A permanência do Fluminense na elite do futebol, depois de ser apontado com 98% de chances de rebaixamento, virou motivo de provocação. O Núcleo de Inteligência Tricolor (NIT) lançou camisa com os personagens do desenho "Os Impossíveis" e escreveu: "Rebaixamos os matemáticos". Especialista no assunto, Tristão Garcia diz que achou graça na brincadeira, mas tem a consciência tranquila de que não errou em suas previsões.
"Quem mexe com futebol tem que estar preparado para tudo. Eu estudo tanto que não tenho dúvida no meu trabalho", afirmou. "Alguns jornalistas ainda tentaram tirar da minha boca que o Flu já estava rebaixado, mas nunca disse isso. A experiência nos ensina essas coisas", disse o matemático, reconhecendo o feito tricolor.
"Em 8 de outubro, o Fluminense era lanterna com 22 pontos e estava 12 atrás do Coritiba. Naquele momento, o risco era de 98% de queda e iria para 99%, se eles não tivessem virado o jogo contra o Cruzeiro", explica Tristão. "O Fluminense foi um fenômeno e quebrou vários mitos", reconhece.
Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) desde que se formou, em 1982, o gaúcho Tristão Garcia, 51 anos, começou a trabalhar com análises, como as que disponibiliza de graça no site infobola.com.br, ao se incomodar com os cálculos errados que vinham sendo divulgados por uma rádio do Sul do País.
Fama começou por acaso
Um dia, em 1999, decidiu ligar para apontar os erros e não parou mais, porque os jornais também se interessaram por suas estatísticas. Com humor, Tristão conta que os pedidos de análises são diversos e não se limitam ao futebol.
"Tudo o que é matemática as pessoas me perguntam. As chances de ganhar no Big Brother, prévias do PMDB, audiência de TV… Até na loteria, para saber se um número tem mais chances de sair do que o outro", conta Tristão, que, de tanto ser questionado sobre os jogos de azar, já desenvolveu uma frase própria. "Se você não jogar na Mega-Sena é impossível ganhar, mas, se jogar, é quase a mesma coisa", brinca,com seu jeito cético.
Outra brincadeira que costuma fazer com aqueles que insistem no assunto é colocar sua teoria em prática. "Se você jogar uma moeda 20 vezes para o alto e cair cara, você é um provável ganhador. Mas, daí o cara joga a moeda e, na terceira, já desiste", diverte-se o gaúcho. Enquanto na matemática, Tristão tem as respostas na ponta da língua, na intimidade adota um discurso cauteloso e não revela, nem com insistência, o seu time de coração.
"É impossível misturar as duas coisas. Sou um analista. Aqui no Sul, as pessoas querem muito saber disso, mas não revelo", valoriza o pai do gremista Tales, nome que deu ao filho de 11 anos em homenagem ao primeiro filósofo ocidental, Tales de Mileto.
O Dia