Ítalo Cerqueira

Representante da PB, primeiro Mister Brasil negro diz à Folha que não existe ‘um padrão de beleza único’ no país

Além de ser o primeiro negro a vencer o Mister Brasil CNB, ele também se tornou o primeiro candidato da Paraíba e do Nordeste a conquistar o título.

Representante da PB, primeiro Mister Brasil negro diz à Folha que não existe 'um padrão de beleza único' no país

Apesar de representar a Paraíba no concurso nacional, Cerqueira é carioca. Ele se mudou para o estado nordestino aos sete anos. — Foto:Taís Abel/Assessoria

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O sargento do Exército Ítalo Cerqueira, 27, é o primeiro homem negro a vencer o concurso Mister Brasil CNB, realizado no último dia 5 –antes dele, foram 15 rapazes brancos no posto. Mas numa edição de primeiras vezes, como foi a deste ano, ele também se tornou o primeiro candidato da Paraíba e do Nordeste a conquistar o título.

“Não existe padrão de beleza único ou certo no Brasil. Não é só homem branquinho de cabelo liso que é bonito. Acredito que a beleza depende mais da essência da pessoa do que do seu exterior”, disse em entrevista à Folha de S.Paulo, revelando que desde a inscrição, já tinha o objetivo de se tornar o primeiro candidato negro a vencer o Mister Brasil.

“Estou muito surpreso, mas também satisfeito de ter conseguido. Quero mostrar a força do povo brasileiro, que é um povo de etnias diversificadas e um país mestiço”, completa ele.

Dos 40 candidatos da disputa, apenas cinco eram negros. Nesse grupo, além de Cerqueira, estavam o Mister Rio Grande do Sul, Thales Machado; o Mister Fernando de Noronha, Cuca Souza; o Mister Grande Belém (PA), Jonas Rodrigues; e o Mister Guamá (PA), Gilberto Melo. Nenhum deles se classificou entre os dez finalistas.

Na distribuição nacional, São Paulo é o estado que acumula mais títulos, somando quatro, seguido por Rio Grande do Sul (3), Distrito Federal (3) e Rio de Janeiro (2). Entre as descobertas do concurso estão os atores Anderson Tomazini, o Xodó de “O Outro Lado do Paraíso” (Globo), Lucas Malvacini, o Anjinho de “Amor à Vida” (Globo), os ex-BBBs Jonas Sulzbach, Rodrigão e Eliéser, e o modelo internacional Lucas Gil.

“Ao subir na passarela, levo comigo milhões de negros e negras que, diariamente, lutam para serem vistos, reconhecidos e valorizados. O preconceito ainda é muito grande no nosso país. Precisamos ocupar todos os espaços, inclusive o mundo da beleza, que por tanto tempo repetiu padrões valorizando uns e excluindo tantos outros”.

Apesar da declaração, ele afirma que em nenhum momento ou situação do processo seletivo do certame sentiu algum tipo de discriminação racial. “Ainda não caiu a ficha. Mas sei do peso que essa vitória tem. E isso me deixa muito honrado e feliz. É nossa negritude no topo!”.

Além de modelo, o jovem é também sargento do Exército e vai agora representar o país no Mister Supranational, no final do ano, na Polônia. “No quartel, no início, não queria comentar que ia participar, pois achei que teria algum preconceito. Porém, fui novamente surpreendido e todo o pessoal aceitou e torceu por mim, inclusive meu superior”, relata.

Apesar de representar a Paraíba no concurso nacional, Cerqueira é carioca. Ele se mudou para o estado nordestino aos sete anos. “Meu pai é militar aposentado e, quando eu era criança, ele foi transferido para trabalhar na Paraíba. Toda a família, então, mudou-se. Sempre digo que o sangue e o sotaque são de carioca, mas o coração é paraibano”.

Cerqueira afirma que seu maior desejo é mostrar que tudo é possível pra todos. “Se é um sonho, merece a devida atenção e dedicação. Nossa vontade de fazer esse sonho acontecer vai dizer muito sobre como enfrentaremos a jornada até a chegada ao destino final. É preciso se preparar e lutar, dia após dia, para alcançar o objetivo. Pode parecer difícil, árduo e, em alguns momentos, até bater o cansaço que desmotiva. Mas insista, pois a conquista passa a ser apenas uma questão de tempo”, diz.

Assim como o feminino Miss Brasil Mundo, o Mister Brasil CNB é licenciado oficial da Miss World Organisation, que realiza o Miss Mundo e o Mister Mundo. A avaliação dos rapazes segue os moldes do Mister Mundo (ou Mister World, no original), com provas preliminares classificatórias.

Os misters participaram de desfiles de moda praia e noite, prova de talentos, além de uma entrevista preliminar. Outro desafio que valeu pontos foi a apresentação e defesa de um projeto social, que deve ter sido idealizado e executado pelo próprio mister em sua região de origem.

Com o resultado final, não apenas o vencedor tem chance de representar o Brasil, pois a organização envia outros candidatos bem classificados para os principais concursos masculinos ao redor do planeta. Além do Mister Mundo, entram aí o Mister Supranational, Mister Global, Manhunt International, Mister International, entre outros.

Confira os vencedores do Mister Brasil CNB:

1996 – São Paulo – Thierre Di Castro – Mister São Paulo

1997 – Edilson Ferreira Leite – Mister Distrito Federal

2000 – Ramílio Zampiron – Mister Distrito Federal

2001 – Gustavo Gianetti – Mister Rio de Janeiro

2007 – Lucas Gil – Mister Pará

2008 – Vinicius Ribeiro – Mister Espírito Santo

2010 – Jonas Sulzbach – Mister Ilha dos Lobos (RS)

2011 – Lucas Malvacini – Mister Ilhas de Búzios (RJ)

2012 – Willian Rëch – Mister Rio Grande do Sul

2013 – Reinaldo Dalcin – Mister Ilhas do Delta do Jacuí (RS)

2014 – Lucas Montandon – Mister Distrito Federal

2015 – Anderson Tomazini – Mister Ilhabela (SP)

2016 – Carlos Franco – Mister São Paulo

2017 – Matheus Song – Mister Caminho dos Príncipes (SC)

2018 – Samuel Costa – Mister São Paulo

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