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Sérgio Mallandro: ‘Ninguém me leva a sério. Acompanhando um enterro, ouvi ‘glu-glu”

Numa consulta médica, Mallandro já ouviu que estava com a pressão arterial altíssima. Assustado, foi logo acalmado: "É pegadinha", exclamou o doutor.

Sérgio Mallandro: 'Ninguém me leva a sério. Acompanhando um enterro, ouvi 'glu-glu''

Sérgio Mallandro, em cena da peça 'Ninguém me leva a sério pô... ráá!' — Foto:Bruna Issa / Divulgação

O fato é incontestável: ninguém trata Sérgio Mallandro com seriedade.

— As pessoas acham que comigo é tudo brincadeira, bicho. É só ié-ié pra lá e glu-glu pra cá — conta o humorista de 64 anos, em referência ao bordão consagrado como marca pessoal.

Mas ele não se incomoda. A percepção — e o autorreconhecimento — de ser visto apenas como uma espécie de piada ambulante inspira, aliás, o novo solo de comédia que o ator estreia, neste fim de semana, no Teatro XP Investimentos, no Leblon, na Zona Sul do Rio.

Em “Ninguém me leva a sério pô…ráá!”, o carioca de sotaque carregado passa a limpo uma série de situações (“diárias”, segundo ele) que representam, com doses de absurdo, a máxima do título. Todos os relatos são baseados em histórias verídicas.

Há poucos meses, por exemplo, enquanto acompanhava um enterro, topou os olhos com um rapaz que permanecia ao lado do caixão e ouviu “glu-glu”. Abaixou a cabeça, sem graça, mas o homem insistiu com o sorriso.

Em casa, os gracejos também não dão trégua. “Num dia desses”, como Mallandro recorda, ao receber uma nova cozinheira em seu primeiro dia de trabalho, o comediante perguntou o que ela prepararia para o almoço. A empregada recém-contratada respondeu às gargalhadas que faria “glu-glu”.

— Recentemente, voltei de um show às 7h30 da manhã, cansadíssimo, e estava no elevador do prédio para chegar ao meu apartamento, no 15º andar. Um cara também entrou no elevador para saltar no 3º andar. Educadamente, falei: “Bom dia”. E aí ele olhou para mim, virou pra lá e não me cumprimentou. Dali a pouco, ouvi: “Rááá!”. O cara tinha apertado todos os botões do elevador, e ficou gritando: “Pegadinha!, pegadinha!”. Demorei meia hora para chegar até o 15º. Queria matar um. Mas ia fazer o quê? — rememora.

Não faltam exemplos de circunstâncias semelhantes. Ele mesmo vai listando os causos sem conter os risos e os recorrentes “glu-glu”, “ié-ié” e “rá”, expressões utilizadas como vírgula.

Numa consulta médica, Mallandro já ouviu que estava com a pressão arterial altíssima. Assustado, foi logo acalmado: “É pegadinha”, exclamou o doutor. Outra vez, numa rua do Rio, teve a motocicleta enguiçada e não conseguiu ajuda, já que todos achavam que se tratava de uma… pegadinha.

— Esse comportamento das pessoas passou a ser uma demonstração de carinho e amor. Talvez tenha que haver um limite aí, mas acho muito legal isso tudo. Minha vida é um parque de diversões — comemora. — Se estiver triste, nem saio de casa. Basta eu colocar o pé na calçada para as pessoas falarem: “Ih, caiu um negócio da sua bolsa”. E depois: “É pegadinha, Mallandro!”. Até em WhatsApp, me zoam. Toda semana, sou excluído de algum grupo, mas depois me adicionam de novo e falam que era brincadeira.

Os momentos de instrospecção são raros. Mallandro até curte assistir a séries na televisão em dias de folga, mas admite que possui dificuldade para se concentrar numa só atividade. E isso não é pegadinha:

— Também leio livros de vez em quando. Mas tenho o problema de sempre começar e nunca acabar a leitura. Até já li um livro de trás pra frente, acredita? — diz. — Sou aquele cara que não se fixa em coisa nenhuma. Começo a ler, e aí no minuto seguinte já estou fazendo outra coisa. Com série, é igual: inicio o “Messiah”, na Netflix, e aí coloco o “Vikings”, do History Channel. No fim das contas, confundo tudo (risos), e já nem sei o que estou vendo.

Reality e filme à vista

Solteiro, ele se prepara para gravar um reality que acompanhará sua convivência com 12 ex-mulheres dentro do apartamento onde mora. As informações sobre o programa ainda são tratadas com total sigilo — nem o nome da emissora pode ser revelado —, e as participantes da atração ainda estão sob definição.

— Serão 12 mulheres que já passaram pelo Mallandro. E com vários tipos de contato: pode ter a que ficou comigo só durante uma noite e a que manteve um relacionamento sério. Vai ser divertido. Há uma participante que eu nem lembrava que já tinha ficado — adianta. — Quem sabe não posso voltar para uma ex? Estou aí na pista, e vou provar que figurinha repetida completa álbum, sim. Vai ser um programa sem lei. As mulheres vão falar tudo mesmo: poderão dizer se fui ingrato, se brochei na cama ou se mandei muito bem.

Em junho de 2020, ele se debruça sobre outra novidade. É que começará a gravar o filme “Sérgio Mallandro — O errado que deu certo”, uma derivação do bem-sucedido espetáculo autoral de stand up.

Com direção de Pedro Antônio (de “Um tio quase perfeito” e “Tô ryca!”) — e participação de nomes como Xuxa e Dedé Santana —, o longa-metragem acompanhará uma história fictícia protagonizada pelo humorista: na trama, ele é eliminado de um reality-show e precisa “cortar um dobrado” para sustentar os dois filhos.

Enquanto a estreia na telona não acontece, Mallandro mantém uma agenda regular de shows motivacionais (e bem-humorados) em empresas e corporações, além do próprio ofício no teatro. Ocasionalmente, também realiza apresentações com a banda Salci Fufu, com músicas da década de 1980.

‘Porta dos desesperados’ de volta

Criações do passado também dão as caras, de maneira repaginada, no novo “Ninguém me leva a sério pô…ráá!”. Numa passagem do novo espetáculo, Mallandro recompõe, com participantes da plateia, o quadro “Porta dos desesperados”, do extinto programa “Oradukapeta”, do SBT. A ideia é fazer o público pagar prendas no palco numa disputa por prêmios (no caso, um videogame Hatari ou um boné do Mallandro).

— Estou trabalhando bastante, graças a Deus. Neste mundo do que jeito que está, não dá para dar mole. Tenho que me reinventar todos os dias. E é assim que vivo feliz, mais leve — garante. — Minha vida é uma piada, e acabo entrando nessa brincadeira. Prefiro ver a vida com humor.

De repente, ele lembra que os livros mais atraentes, em sua opinião, são os de auto-ajuda. Há muitos do gênero em sua prateleira, reforça:

— Adoro aqueles com título “Um minuto de sabedoria”. Gosto desses incentivos — comenta. — Tenho visto as pessoas acordarem e já falarem: “Ai, estou cheio de problemas”. Mas a maioria delas sempre confunde problema com obstáculo. E obstáculo todos nós temos: é boleto para pagar, é dor no pé, é namorada que abandona namorado, é celular que se perde… São fatos do dia a dia! Problema mesmo é quando você vai ao hospital e sabe que uma pessoa que você ama está com os dias contados. Isso, sim, é problema. Graças a Deus, só tenho obstáculos. Mas não olho só para eles. Não tem como, né?

A pergunta não é retórica. Mallandro aguarda a confirmação do repórter, e tão logo sugere:

— O seu obstáculo, neste minuto, é me entrevistar e, depois, escrever a matéria. Se você atrasar a entrega do texto, vai morrer por causa disso? Não, né? Mas, se alguém reclamar, é só fazer um glu glu, ié ié.

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