Cultura

Miss Brasil Fashion receberá prêmio 19 anos após calote

O prêmio do Mulher Brasil 2000, criado para rivalizar com o tradicional e então decadente Miss Brasil, prometia a maior premiação já vista em uma disputa do gênero

Miss Brasil Fashion receberá prêmio 19 anos após calote

Sandra Gonçalves (47), a Penelope Tantan que venceu o concurso Miss Brasil Fashion 2000 — Foto:Bruno Santos/ Folhapress

Penélope Tantan não hesitou quando foi convidada a participar daquele concurso de beleza que se propunha a eleger não uma miss convencional, ingênua e previsível, mas uma “top model” fashion e de corpo malhado.

O prêmio do Mulher Brasil 2000, criado para rivalizar com o tradicional e então decadente Miss Brasil, prometia a maior premiação já vista em uma disputa do gênero.
A vencedora, representante do que os organizadores do evento chamavam de “geração saúde”, receberia um carro zero, uma viagem com acompanhante para Milão e um contrato com uma agência de modelos de R$ 150 mil, (valor corrigido pela inflação), além de um book fotográfico.

Penélope, nome artístico de Sandra Gonçalves, ganhou o concurso, levou a coroa, a faixa e algumas crises de depressão para casa, mas até hoje, 19 anos depois, não viu o tal prêmio, com exceção de uma passagem para Nova York, sem direito a estadia.
A modelo e atriz tinha uma ligeira fama à época. Apresentava um programa na CNT-Gazeta, o “Encontros Inesquecíveis”, no qual, a bordo de um Fusca rosa que comprara ainda na faculdade de artes cênicas, contava histórias de casais, famosos ou não. Também fizera figuração em novela e em outros programas.

Como achava que o concurso de miss serviria de trampolim para sua carreira, aceitou pagar uma taxa de inscrição salgada de R$ 3.450 (valor atualizado), além de se submeter a um conjunto de regras bastante rígidas.

Teve, por exemplo, de parar de trabalhar por um ano a fim de preservar a sua imagem, bem como precisou perder quatro quilos, afinal, o prospecto do concurso pregava que “as formas arredondadas do passado deveriam ceder lugar a corpos musculosos, fortes e flexíveis”.

Nos dez dias que antecederam à apresentação final, que seria transmitida pela Rede Record, as candidatas não puderam deixar o hotel desacompanhadas de uma coordenadora, assim como não lhes foi permitido sair dos seus quartos depois do chamado “horário de recolher”.

As misses eram proibidas ainda de receber parentes e afins em seus aposentos, assim como seriam desclassificadas, de acordo com o regulamento, se fumassem, ingerissem bebidas alcoólicas ou usassem drogas “em público”.

Penélope começou a desconfiar que as coisas não caminhavam bem quando soube que a cerimônia não seria no Anhembi, como anunciado.

Ficou intrigada também com a desistência da candidata representante do estado de São Paulo nas vésperas do concurso, inconformada pelo atraso no pagamento da premiação da etapa paulista.

“Mas a desilusão mesmo veio quando fui receber o prêmio”, conta. “Não recebi nada.” Penélope diz que passou a ser vítima de chacota entre os amigos e no meio artístico. O concurso acabou nem mesmo sendo exibido na televisão.

Passou a ter crises de ansiedade, de depressão e até mesmo ataques de pânico. Na base de remédios fortíssimos, afirma que chegou a engordar quase 50 quilos.

Ela também diz ter recebido ameaças anônimas depois de processar os organizadores do evento na Justiça e, coincidência ou não, as oportunidades de trabalho na televisão foram minguando.

Sem alternativa, doente e triste, resolveu tentar reconstruir sua vida em Águas de Lindoia, município do interior de São Paulo, onde abriu uma lojinha de artesanato.
Hoje, aos 47 anos, de volta a São Paulo, vende seguros. É proprietária da corretora Pedra Bruta. Mas se diz frustrada. “Era uma menina cheia de sonhos e perdi a carreira para a qual havia estudado tanto”, diz. “Nunca fui uma modelinho qualquer, fiz artes cênicas e dramáticas”, afirma.

No mês passado, recebeu uma boa notícia. A ação que já dura quase 15 anos foi finalmente julgada.

O Tribunal de Justiça condenou a empresa Enjoy Promotora de Concurso de Beleza a pagar-lhe cerca de R$ 185,7 mil por danos morais e materiais, valor que, com juros e correção monetária a serem calculados oficialmente pela Justiça, pode ultrapassar os R$ 600 mil.

“A autora foi tolhida da oportunidade de iniciar sua carreira de modelo, o que comprometeu severamente seu futuro profissional”, afirmou o relator do processo no TJ, desembargador José Carlos Ferreira Alves, referendando decisão de primeira instância.

Mario Izzo, advogado da Enjoy, diz que cabe recurso à decisão. A empresa afirma não saber se os prêmios foram pagos à época por não ter nada a ver com o evento. Diz que a antiga sócia, hoje falecida, “emprestou” a empresa para uma amiga que tinha experiência na produção de concursos e que só por mera formalidade o nome da Enjoy, hoje inativa, constou de alguns folhetos.

Considera também que o valor da condenação é excessivo, “um verdadeiro bilhete de loteria”. “Nem em caso de morte este tribunal costuma arbitrar valores tão altos.”
A defesa considera ainda que, mesmo que “eventualmente a premiação não tenha sido paga”, Penélope foi, sim, beneficiada pela sua participação no concurso.

De acordo com a empresa, por conta da disputa, a Mulher Brasil 2000 esteve em vários programas de televisão e teve sua imagem “divulgada para quem quisesse contratar seus serviços como modelo”. Não caberia, portanto, a afirmação de que sofreu danos morais.

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