA

O Serrapilheira mudou sua abordagem de investimento em pesquisa durante a pandemia e agora aposta em estudos mais pragmáticos, com resultados de curto prazo.
A essência dos fomentos dados pela instituição era o elevado risco e associação com jovens pesquisadores, para apoiar projetos que eventualmente poderiam levar a grandes descobertas.

“Nesse momento você não improvisa. Tem que ir com as pessoas que sabem lidar com essas questões em pauta”, diz Hugo Aguilaniu, diretor-presidente da instituição.
Foi também dessa forma que surgiu a parceria com o Idor –que resultou no investimento de R$ 5 milhões.

“As duas instituições trabalham de maneira complementar, principalmente no Rio de Janeiro”, diz Fernanda Tovar-Mol, presidente do Idor.

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