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Defesa do coach que colocou em perigo 32 pessoas no Pico dos Marins, em SP, notifica grupo de montanhismo que o criticou

Notificação extrajudicial pede que Comunidade Trekking Estilo de Vida retire imagens do coach das suas redes sociais.

Defesa do coach que colocou em perigo 32 pessoas no Pico dos Marins, em SP, notifica grupo de montanhismo que o criticou

O coach motivacional Pablo Marçal no Pico dos Marins, no interior de SP. — Foto:Reprodução/Instagram

A defesa do coach Pablo Marçal, que levou ao topo do Pico dos Marins, no interior de São Paulo, um grupo de 32 pessoas que precisaram ser resgatadas pelo Corpo de Bombeiros, enviou uma notificação extrajudicial a um grupo de montanhismo e esportes radicais que o criticou pelas redes sociais.

A notificação enviada à Comunidade Trekking Estilo de Vida cita “o uso indevido de imagens e vídeos” extraídos do Instragram do coach. A advogada de Marçal menciona que irá entrar com uma ação por danos morais, caso o conteúdo relacionado ao uso do nome do líder da expedição não seja retirado das redes sociais do grupo.

“A inexperiência na montanha poderia ter ocasionado a morte de dezenas de pessoas. A continuidade das declarações nas redes sociais elevando o evento como um ato de superação não condiz com a verdade, mostrando apenas amplo desconhecimento e respeito do montanhismo, uma vez que estimula a prática imatura de esporte outdoor fora de época”, diz a nota divulgada pela Comunidade Trekking Estilo de Vida.

Após o evento mal sucedido na Serra da Mantiqueira, entre os municípios de Cruzeiro e Piquete, Marçal divulgou um vídeo dizendo que quem não quer correr risco, fica em casa assistindo os stories.

“Algumas pessoas não suportam quem corre risco. Se você é uma pessoa que não corre risco, dificilmente você vai governar ou chegar no topo. Na nossa subida ontem na montanha, a gente correu muito risco. Aí alguém me fala: ‘Mas pra que correr risco?’ Se você não quer correr risco, fica na sua casa assistindo os stories”, afirmou o coach com mais de 2 milhões de seguidores.

Marçal, que apresenta como mentor e estrategista digital, vende cursos que prometem prosperidade aos alunos que custam até R$ 2.997.

Em uma live no Youtube na quinta-feira (6) – um dia depois do resgate – Marçal admitiu que ele e o grupo passaram por situações de “muito risco” na expedição, mas afirmou que “não mandou ninguém subir” e “cada um estava sob a própria responsabilidade.”

“Eu não mandei ninguém subir. Eu fui na frente. Fui lá, subi e resolvi. ‘Ah, Pablo. E se alguém tivesse se machucado?’ Cada um subiu sob a sua responsabilidade. Só que é o seguinte: é igualzinho a sua vida. Vai vir um monte de protetor de montanha para querer falar o que você tem que fazer da sua vida. Você vai escrever agora: ‘Eu que decido o que devo fazer”, declarou.

O Corpo de Bombeiros criticou a situação.

Resgate

As 32 pessoas que foram resgatadas pelos Bombeiros na quarta-feira (5) participavam de um treinamento motivacional do coach. Originalmente, a expedição contava com 60 integrantes, mas quase a metade deles desistiu da expedição, seja por cansaço ou pelas más condições do tempo.

A jornada foi toda registrada nas redes sociais de Marçal e, nos vídeos, é possível ver que, já na saída para a caminhada, as condições climáticas não eram apropriadas. Mesmo assim, Marçal insistiu na continuidade da expedição, chamando uma oração para que Deus pudesse “parar o vento”.

“Eu sei no meu coração que dá pra subir. Vai ser a pior experiência de todas. Nós sabemos que, do jeito que está aqui, não dá para subir. Mas uns pararam o sol, outros voltaram o tempo. A gente não tá pedindo nada disso. Só estamos pedindo para o Senhor desviar o vento”, afirmou Marçal na oração.

O coach compartilhou vídeos que mostram as pessoas relatando cansaço, frio e querendo desistir da “expedição” enquanto eram convencidas por ele de que a circunstância “era uma chance de crescimento” e que era preciso “vencer os medos”.

Marçal ironiza quem classificou como irresponsabilidade a subida — Foto: Divulgação

Críticas dos bombeiros

Os bombeiros que participaram do resgate criticaram a ação do coach e afirmaram que “ele foi totalmente irresponsável” na condução do grupo.

“Ele foi totalmente irresponsável. Subir com um grupo de pessoas despreparadas e sem equipamento é colocá-las sob risco de morte. Essa foi a pior ação que a gente viu no Pico dos Marins”, afirmou Paulo Roberto Reis, capitão dos Bombeiros e chefe da operação de resgate.

Bombeiro critica ‘expedição’ de Coach no Pico dos Marins que termiou com 32 resgatados — Foto: Reprodução

Segundo os bombeiros, o resgate foi acionado por volta das 2h30, depois que o grupo teve barracas arrastadas pela ventania e as pessoas ficaram molhadas, sob risco de hipotermia – no pico, à noite, a temperatura chega perto de 0°C.

“Eu não recuei até agora nada nesses últimos anos, desde quando eu trabalhava de atendente de call-center, em 2005. Não me lembro de nenhuma coisa que me propus fazer que não consegui fazer. ‘Pablo, uma hora você pode morrer.’ Qualquer hora a gente pode morrer, mas é terrível você não poder viver o que quer viver e fazer as coisas que precisa fazer”, disse ele na live de quinta (6).

‘Irresponsabilidade’

O Corpo de Bombeiros afirma que a ação foi um risco para os participantes e para as equipes. Com a chuva, a pedra estava escorregadia, e a neblina dificultava a visibilidade.

Após o resgate, Marçal alegou em uma rede social que a intervenção dos bombeiros foi feita por precaução. A corporação contesta.

“O Corpo de Bombeiros não faz trabalho de precaução, somos um órgão público que atende emergência. Recebemos um chamado para mais de 30 pessoas perdidas, sem equipamentos, debaixo de chuva e pedindo apoio de resgate no Pico dos Marins. Foi isso foi o que o Bombeiro foi atender. E evitamos uma tragédia”, disse Reis.

Bombeiros mobilizam operação para resgatar 32 turistas no Pico dos Marins — Foto: Divulgação/ Corpo de Bombeiros

O bombeiro Pedro Aihara, que já atuou em resgates como no desastre de Brumadinho, em Minas Gerais, também usou as redes sociais para criticar Marçal. Ele chamou o coach de “fanfarrão” pela atitude e por omitir que o grupo, na verdade, foi resgatado pelos bombeiros, não desceu sem a ajuda das equipes.

“Falar depois que o resgate foi concluído e que toda uma equipe foi empenhada na operação que ligaram 193 ‘por preocupação’ é muito fácil. Quero ver na hora que estão no meio do aperto lá”, postou Aihara.

O g1 tentou entrar em contato com Pablo Marçal, mas, até a última atualização desta reportagem, não obteve retorno. Em uma transmissão nas redes sociais, ele minimizou o episódio.

Bombeiros mobilizam operação para resgatar 32 turistas no Pico dos Marins — Foto: Corpo de Bombeiros/Divulgação

Pico dos Marins

O Pico dos Marins, o segundo mais alto do estado de São Paulo — Foto: Arte-G1

O Pico dos Marins é um ponto turístico muito procurado para a prática de montanhismo. A recomendação é a de que a atividade seja feita nos períodos mais secos do ano, entre abril e agosto.

Os bombeiros orientam que as pessoas não entrem no local sem supervisão de guia profissional, porque a trilha é complexa, com histórico de pessoas perdidas e até mortes.

O caso mais emblemático é o do desaparecimento do escoteiro Marco Aurélio Simon. Em junho de 1985 ele e mais três amigos tentavam alcançar, na companhia de um líder, o cume do Pico dos Marins. No trajeto, um dos meninos torceu o pé e Marco Aurélio, então com 15 anos, voltou para buscar ajuda. Mas o garoto nunca retornou e não foi mais visto. As buscas duraram 28 dias. Ano passado, a polícia reabriu o caso.

O pico tem 2,4 mil metros de altitude e é o quarto maior de todo o estado de São Paulo. Para chegar ao cume, é preciso passar por uma trilha de terra em que o nível de acesso é considerado de médio a pesado.

O tempo de escalada é longo – ida e volta varia entre sete a oito horas, considerando o período de uma hora de visitação no pico. Ir ao Pico dos Marins exige um bom condicionamento físico dos turistas.

Em 2018, um esportista francês que morava na região morreu durante uma tentativa de subida. Eric Welterlin, de 54 anos, praticava corrida de montanha e foi ao local com equipamentos e suporte, mas acabou se perdendo e foi encontrado morto.

Os bombeiros alertam que é frequente as ações de intervenção no pico para o resgate de turistas e que a prática no local só pode ser feita com acompanhamento de guia e equipamentos de comunicação, aquecimento e alimentação necessárias.

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