Faltando menos de uma semana para a exumação, a família do ex-presidente João Goulart aguarda com ansiedade o procedimento, que será realizado na próxima quarta-feira (13), em São Borja, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul. O início das atividades está previsto para as 7h no Cemitério Jardim da Paz, onde o corpo de Jango foi sepultado há quase 37 anos. À tarde, os restos mortais irão a Santa Maria, de onde serão levados a Brasília na manhã de quinta-feira (14), através de um avião da Força Aérea Brasileira (FAB).
Um dia antes dos trabalhos, na terça-feira (12), uma audiência pública será realizada na cidade. Mais de dez familiares acompanharão a exumação. “Vamos a São Borja na segunda-feira (11) e ficaremos até quinta (14), quando viajaremos a Brasília. Toda a família estará presente. É um marco histórico para o país. O estado reconheceu a importância de resgatar a história”, disse ao G1 o neto de Jango, Christopher Goulart.
No Distrito Federal, o corpo de João Goulart será recebido com honras de chefe de Estado. Depois, irá ao Instituto Nacional de Criminalística, onde serão realizados os testes e enviadas amostras dos restos mortais a laboratórios internacionais. No dia 5 de dezembro, o corpo de Jango voltará ao RS e será recebido no Palácio Piratini, em Porto Alegre, pelo governador Tarso Genro. No dia seguinte, data que marca os 37 anos da morte do ex-presidente.
Em meio à expectativa da exumação e os testes que poderão comprovar se João Goulart foi envenenado durante exílio na Argentina, em 1976, Christopher não teme que o laudo que apontará a causa da morte seja inconclusivo. Para ele, existem outros dados probatórios que podem comprovar a tese da família.
“Estamos cercados de incertezas. Não se sabe se as condições dos restos mortais, os fatores climáticos, podem influenciar no resultado da perícia. Mas a exumação é apenas um dos meios que temos. O que podemos dizer é que, mesmo que isso ocorra, não colocará um ponto final nas suspeitas. Não isentaria a ditadura de nada. As torturas, as mortes, tudo isso seguirá sendo investigado pela Comissão Nacional da Verdade (CNV)”, afirma.
“Temos certeza que o procedimento vai gerar um impacto muito grande na sociedade brasileira. Meu avô era o perseguido político número um da ditadura militar na América Latina. É uma luta de muitos anos, sempre tivemos persistência. Essas desconfianças sempre existiram, desde o primeiro instante da morte”, reforça.
A exumação de Jango
O processo terá a participação de um perito cubano que trabalhou na exumação do revolucionário Ernesto Che Guevara. Outros técnicos estrangeiros também participarão dos trabalhos em São Borja. O grupo chegará ao Rio Grande do Sul na segunda-feira (11). Na quinta-feira (14), os restos mortais de Jango serão levados a Brasília.
A previsão é que, após a realização de exame antropológico e de DNA, para identificar o corpo, sejam coletados os materiais necessários para outros testes no exterior.
A exumação deve apurar a suspeita de que Jango tenha sido assassinado por envenenamento, durante exílio na Argentina, o que contraria a versão oficial de que ele foi vítima de um ataque cardíaco. Uma cápsula teria sido colocada no frasco de medicamentos que Jango tomava regularmente para combater problemas no coração.
O plano para a morte do ex-presidente teria sido executado por agentes da ditadura uruguaia durante a Operação Condor (uma aliança entre as ditaduras militares da América do Sul nos anos 1970 para perseguir opositores dos regimes), a pedido do governo militar brasileiro. Os militares suspeitavam que João Goulart estivesse planejando sua volta ao Brasil por ter recuperado seus direitos políticos.