Neutras

Palavras ”sem gênero” desafiam regras gramaticais para incluir pessoas que não se identificam como homem ou mulher

Apesar de serem palavras que não existem na norma culta, elas têm sido cada vez mais usadas, principalmente nas redes sociais.

Palavras ''sem gênero'' desafiam regras gramaticais para incluir pessoas que não se identificam como homem ou mulher

Novas palavras acompanham a diversidade social (foto ilustrativa) — Foto:Walla Santos/ClickPB

Qualquer pessoa que usa a internet com frequência pode acabar se deparando com expressões como ”elx”, ”delxs”, ”todes” ou ”menines”. São as palavras de gênero neutro, que foram criadas para contemplar pessoas que não se identificam com os gêneros masculino ou feminino, assim como para diminuir o aspecto machista da língua. Apesar de serem palavras que não existem na norma culta, elas têm sido cada vez mais usadas, principalmente nas redes sociais.

De acordo com o psicólogo Roberto Maia, que trabalha com a comunidade LGBTQI+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgênero, Queer, Interssexuais), a criação e o uso das palavras de gênero neutro partiu das pessoas e não foi uma imposição. Ele acredita que, mesmo as palavras não existindo oficialmente, o uso é importante para incluir pessoas que ”antes não eram contempladas como sujeitos”.

Roberto Maia destacou que a comunidade não binária tem crescido muito no Brasil e que tem atendido muitos jovens que não se identificam como homem ou mulher. Ele disse ainda que, embora a discussão seja recente no Brasil, em outros países, como o Canadá, por exemplo, os pronomes neutros já são usados há anos.

Além das pessoas não binárias, o uso de palavras mais neutras atende também as mulheres, que tendem a ser excluídas quando se fala para um grande público. A professora do Centro de Educação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Jeane Félix, acredita que a língua portuguesa é muito machista. ”O masculino genérico que a norma culta propõe não contempla as mulheres e outras pessoas que não se identificam”, afirmou ela, que tem um estudo sobre linguagem não sexista.

Para a professora, a inclusão linguística é uma das formas de inclusão possíveis. Ela acredita que quando a sociedade muda a própria língua reflete essa pluralidade. ”A gramática é um artefato cultural e precisa se adaptar”, comentou.

Tecnologia

Uma polêmica acerca do uso de palavras de gênero neutro é que elas não são reconhecidas pelos softwares de leitura usados por pessoas com deficiência visual, o que acabaria impedindo essas pessoas de entender o que está escrito.

De acordo com o professor de informática do Instituto dos Cegos da Paraíba, Gilson Batista de Souza, que trabalha com esses softwares, se a palavra não existir no dicionário, o programa terá dificuldade para fazer a leitura correta, mas a palavra será lida de uma forma ou de outra. ”Dependendo da palavra e do programa, ele pode ler letra por letra ou então tentar formar algum fonema”, explicou.

Gilson ressaltou que esses programas estão em constante evolução e, por isso, não deve demorar muito para que as palavras neutras sejam incluídas. ”Esses programas já conseguem ler aqueles emojis que as pessoas mandam, alguns conseguem fazer audiodescrição de imagens. Já evoluiu muito e no futuro deve melhorar”, afirmou.

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