
O que você espera de uma viagem em um transatlântico? Que ela ocorra de forma prazerosa, confortável, divertida e, é claro, sem sustos. Com o novo Peugeot 508 (R$ 119.990) é assim. O sedã grande está muito mais para um navio de cruzeiro do que para uma ‘barca’ – termo ligeiramente pejorativo que apelida carros desse porte.
Por sinal, o 508 de fato vem do outro lado do Atlântico. Importado da França, deveria custar ainda mais caro no Brasil, não fosse a redução do IPI recentemente anunciada para todos os carros vendidos no País.
Por esse preço, o francês vai competir não só com modelos de porte similar, como Hyundai Sonata, Kia Cadenza, Honda Accord e Volkswagen Passat, como também com os alemães menores – Mercedes-Benz Classe C, Audi A4 e BMW Série 3.
Dentre todos esses carros, o 508 é o que tem o menor motor. Vem equipado com o já famoso, aclamado e premiado 1.6 turbo com injeção direta de gasolina desenvolvido em parceria com a BMW. No Peugeot, ele foi calibrado para gerar 165 cv de potência. É menos do que os 180 cv do Kia Optima, empurrado por um quatro cilindros 2.4. É menos, aliás, do que praticamente toda a concorrência direta.
Isso, no entanto, parece não intimidar o 508, que tem nos bons números de torque seu principal trunfo no que diz respeito ao trem de força. Os 24,5 kgfm são entregues a baixíssimas 1.400 rpm. Isso quer dizer, trocando em miúdos, que o carro é esperto na aceleração desde cedo.
Combinado a um câmbio automático de seis velocidades, o bloco turbinado leva o carro de 0 a 100 km/h em 9,2 segundos, de acordo com a Peugeot. A velocidade máxima é de 220 km/h.
Performance e esportividade não são, entretanto, o foco desse carro. Aqui, o que importa é viajar com estilo, conforto, segurança e o máximo de tecnologia possível. E isso o 508 certamente entrega.
Preste atenção nesta lista de equipamentos: seis air bags, freios ABS, controle eletrônico de estabilidade e tração, faróis de xênon direcionáveis, auxílio de partida em aclive, central multimídia/Bluetooth com GPS integrado, tela de LDC de sete polegadas, Head-Up Display (exibe informações como velocidade logo abaixo do para-brisa), ar-condicionado automático com quatro zonas, controle de cruzeiro, volante multifuncional, assentos dianteiros reguláveis eletricamente, teto solar, sensores de estacionamento à frente e atrás e freio de estacionamento elétrico automático.
Além deles, também merecem destaque o sistema que mede o tamanho da vaga de estacionamento para dizer se a baliza é fácil, difícil ou impossível e a câmera responsável por garantir que seu farol alto não ofusque motoristas que vão à frente ou que vêm em sentido contrário.
Todo esse pacote vem acompanhado de um interior sóbrio, muito elegante, repleto de materiais de ótima qualidade e de detalhes de design que cativam o motorista (como o pequeno detalhe iluminado na alavanca do câmbio). O painel é todo revestido em plástico emborrachado suave, enquanto aço escovado, couro e acabamento “black piano” também são abundantes.
O aspecto geral do interior é excelente, embora menos criativo do que em um Mercedes-Benz, por exemplo. Em qualidade e requinte de acabamento, no entanto, o Peugeot 508 certamente dá show em cima dos coreanos. Se fosse para comparar, diria que se aproxima muito da simplicidade chique da BMW.
Por fora, a escola Peugeot de design não faz feio – e inclusive acertou na mosca nas formas da traseira. As obrigatórias luzes diurnas de LED estão presentes na frente e criam um interessante padrão de “flor”. Os faróis e os vincos do capô se inclinam e apontam para o centro, para a grande grade no atual padrão francês.
Na estrada
O R7 dirigiu o novo Peugeot 508 por cerca de 60 km em um percurso majoritariamente rodoviário e (eba!) cheio de curvas nos arredores de Campos do Jordão (SP).
De cara, o primeiro aspecto que impressiona é o extremo silêncio no interior. Praticamente não há barulho de rodagem de pneus ou motor. Achar a posição ideal de dirigir exige algum esforço. Para pessoas altas, é um tanto complicado encontrar um meio termo entre elevação do volante e distância dos joelhos. Mas nada que não seja solucionável com alguma paciência e com o ajuste (manual) da coluna de direção.
A grande curiosidade de todos que aguardavam para testar o 508 era sobre o desempenho de motor e câmbio. Isso porque 165 cv parece pouco diante de um carro que pesa 1.410 kg quando vazio.
A verdade é que o bloco, mais uma vez, não decepciona. A aceleração não é absurda, mas é suficiente para que o motorista realize ultrapassagens sem tomar sustos. Nessa situação, o melhor é optar pelo modo S (de Sport), que eleva as rotações para extrair o máximo do carro.
O condutor também pode optar por trocas de marchas manuais, realizadas por meio de “borboletas” atrás do volante ou da própria alavanca de câmbio. Ponto positivo para a Peugeot nesse esquema: para cima, marcha abaixo; para baixo, marcha acima.
Em uma condução normal, no modo econômico, o motorista mais afoito pode achar as respostas do câmbio e do motor um tanto lentas. A verdade é que, nessa situação, todo o conjunto é voltado para otimizar o consumo de combustível, um dos pontos reconhecidamente positivos desse motor. Nós deixamos essa prudência de lado e rodamos sempre exigindo o máximo. Mesmo assim, a média não foi nada decepcionante: 9,5 km/l.
Em trechos sinuosos, outra surpresa: apesar de ser um sedã grande, o Peugeot 508 tem bem pouca rolagem lateral. Tentamos, e não conseguimos, fazer os pneus cantar em algumas curvas. Até o limite em que a segurança permitia, o 508 se mostrou muito estável. Claro, quem está acostumado com o “rodar nas nuvens” de um Audi A4 pode achar que a suspensão (McPherson na frente, travessa deformável atrás) é um tanto dura demais e transmite muito as variações do solo. Questão de gosto.
Outro bom destaque vai para os freios a disco nas quatro rodas, que respondem prontamente quando exigidos e ainda contam com distribuição eletrônica de força e auxílio de emergência – que aplica força total ao sistema quando identifica uma situação de perigo.
Mas é na hora da frenagem que o 508 mostra um de seus poucos defeitos (além do alto preço): o carro tem um “balanço” considerável, pendendo para frente quando o motorista pisa no pedal.
Luxo para poucos
Mesmo que custasse R$ 20 mil a menos, o fato é que será muito difícil para a Peugeot emplacar esse carro no Brasil. Primeiro porque ainda há um preconceito besta contra autos franceses caros no País. Segundo porque sua concorrência já está bem mais consolidada. Diante disso, a expectativa é de vender no máximo 40 unidades por mês.
O que dá para dizer é que o patrão que resolver comprar esse belo carro para rodar apenas como passageiro no banco de trás não ficará decepcionado. Há bastante espaço para pernas e cabeça (são 2,81 m de entre-eixos e 1,85 m de largura).
Talvez não agrade tanto a operação complicada do completo sistema multimídia – parece que a Peugeot quis copiar a BMW nesse quesito. Mas, se isso não for empecilho, e se o doutor tiver quase R$ 120 mil dando sopa, o 508 deve figurar como um bom candidato. Não, ele não emociona, mas entrega basicamente tudo que um sedã (ou um transatlântico) grande e confortável deve entregar.