Fernando Torquatto, de 38 anos, sempre fez sucesso com as mulheres. Casado há pouco mais de sete meses com a produtora Marina Morena, ele fala do assédio feminino dos tempos de solteirice. “Muitas mulheres me abordavam, mesmo que eu não tivesse dado abertura”, diz. A aparência física de Torquatto é uma óbvia explicação para seu sucesso com o sexo oposto. Mas não é a única. Torquatto não se encaixa no senso comum de que as mulheres preferem o tipo galã machão. Um dos maquiadores mais disputados do país, está entre os poucos homens heterossexuais capazes de diferenciar uma sombra (usada para realçar os contornos dos olhos) de um glitter (aquele pó brilhante que se coloca nas pálpebras). E ainda pode dar dicas para a mulher sobre qual produto comprar para fazer o brilho durar mais tempo. Diz adorar pensar na decoração da casa e não se incomoda em discutir a relação – uma prática abominada pela maior parte dos homens. “Acho que chamo tanto a atenção das mulheres porque sou muito gentil”, diz Torquatto. “Faço a corte mesmo para minhas amigas e pessoas com quem trabalho.”
Essa explicação acaba de ganhar sustentação acadêmica. De acordo com um estudo recém-publicado por Brendan Zietsch, pesquisador da Universidade de Queensland, na Austrália, o segredo do sex appeal está na presença de supostos genes gays. Quando misturados com genes héteros na medida certa – não a ponto de tornar a pessoa homossexual, mas o suficiente para equilibrar características dos dois sexos –, fariam uma mulher ou um homem irresistíveis.
A teoria polêmica não saiu da cabeça do pesquisador australiano. Ele apenas tentou comprová-la com dados reais. Associou a orientação sexual de quase 5 mil gêmeos australianos – de ambos os sexos – ao número de relacionamentos que cada um teve. Descobriu que os heterossexuais com irmão ou irmã gay haviam tido mais parceiros durante a vida do que os héteros irmãos de héteros. O resultado comprovaria a tese: os gêmeos de homossexuais seriam mais atraentes porque, assim como os irmãos, teriam uma porção dos supostos genes gays.
A idéia circula entre acadêmicos há dez anos. E é apenas uma das teorias que tentam explicar como supostos genes que determinariam a homossexualidade teriam evoluído. A questão intriga os cientistas porque desafia as leis da seleção natural. Os genes gays deveriam ter desaparecido da população porque homossexuais têm poucos ou nenhum filho – e, portanto, o número de indivíduos que herdam esses genes iria diminuindo com o passar das gerações. A tese mais antiga para explicar a sobrevivência dos genes gays é de que os homossexuais ajudariam a criar os filhos de seus irmãos. Com mais recursos e atenção, esses descendentes teriam mais chances de sobreviver e transmitir os genes da família (entre eles, alguns dos genes gays). Essa teoria anda em descrédito porque os cálculos matemáticos mostram que apenas ajudar na criação dos sobrinhos não compensaria, em termos de propagação de genes, os filhos que os gays deixariam de ter.
Outras teses só funcionam para explicar a homossexualidade masculina, como a que afirma que, em mulheres, o gene gay aumentaria a fertilidade – daí sua propagação maior. Segundo pesquisas do primatologista italiano Andrea Camperio Ciani, da Universidade de Pádua, mães de homens homossexuais têm em média 2,7 filhos, enquanto as de heterossexuais têm 2,3. As tias maternas de gays têm 2 bebês em média. As de heterossexuais, 1,5.
A teoria em que Zietsch se baseou consegue explicar a homossexualidade de homens e mulheres. Ela pressupõe que os genes gays estimulariam a reprodução da espécie porque aumentariam a atratividade de ambos os sexos. Os homens com uma pequena porção de genes gays seriam mais sedutores porque teriam mais sensibilidade e empatia, características consideradas atraentes pelas mulheres. O que parece um contra-senso, porque elas geralmente são atribuídas ao sexo feminino. Mas, do ponto de vista evolutivo, essas características femininas nos homens indicariam um bom partido: um pai provedor e atencioso para os futuros filhos, que, por isso, lhes daria mais chances de sobrevivência. Nas mulheres, alguns poucos “genes gays” aumentariam o impulso sexual e a competitividade, o que faria com que elas tivessem mais parceiros e aumentassem suas chances de reprodução. Apenas quando encontrados em excesso em uma pessoa, esses genes a predisporiam à homossexualidade.
Se a linha que separa um gay de um hétero, de acordo com essa teoria, parece tão tênue – uma questão de genes a mais ou a menos –, explica-se por que muitos homossexuais exerçam tanta atração sobre as mulheres. O designer de jóias escocês Graeme McColm, de 36 anos, já cansou de agüentar garotas tentando “convertê-lo” à heterossexualidade. Ele faz o tipo “homem dos sonhos”. A começar pela aparência: tem 1,82 metro de altura, cabelos castanhos, olhos azuis e barba cerrada. Diz ter visto uma mulher derrubar café no colo da amiga enquanto passeava pela King Road, um dos endereços mais elegantes de Londres, onde mora. Afirma que foi atacado durante uma festa por uma garota que lhe tascou um beijo, e sempre que vai a clubes dançar ou a pubs alguma desavisada resolve jogar charme. Além dos atributos físicos, McColm ainda é simpático e bem-humorado. Entende de moda, adora arte contemporânea e é capaz de passar horas ao telefone contando com detalhes o último filme que viu no cinema. “Os héteros não são muito românticos e as mulheres estão carentes de atenção”, afirma McColm, assumido desde os 21 anos. “Por isso, homens com características mais femininas ou gays estão sempre rodeados de mulheres interessantes. Mas elas têm de entender que gay nasce gay.”
Os cientistas investigam há anos o que McColm garante com tanta convicção. Eles querem saber se a homossexualidade realmente tem raízes genéticas ou se é determinada apenas por fatores ambientais, como o tipo de educação. É quase consenso que a homossexualidade tem um forte componente genético. “É muito difícil encontrar estudos que consigam relacionar de maneira consistente a homossexualidade a fatores ambientais”, afirma o geneticista Renato Zamora Flores, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Por enquanto, a maior parte das pesquisas não foi muito além da especulação. O geneticista americano Dean Hamer foi quem chegou mais próximo de encontrar o famigerado “gene gay”. Em 1993, ele analisou 114 famílias de homossexuais e descobriu que os filhos gays e suas mães tinham genes em comum em uma região do genoma chamada Xq28. Quando presentes em homens, esses genes transmitidos pelas mães estariam associados à homossexualidade. O achado de Hamer é uma das pesquisas mais importantes na genética da sexualidade, mas não foi totalmente comprovado. Pesquisadores procuraram pelos genes do Xq28 em outros grupos de gays e não conseguiram encontrá-lo.
Fonte: Globo.com