Tumulto

Nove pessoas morrem pisoteadas durante baile funk

Policiais realizavam Operação Pancadão na região de Paraisópolis, quando dois homens em uma motocicleta teriam atirado contra os agentes.

Nove pessoas morrem pisoteadas durante baile funk

Durante a confusão, pessoas foram pisoteadas e levadas em estado grave ao Pronto Socorro do Campo Limpo. — Foto:Reprodução

Nove pessoas – uma mulher e oito homens – morreram pisoteadas durante um baile funk na comunidade de Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo, na madrugada deste domingo (1º), depois de uma perseguição policial seguida de troca de tiros, segundo informações da Polícia Civil. Outras sete pessoas ficaram feridas.

Policiais do 16º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano (BPM/M) realizavam Operação Pancadão na região de Paraisópolis, quando dois homens em uma motocicleta teriam atirado contra os agentes. A dupla fugiu em direção ao baile funk, ainda efetuando disparos, segundo a polícia, causando tumulto entre os frequentadores do evento.

De acordo com a mãe de uma adolescente que estava no local e foi atingida por uma garrafa, no entanto, os policiais fizeram uma emboscada contra as pessoas que estavam no baile.

A adolescente de 17 anos, ferida durante a confusão, descreveu o momento em que foi atingida. “Eu não sei o que aconteceu, só vi correria, e várias viaturas fecharam a gente. Minha amiga caiu, e eu abaixei pra ajudá-la”, disse. “Quando me levantei, um policial me deu uma garrafada na cabeça. Os policiais falaram que era pra colocar a mão na cabeça”, relata.

A Operação Pancadão tem sido periodicamente realizada em toda a capital “para garantir o direito de ir e vir do cidadão e impedir a perturbação do sossego, fiscalizando a emissão ruídos proveniente de veículos”, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública.

Segundo a polícia, equipes da Força Tática, ao chegarem para apoiar a ação em Paraisópolis, levaram pedradas e garrafadas. Os policiais, então, revidaram com munições químicas para dispersão – e, de acordo com informações da polícia, alguém no meio da multidão disparou um tiro e houve correria.

Durante a confusão, pessoas foram pisoteadas e levadas em estado grave ao Pronto Socorro do Campo Limpo. Duas viaturas da PM foram depredadas.

Adolescente foi agredida por policiais, diz mãe
“(Minha filha) levou uma garrafada na cabeça de um policial, deram um cassetete nas costas dela. Ela está lúcida e aguardando a tomografia”, disse a mãe. “Quando eu a vi, não a reconheci. Ela estava com o rosto deformado e perdeu muito sangue. Estava em choque.”

“É uma rua com 2 ou 3 saídas. Eles fecharam e coagiram. Atiraram com arma de fogo – não só com bala de borracha. Bateram com cassetete, fora (o uso de) spray de pimenta. Eles [os frequentadores] estavam só curtindo”, disse a mãe da vítima.

“Os policiais fecharam a rua. Teve corre-corre, pisoteamento de adolescente. Gás de pimenta, bala de borracha, e ainda estavam agredindo pessoas. Foi um policial que atacou garrafa de vidro na minha filha”, completou.

Em novembro, uma jovem perdeu a visão de um dos olhos ao ser atingida por uma bala de borracha da polícia na dispersão de um baile funk na Zona Leste de São Paulo.

‘Muito tiro’
Um jovem de 18 anos, que não é morador de Paraisópolis, mas que costuma frequentar os bailes, disse que viu muitos adolescentes passando mal e desmaiando, por causa das bombas de gás atiradas pela polícia.

“Chegaram atirando em todo mundo. A gente estava no baile e primeiro veio a bomba. Começaram a cair as pessoas, passando mal, e a desmaiar, sendo pisoteadas. Ficamos encurralados. Não tinha para aonde correr, para aonde ir. Muita gente caindo já morta, a polícia atirou. Muitas pessoas tentavam salvar a própria vida. Vi muito sangue e escutei bastante barulho de tiro”, disse o jovem.

A mãe dele afirmou: “Foi meio tenso, a polícia queria saber se meu filho estava no baile funk. É uma guerra ao pobre. Se fosse nos Jardins (bairro de luxo em SP), a coisa seria nem diferente. Até a forma da polícia abordar é diferente. O problema não é o funk, é a cultura da periferia, é o lazer.”

O delegado Emiliano da Silva Neto, do 89º DP, afirmou que todas as vítimas morreram pisoteadas e que ninguém foi vítima de disparos. “Policiais militares pararam duas pessoas em uma moto. Eles entraram onde estava ocorrendo a festa e continuaram atirando nos policiais. Em decorrência desse tiroteio, houve um efeito manada, teve uma viela com escadaria, e as pessoas pisotearam umas nas outras”, disse ele. “Nove morreram. Todas elas estão com graves lesões de pisoteio, não tem nada de perfuração ou alguém atingido por projétil de arma de fogo.”

Governador pede apuração ‘rigorosa’
O governador João Doria (PSDB) pediu “apuração rigorosa” do episódio.

“Lamento profundamente as mortes ocorridas no baile funk em Paraisópolis nesta noite. Determinei ao Secretário de Segurança Pública, General Campos, apuração rigorosa dos fatos para esclarecer quais foram as circunstâncias e responsabilidades deste triste episódio”, escreveu Doria, no Twitter.

Pancadões
Os bailes funks em comunidades de São Paulo ocorrem de quinta-feira a domingo, até a madrugada, nas zonas Leste, Sul e Norte da capital paulista.

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