Em João Pessoa

Time se atrasa para jogo, atleta é amparado por rivais e comove até atacante da seleção sub-23

Time de futsal entra em quadra com jogador a menos e goleiro improvisado. Após ser goleado no 1º tempo, garoto chora e acaba consolado por adversários e chama a atenção de Matheus Cunha.

Time se atrasa para jogo, atleta é amparado por rivais e comove até atacante da seleção sub-23

Estressados diante do que estava acontecendo, os garotos do Dom José foram para o intervalo desolados, mas ninguém mais que o jovem Vinícius, um dos menos experientes do grupo — Foto:Raquel Pimentel/Sport's Cool

O esporte e a sua alma inconquistável é responsável por soprar esperança na sociedade cada vez mais individual. E é no coletivo que a unidade prevalece, promovendo histórias marcantes, educativas, puras, naquilo que retira o melhor do seres humanos. A cidade de João Pessoa foi o centro desse sentimento nesta semana. O palco era o ginásio da Vila Olímpica Parahyba, local que sediou o confronto da última rodada do torneio de futsal sub-15 dos Jogos Escolares do estado. De um lado estava a equipe do Evolução, escola particular da capital paraibana, que já estava praticamente classificado para o mata-mata. Do outro, o Dom José Maria Pires, colégio público do município, localizado no Bairro das Industrias.

Até aí, tudo bem, uma equipe era favoritíssima para cima da outra. No entanto, ninguém contava que metade de uma das equipes se atrasasse e tivesse que jogar com um a menos. O desfecho da história chegou em Toulon, onde a seleção brasileira sub-23 está próxima de conquistar um título internacional. Entenda o caso:

Era manhã da última terça-feira, Evolução e Dom José tinham o jogo marcado para as 10h30, na quadra da Vila. O início do jogo estava se aproximando, no entanto, menos da metade da equipe da escola municipal havia chegado ao local da partida. Com muita tensão e decepção por parte do treinador e jogadores, o apito inicial teve de ser dado com um jogador a menos e um goleiro improvisado, contra a boa estrutura do Evolução e sua equipe.

O técnico do Dom José, James Buchmeier, explicou que o elenco foi dividido em dois carros, um iria com ele e o restante, junto com o goleiro, foram com a tia de um atleta. No entanto, ela acabou se perdendo e as crianças acabaram não chegando em tempo. A situação deixou o time bastante aflito.

– A gente chegou ao local e, aos poucos, fomos percebendo que o resto do grupo não chegaria em tempo. Diante disso, preparei o time com três na linha e um goleiro improvisado, sendo que esse era o nosso melhor atleta de linha. O difícil foi que não tínhamos a camisa do goleiro, aí tivemos que conseguir com uma equipe que estava na arquibancada. Mas seguimos, sabíamos que o jogo estava comprometido, porém, como já estávamos eliminados, disse para os meninos jogarem tranquilos, buscando pelo menos um empate – disse James.

O problema é que nas quatro linhas, o jogo estava longe do equilíbrio, e logo o Evolução abriu enorme vantagem. Para se ter uma ideia, o primeiro tempo terminou em 9 a 0 para os favoritos e com um homem a mais.

Estressados diante do que estava acontecendo, os garotos do Dom José foram para o intervalo desolados, mas ninguém mais que o jovem Vinícius, um dos menos experientes do grupo. O garoto foi quem mais sentiu, desabando em lágrimas, solitário, na arquibancada. A cena comoveu os meninos do Evolução que, ao invés de irem ouvir que o treinador tinha a dizer, foram para a arquibancada consolar o garoto adversário.

O registro foi feito pela estudante de jornalismo Raquel Pimentel, que disse viu de longe a frustração dos garotos.

– Eu não imaginava que a atitude do menino Vinícius fosse aquela, eu cheguei a vê-lo muito estressado, mas não tinha a noção do quanto. Quando eu vi aquela cena, fiz a foto, foi muito comovente.

O momento marcante tomou conta do jogo, que deixou de ser a prioridade. O técnico do Evolução, Bruno Leonardo, disse que a atitude dos seus atletas foi espontânea e que ele só percebeu o que estava acontecendo após o fim do jogo.

– Olha, eu confesso que nem eu nem o técnico deles estávamos próximos, eu mesmo só fui entender o que estava acontecendo perto do fim do jogo. A atitude foi somente dos meninos, um gesto muito bonito, algo que explica a essência do esporte – contou o técnico do Evolução.

A cena passou e o segundo tempo teve início. E para evitar desequilíbrio maior, o time do Evolução sacou um atleta, deixando o jogo em pé de igualdade, com três jogadores na linha em cada lado. Todavia, a superioridade seguiu, com o Evolução mandando no jogo.

O detalhe é que, aos poucos, os atrasados foram chegando, compondo assim a equipe. Mas de nada adiantou, o jogo terminou 16 a 0 para o Evolução.

Ao fim da partida, o resultado foi o de menos importante, já que os próprios adversários estavam unidos pelo bem do esporte. Inclusive, para o treinador derrotado, aquilo vai ficar guardado na memória dos seus jovens jogadores.

– Uma coisa importante para falar sobre isso é que a educação física tem muito a trazer valores para a sociedade. A gente se sacrificou bastante para virmos jogar, mesmo já eliminados. Jogamos com uniformes emprestados, fizemos o nosso papel dentro de cada. Acredito que valeu a pena – frisou o comandante do Dom José.

História comove atacante da seleção brasileira sub-23

A bonita imagem viralizou nas redes sociais, chegando até a cidade de Toulon, na França, onde a seleção brasileira sub-23 está disputando o tradicional torneio de base. É que o atacante Matheus Cunha, jogador do RB Leipzig da Alemanha e um dos destaques do Brasil comandado por André Jardine na competição, é paraibano de João Pessoa e jogou no futebol de salão pessoense.

O artilheiro do Torneio de Toulon, com quatro gols, se solidarizou com a frustração do menino Vinícius e também aproveitou para parabenizar a atitude dos jovens do Evolução. E para o recado chegar rapidamente em João Pessoa, Mateus Cunha enviou um vídeo para os atletas.

O fato deixou os meninos do Evolução para lá de realizados. Bruno Leonardo, o treinador, disse que a humildade do atacante e o gesto dos seus comandados valeram muito mais do que o resultado no jogo.

– Matheus (Cunha) sempre foi adversário nossos na quadra. Eu conversei com ele, disse a ele que os meninos do nosso time ficaram emocionados demais. Antes do nosso jogo de ontem, eu coloquei o vídeo para os garotos assistirem. Aí os meninos ficaram muito gratos, realizados pela atitude que eles mesmos tiveram. A atitude foi espontânea, pura. Eles puderam ver que aquela atitude vale mais do que um resultado de jogo.

Com o reconhecimento de um craque promissor da seleção olímpica, o Evolução entrou em quadra nessa quinta-feira e acabou derrotado pelo Marista. A eliminação nos Jogos Escolares, diante do turbilhão de emoção durante a semana, foi recebida com naturalidade, compreendendo de forma madura os ensinamentos que o esporte proporciona.

Enquanto isso, Mateus Cunha e a seleção sub-23 entram em campo neste sábado, pela final do Torneio de Toulon, contra o Japão.

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