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Justiça de São Paulo condena a 14 anos de prisão estudante que usou faca e espada para matar gamer Sol

Julgamento ocorreu nesta segunda (8) no Fórum Criminal da Barra Funda. Defesa de Guilherme Costa alegou que ele não se lembrava de ter matado Ingrid Bueno em 2021.

Justiça de São Paulo condena a 14 anos de prisão estudante que usou faca e espada para matar gamer Sol

O estudante Guilherme Alves Costa, de 18 anos, acusado da morte de Ingrid Oliveira Bueno da Silva, de 19 anos. — Foto:Reprodução

Após um ano do crime, a Justiça de São Paulo condenou a 14 anos de prisão o estudante Guilherme Alves Costa, de 18 anos, que usou uma faca e uma espada para matar a gamer Ingrid Oliveira Bueno da Silva, de 19 anos, conhecida como Sol. A informação foi confirmada na noite desta segunda-feira (8) pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), por meio de sua assessoria de imprensa.

O réu foi a julgamento popular nesta segunda pelo assassinato da vítima em 22 de fevereiro de 2021. Sol foi morta na casa de Guilherme, em Pirituba, na Zona Norte da capital paulista. O júri ocorreu no Fórum Criminal da Barra Funda, Zona Oeste. A maioria dos jurados votou pela condenação do acusado, e a sentença foi dada pela juíza Michelle Porto de Medeiros Cunha Carreiro.

O estudante, que já estava preso, continuará detido. Ele foi condenado pelo crime de homicídio qualificado por motivo fútil e meio cruel. Segundo a acusação, o assassino tentou “degolar a vítima”, que tinha conhecido pela internet havia um mês.

“Deixo de conceder a ele o direito de recorrer em liberdade. As razões que levaram à decretação de sua custódia cautelar persistem, ora reforçadas pela condenação”, escreveu a juíza na decisão.

Michelle ainda recomendou que Guilherme tenha consultas psiquiátricas durante o período em que estiver preso. “Oficie-se à prisão onde está custodiado, com a recomendação de que o condenado seja submetido a acompanhamento médico psiquiátrico no curso do cumprimento da pena.”

O julgamento já deveria ter ocorrido em 3 de março, mas foi adiado pela magistrada. À época, a defesa do réu juntou ao processo documentos que ainda não tinham sido analisados antes pelo Ministério Público (MP). Depois ele teria de acontecer em 9 de maio, mas também foi adiado em razão da falta de testemunhas.

Motivo do crime é desconhecido

Apesar de ter gravado um vídeo no qual confessa o crime, Guilherme, que é conhecido como Flash Asmodeus no meio dos games, nunca explicou por que assassinou Ingrid. Ela jogava profissionalmente como gamer (saiba mais abaixo). Os dois se conheceram durante partidas online do Call of Duty: Mobile, um jogo de tiro para celulares.

Após matar a gamer, Guilherme gravou um vídeo e compartilhou a imagem nas redes sociais admitindo o assassinato. Em seguida, se entregou numa delegacia, onde foi preso pela Polícia Civil, e continua detido desde então.

“Eu quis fazer isso”, disse o estudante numa filmagem feita por policiais que o prenderam em flagrante.

‘Ataque contra o cristianismo’

Guilherme Alves Costa, réu confesso do assassinato da gamer Ingrid Bueno, a Sol, em São Paulo — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

De acordo com a investigação, Ingrid foi encontrada morta a facadas depois de ter ido à casa de Guilherme. Os policiais querem saber se os dois tinham algum relacionamento e se o assassinato foi planejado.

A suspeita da polícia é a de que o crime tenha sido premeditado. Guilherme chegou a fugir após matar Ingrid. Depois falou que iria se suicidar, mas foi convencido pelo irmão a se entregar. O irmão havia visto o corpo da gamer sobre uma cama. Segundo o relato deste familiar, o estudante havia lhe dito que a garota “teria atravessado seu caminho” e por isso a matou.

Guilherme ainda afirmou aos policiais que escreveu um livro de 52 páginas, intitulado “Meu Dicionário”, para explicar os objetivos do crime. A polícia conseguiu uma cópia dele, que foi anexada ao inquérito.

Nele, o assassino afirmou, de acordo com a Justiça, que “planejava um ataque contra o cristianismo e que seria um soldado de um exército, tendo ainda asseverado que a vítima teria atrapalhado seu caminho, o que, em tese, acena para a possibilidade de envolver um plano para atingir outras pessoas”.

Semi-imputável

William Vinicius Sartório, Joao Marcos Alves Batista e Fernanda Magnusson, advogados de Guilherme Alves Costa — Foto: Jeferson Galli/Divulgação

Antes do júri, os advogados do réu alegavam que o acusado não se lembrava de ter matado Ingrid. Nesta segunda, João Marcos Alves Batista, um dos responsáveis pela defesa, afirmou que vai recorrer da decisão da magistrada.

“Maioria dos jurados votou pela condenação. Mas mesmo assim, receberá atendimento psiquiátrico. Mas vou recorrer da decisão por entender que a pena deveria ser de 12 anos, mas a juíza aumentou para 14 anos”, disse o advogado.

Um parecer técnico feito por um psiquiátrica particular, encomendado pelos advogados de Guilherme, e que foi anexado ao caso, alega que o réu tem doença mental e precisa de tratamento psiquiátrico.

De acordo com o documento, o acusado possui “Transtorno Delirante Persistente e Traços de Personalidade Antissocial”, que o levam a “distorção do entendimento da realidade”.

“Guilherme é semi-imputável e é isso que vamos buscar provar no julgamento”, chegou a dizer Batista ao g1. Ele defende o réu com os também advogados William Vinicius Sartório e Fernanda Magnusson.

Se o júri considerasse que o acusado é semi-imputável, ele poderia escapar de uma condenação que o levaria à prisão, seguindo para tratamento médico num hospital. Lá ele teria restrição de liberdade, como medida de segurança, sem poder deixar o local. Mas seria analisado periodicamente por especialistas que poderiam dar ou não alta médica para ele sair.

“No nosso entendimento, Guilherme não tem condições de voltar ao convívio social porque ele representa risco à sociedade”, falou João Marcos antes do julgamento.

Imputável

O Ministério Público discordou da alegação da defesa de Guilherme de que ele é semi-imputável. Para o promotor Rodrigo Alves Gonçalves, que acusou o réu, “o estudante é imputável” e pode responder criminalmente por seus atos.

O representante do MP baseia essa afirmação no laudo oficial feito por peritos da Justiça, que concluiu, em abril do ano passado, que Guilherme não possui nenhuma doença mental.

O exame de insanidade mental havia sido realizado a pedido da própria defesa do réu, que, no entanto, criticou a maneira como esse teste foi feito e o seu resultado. “Foi um laudo incompleto, de poucas folhas. Por isso pedimos um parecer técnico particular mais completo de 22 páginas”, rebateu o advogado do acusado.

Gamer

A gamer Ingrid Bueno, a Sol, tinha 19 anos — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Ingrid disputava Call of Duty: Mobile pelo time FBI E-Sports. Guilherme jogava em outro time, o Gamers Elite, e a suspeita da polícia é a de que eles se conheceram durante partidas do game online. Um grupo de jogadoras homenageou a gamer morta dentro do jogo preferido dela.

A organização FBI E-Sports declarou ao GloboEsporte que Ingrid era uma excelente jogadora.

“Ela ingressou no nosso esquadrão de meninas e fez muita amizade com os rapazes da line Black Stars, onde ela ficou até o seu final. Ela era uma excelente jogadora, tinha um espaço em nossos corações. Era uma pessoa extraordinária, sempre nos motivando e acreditando. A ligação dela com todos os membros era super boa, super respeitosa, amistosa e educadíssima. Dedicamos a ela nosso respeito máximo, e à família dela, nossos sentimentos e nossas condolências”, informa o comunicado da FBI E-Sports.
Em nota, a Gamers Elite informou que Guilherme enviou um vídeo com imagens da jovem morta no grupo da organização, e os responsáveis afirmaram que informaram “as devidas autoridades” e pediram para que os integrantes do grupo não compartilhassem o vídeo. A organização comentou ainda que nunca viu o jogador pessoalmente e que “não compactua com qualquer criminoso de nenhum modo e jamais irá compactuar ou fazer apologias ao mesmo”.

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