Mobilização

Manifestantes pedem justiça para menino que morreu ao cair do 9º andar quando estava sob a guarda da patroa da mãe

Com faixas e cartazes com alusão ao racismo, manifestantes seguiram do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) até as Torres Gêmeas, onde Miguel Otávio sofreu acidente.

Manifestantes pedem justiça para menino que morreu ao cair do 9º andar quando estava sob a guarda da patroa da mãe

Manifestantes realizaram um ato público, nesta sexta-feira (5), no Centro do Recife, para pedir justiça para a morte do menino Miguel Otávio Santana da Silva, de 5 anos. Ele caiu do 9º andar de um prédio na capital, na terça (2), depois que a mãe dele, a doméstica Mirtes Renata, o deixou aos cuidados da patroa, Sari Mariana Côrte Real, enquanto passeava com o cachorro da família. 

A empregadora foi presa por homicídio culposo, pagou fiança de R$ 20 mil e está respondendo em liberdade.

O ato teve início por volta das 14h, no Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), no bairro de Santo Antônio, no Centro. Esse prédio fica na frente do Palácio do Campo das Princesas, sede do governo do estado. As vias da região foram interditadas pela polícia.

Usando máscaras por causa da pandemia do novo coronavírus, alguns manifestantes levavam faixas e cartazes com frases em alusão ao racismo.

“Vidas Negras importam”, “Crime burguesia branca” e “Cinco unhas valem mais do que cinco anos de um preto” estampavam os cartazes.

Essa última frase é uma alusão ao fato de que Sari Côrte Real estava com uma manicure, fazendo as unhas, no apartamento, quando deixou Miguel entrar no elevador e apertou o botão do último andar, para que o menino fosse procurar a mãe.

“Vidas negras importam” é uma frase usada por movimentos em vários países, sobretudo, após o assassinato de George Floyd, em Mineápolis, nos Estados Unidos. Esse crime provocou uma série de atos e confrontos com a polícia naquele país.

Os manifestantes seguiram pela Rua do Imperador Dom Pedro II e foram em direção ao Condomínio Píer Maurício de Nassau, que fica cerca de um quilômetro distante do ponto inicial do ato.

Foi lá nesse conjunto, conhecido como “Torres Gêmeas” que Miguel caiu de uma altura de 35 metros, segundo a perícia feita na terça-feira.

Por volta das 14h, já havia pessoas na frente do edifício segurando rosas para serem colocadas no local do acidente. Um carro de vigilância privada também estava estacionado.

As “Torres Gêmeas” ficam na frente do 16 º batalhão da Polícia Militar de Pernambuco. Faixas prestas foram colocadas na fachada do prédio, simbolizando luto pela morte de Miguel Otávio.

Os manifestantes se ajoelharam em frente às “Torres Gêmeas” e gritaram, novamente, que “não foi um acidente”. Eles disseram que se ajoelharam em frente ao local onde ocorreu “um assassinato”.

O pai de Miguel, Paulo Silva, disse não conseguir sequer conceber o tamanho da dor de perder o filho. “Miguel era tudo na nossa vida. Eu espero nada mais que justiça. Sequer cheguei a conhecer a mulher que é responsável por tirar a vida do meu filho”, disse.

A avó de Miguel, a também empregada doméstica Marta Alves, se emocionou ao ver a presença de centenas de pessoas pedindo justiça pelo neto, em frente ao antigo local de trabalho.

“Eu creio que a justiça vai ser feita. Eu clamo por justiça. Eu fiquei muito emocionada ao chegar aqui e ver tanta gente. Ela vai ter que explicar por que Miguel foi para o elevador”, declarou.

“Os capitães-do-mato nos tiram o direito de ver crescer nossos filhos. Este ato é pela dor de cada mãe que enterrou seus filhos, é um grito contra a violência policial, contra a miséria que se volta para este país. Não temos políticas públicas que garantam a vida dos negros e negras no Brasil. Não estamos pedindo direitos, nós temos direito”, afirmou Linda Ferreira, membro da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen). Ela disse que a morte de Miguel é resultado de uma estrutura racista que, desde os tempos do Brasil colonial, faz parte da sociedade.

Os manifestantes também levaram faixas e cartazes. Uma delas dizia que faltou à pátria da mãe de Miguel “um pouquinho de paciência”, frase dita pela avó do menino, Marta Alves.

Moradores do prédio se reuniram em dentro do prédio, com balões pretos e vestindo camisas da mesma cor. Eles ostentavam uma faixa com a hashtag #JustiçaPorMiguel, que desde a quinta-feira (4) acumula centenas de milhares de publicações nas redes sociais. Às 14h48, eles soltaram os balões em meio aos aplausos dos manifestantes.

Por volta das 15h45, manifestantes se deitaram no meio da rua, na frente das “Torres Gêmeas”. Alguns estavam com o rosto voltado para o asfalto, como se fizesse orações. Coroas de flores foram deixadas na frente do prédio.

No fim do ato, por volta das 16h30, fabiana, uma das tias de Miguel Otávio, foi consolada por manifestantes. Ela se abaixou na frente das coroas de flores, colocadas na calçada do prédio, e fez orações.

Repercussão

Nesta sexta, a doméstica Mirtes Renata participou do programa Encontro com Fátima Bernardes, da TV Globo. Emocionada, ela contou mais uma vez como tudo aconteceu e desabafou. Afirmou que foi a primeira vez que “confiou o filho a ela [patroa] e ela deixou o menino ir para a morte”.

Também nesta sexta, o Ministério Público e o Tribunal de Contas de Pernambuco começaram a investigar a informação de que Mirtes era contratada da prefeitura de Tamandaré, comandada pelo patrão. Ela faz parte do quadro de servidores comissionados, desde 2017, e recebia um salário mínimo.

Três dias após a morte de Miguel, a prefeitura de Tamandaré divulgou, nesta sexta, uma nota oficial afirmando que o prefeito do município, Sérgio Hacker Corte Real (PSB), “se encontra profundamente abalado” pela perda de Miguel Otávio Santana da Silva, de 5 anos.

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