Cinema

Novo ‘Animais Fantásticos’ tem Maria Fernanda Cândido bruxa e Dumbledore gay

As cores verde e amarela tremulam conforme aquela turba caminha e logo fica claro para o espectador — chegou a hora de o "Wizarding World", o mundo mágico de "Harry Potter", visitar o Brasil.

Novo 'Animais Fantásticos' tem Maria Fernanda Cândido bruxa e Dumbledore gay

Maria Fernanda Candido em cena do filme "Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore", de David Yates Maria Fernanda Cândido em cena do filme "Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore", de David Yates. — Foto:Reprodução

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) — Uma multidão de pessoas vestindo roupas de época se aglomera em ruas cenográficas, empunhando cartazes, bandeiras e varinhas. Em vários deles, é possível ver o rosto delicado mas marcante de uma mulher, com o nome Vicência Santos escrito abaixo. As cores verde e amarela tremulam conforme aquela turba caminha e logo fica claro para o espectador — chegou a hora de o “Wizarding World”, o mundo mágico de “Harry Potter”, visitar o Brasil.

No novo “Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore”, o país ganha um aceno de uma das maiores franquias do cinema, sendo representado pela atriz Maria Fernanda Cândido, no papel de uma candidata ao posto de líder do mundo bruxo.

Mas é bom os fãs não se animarem tanto assim. Apesar de uma grande participação do Brasil no terceiro filme da saga “Animais Fantásticos” ter sido prometida, o país acabou relegado à tímida aparição de Cândido e mais poucos segundos de tela — numa cena ambientada no parque Lage, no Rio de Janeiro, que se piscar, você perde.

Originalmente, “Os Segredos de Dumbledore” deveria tomar o Brasil dos anos 1930 como cenário, mas a pandemia impediu que sua equipe viajasse para cá e, após uma série de mudanças na trama — o roteiro de J. K. Rowling e Steve Kloves é baseado num outro roteiro da mesma Rowling, veja só —, o país acabou preterido por Reino Unido, Estados Unidos, Alemanha e Butão.

Será, portanto, um filme com gosto agridoce para o Brasil, lar de um público avassalador de potterheads – como são chamados os fãs obcecados por “Harry Potter”.

Cândido sentiu, aliás, uma responsabilidade enorme ao representá-los dentro da franquia, tendo poucos minutos para brilhar.

Em entrevista por vídeo, ela conta que chegou ao projeto de surpresa, após um teste para um filme de fantasia que, antes de assinar o contrato e vários termos de confidencialidade, não sabia se tratar da popular franquia. Quando descobriu, vibrou, já que “Harry Potter” faz parte da memória afetiva dela com os filhos.

“Foi muito desafiador, porque esse foi meu primeiro filme na Inglaterra e um set de filmagem é sempre uma reprodução daquele caldo cultural. Eu gostei muito de ter esse contato com o jeito deles de fazer cinema, que é bastante específico”, diz a atriz sobre a coprodução entre Reino Unido e Estados Unidos.

“E é claro que, por ser uma produção enorme, houve também um aprendizado enorme. A gente gravou muito com fundo verde e eu nunca tinha feito um filme com efeitos especiais nesse nível, então tive que aprender a contracenar com elementos que nem estavam em cena.”

Ela teve que aparecer, por exemplo, com um qilin, criatura fantástica que tem papel fundamental nas eleições bruxas que Cândido protagoniza em “Os Segredos de Dumbledore”. Também precisou fazer magia com sua varinha, objeto tratado de forma ritualística no set, ela conta.

Curiosamente, nesta mesma quinta (14), quando “Os Segredos de Dumbledore” chega aos cinemas brasileiros, um outro filme estrangeiro estrelado por Cândido estreia. “O Traidor”, do italiano Marco Bellocchio, foi como uma porta de entrada para ela no mercado internacional, e atriz diz ter sido um marco em sua carreira.

Sem contrato fixo com a Globo há uma década e meia, ela ainda deve praticar o italiano e o francês em outros longas e apresentar, nos palcos de Paris, o monólogo “Ballade au-dessus de l’Abime”, ao lado da pianista Sonia Rubinsky.

Quem sabe, diz a atriz, Vicência Santos também não volta a ocupar seus dias no futuro próximo, já que há outros filmes de “Animais Fantásticos” programados. “A gente não sabe de nada, mas podemos torcer, isso a gente pode.”

“Os Segredos de Dumbledore”, junto aos antecessores “Animais Fantásticos e Onde Habitam” e “Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald”, de 2016 e 2018, prepara terreno para uma inevitável guerra de proporções gigantescas no mundo bruxo. Já sabemos que ela existiu pelos livros de “Harry Potter”, mas sua aparição nas telas promete ser catártica, num eventual quarto ou quinto filme da saga.

Ocorrido em paralelo à Segunda Guerra Mundial, o conflito ecoa o clima presente na Europa dos anos 1930, opondo líderes fascistas a quem prega que devemos viver em harmonia com nossas diferenças. Um tanto irônico vindo da mente de uma escritora como J.K. Rowling, que há anos vem sendo cancelada por atacar a comunidade trans nas redes sociais.

Em “Os Segredos de Dumbledore”, vemos como o demagogo Gellert Grindelwald vai deixando de ser um criminoso procurado para ser alçado a uma posição de destaque no cenário político, com seu discurso ufanista e extremo, que prega que os bruxos são superiores aos trouxas -aqueles incapazes de fazer magia.

Aqui, no entanto, há uma pegadinha que não encontra equivalência no mundo real —Grindelwald e seu principal opositor, o lendário Alvo Dumbledore, eram amantes, que romperam justamente por suas diferenças políticas. No novo filme, pela primeira vez, fica claro que esse último personagem é gay, algo que Rowling nunca pôs nos livros e que era visto como “queerbaiting” por muitos fãs frustrados com a falta de diversidade concreta.

“Nós tivemos a oportunidade de voltar e desenvolver questões que eram apenas insinuadas nos livros ou filmes de ‘Harry Potter’. Foi importante nos livrarmos da imagem que tínhamos do Dumbledore, porque ele era outra pessoa na época em que o filme se passa”, diz Jude Law, ator que assume a versão jovem do personagem.

“Eu sempre pensei no Dumbledore como uma pessoa solitária, porque ele era brilhante desde muito jovem, então quando ele conhece esse outro rapaz, igualmente inteligente, isso cria uma conexão poderosa. Até que eles percebem que são pessoas diferentes, o que não apaga os bons momentos que eles compartilharam — na verdade, torna tudo mais difícil.”

As acusações de “queerbaiting”, de se promover em cima do público LGBTQIA+, no entanto, devem continuar, já que o romance não é tão essencial assim para a história, como a própria Warner Bros. sugeriu. No começo da semana, o estúdio baixou a cabeça para a censura e fez “um corte de seis segundos”, deixando o “espírito do filme intacto” e removendo menções à homossexualidade de Dumbledore para entrar no mercado chinês.

Na outra ponta do romance está Mads Mikkelsen, que assume Grindelwald no lugar de Johnny Depp, afastado da franquia após acusações de agressão feitas por sua ex-mulher, Amber Heard. Ao lado de Rowling e de Ezra Miller, preso por atacar pessoas num bar no mês passado, ele forma um trio que ajudou a tornar “Animais Fantásticos” uma dor de cabeça para Hollywood.

“Os Segredos de Dumbledore” chega agora com a missão de enfatizar uma mensagem de harmonia e corrigir problemas que contribuíram para que seus antecessores tivessem um desempenho aquém do esperado nas bilheterias e entre a crítica. As próximas semanas, com o longa nas salas, serão decisivas para saber se a magia continua forte e capaz de conjurar novas sequências para “Animais Fantásticos”.

ANIMAIS FANTÁSTICOS: OS SEGREDOS DE DUMBLEDORE
Quando: Estreia nesta quinta (14), nos cinemas
Classificação: 12 anos
Elenco: Eddie Redmayne, Jude Law e Mads Mikkelsen
Produção: Reino Unido/EUA, 2022
Direção: David Yates

O TRAIDOR
Quando: Estreia nesta quinta (14), nos cinemas
Classificação: 16 anos
Elenco: Maria Fernanda Cândido, Pierfrancesco Favino e Fabrizio Ferracane
Produção: Itália/Brasil/Franã/Alemanha, 2019
Direção: Marco Bellocchio

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