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EUA buscam prevenir radicalização de militares para conter terrorismo doméstico

O governo americano define terrorismo como atos de violência gerados por razões ideológicas que buscam intimidar ou coagir a população civil ou mudar decisões de governo.

EUA buscam prevenir radicalização de militares para conter terrorismo doméstico

Depois do 11 de Setembro, morreram 114 pessoas nos EUA devido a ações terroristas ligadas à extrema direita, e 107 em atos de radicais islâmicos, segundo o centro de estudos New America. — Foto:Reprodução

WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) — O Congresso dos EUA foi um possível alvo dos ataques de 11 de setembro de 2001, mas passou incólume naquela data. O prédio, porém, foi invadido em 6 de janeiro de 2021 por um grupo que reunia ativistas de extrema direita, apoiadores do ex-presidente Donald Trump e ao menos 31 veteranos do Exército dos EUA.

Além de deixar cinco mortos e atrair o espanto global diante da demonstração antidemocrática, o ataque ao Capitólio jogou luz sobre uma mudança ocorrida nos últimos anos: o terrorismo doméstico de extrema-direita se tornou uma ameaça maior do que o radicalismo islâmico.

Depois do 11 de Setembro, morreram 114 pessoas nos EUA devido a ações terroristas ligadas à extrema direita, e 107 em atos de radicais islâmicos, segundo o centro de estudos New America. O governo americano define terrorismo como atos de violência gerados por razões ideológicas que buscam intimidar ou coagir a população civil ou mudar decisões de governo.

Um dos maiores casos ligados ao radicalismo de direita foi o de El Paso, no Texas, em 2019, quando um supremacista branco de 21 anos atirou contra frequentadores de um hipermercado e matou 22 pessoas. Ele era contra a presença de latinos no país. Houve também 17 mortes causadas por ações de misóginos ou incel (celibatários involuntários, com discurso de ódio contra mulheres), 12 por supremacistas e nacionalistas negros e um por relação com a extrema esquerda.

O governo de Joe Biden tem reforçado o combate ao terrorismo doméstico. Em março, o Departamento de Defesa enviou um alerta de que grupos extremistas, especialmente ligados ao supremacismo branco, tentavam recrutar militares e fazer com que seus membros entrassem nas forças de segurança para aprender técnicas de combate. Em junho, a Casa Branca divulgou a Estratégia Nacional para Conter o Terrorismo Doméstico, com foco na prevenção: um dos objetivos é conter a radicalização de militares e veteranos, que muitas vezes começa no contato com fake news quem geram raiva e ressentimento.

O Departamento de Defesa também prepara um treinamento para que militares, tanto da ativa quanto da reserva, possam identificar, evitar e denunciar tentativas de recrutamento por extremistas, além de tornar mais ampla a checagem de antecedentes de recrutas e civis que buscam funções com acesso a informações sensíveis, impedindo que elas possam ser usadas para fins criminosos.

“Militares e policiais têm habilidades valiosas que as redes extremistas querem, como formar pequenas unidades táticas, de comunicação, logística, reconhecimento e vigilância. E têm acesso a armas e explosivos”, aponta o CSIS (Centro para Estratégia e Estudos Internacionais, na sigla em inglês).

Em 2020, 6,4% dos casos de terrorismo (7 de 110, somando ataques e planos interceptados) tiveram envolvimento de militares e veteranos. Em 2019, foram 1,5%, e em 2018, zero, ainda segundo o CSIS.

Em um dos principais casos recentes, um sargento da Força Aérea de 32 anos pegou um rifle e saiu em uma van, em Oakland, na Califórnia. Disparou contra agentes de segurança e matou um deles, em meio aos protestos antirracistas desencadeados pela morte de George Floyd, em maio de 2020. O militar era ligado a um movimento que prega a derrubada do governo americano.

Assim como quer ensinar militares a identificar tentativas de cooptação, a Casa Branca quer fazer o mesmo com civis, elaborando formas de conter o discurso de ódio em plataformas digitais e oferecendo maneiras de o público reconhecer, inclusive com o uso de games online, investidas de extremistas.

A estratégia federal também fala em ampliar as leis de combate ao terrorismo doméstico, embora já haja ao menos 51 tipos de crimes de terrorismo que possam ser aplicados para casos internos, segundo o centro de pesquisas Brennan Center for Justice. “A resposta inadequada do FBI à violência de extrema direita resulta da falta de vontade, não da falta de autoridade legal”, avaliam os pesquisadores Michael German e Harsha Panduranga, do Brennan Center, em artigo. Eles apontam que o órgão tem direcionado os esforços antiterrorismo doméstico para constranger ativistas ambientais e pelos direitos dos animais.

“Expandir a autoridade contraterrorismo não irá resolver este déficit de atenção. Ao contrário: a história e os eventos recentes sugerem que novas leis poderão ser ferramentas para os agentes do FBI usarem contra aqueles que lutam contra o racismo estrutural e a desigualdade social.”

Alguns especialistas apontam que o fato de o FBI ter dado menos atenção à extrema direita nos últimos anos ocorreu porque o ex-presidente Trump tinha afinidade com esses grupos. O mandatário evitava condenar atos deles e chegou a enviar mensagens dúbias. Em um debate eleitoral do ano passado, disse aos membros do grupo radical Proud Boys para que “se afastem e esperem”. A declaração foi celebrada pelos extremistas porque também pode ser entendida como “fiquem esperando, prontos para agir”.

“Uma dificuldade em lidar com o terrorismo doméstico de supremacistas brancos é que parte desses grupos têm proximidade com o Partido Republicano. E, em muitas instâncias, congressistas republicanos têm tentado interferir em investigações de grupos de extrema direita”, afirma Juan Cole, professor de história na Universidade de Michigan e pesquisador do Oriente Médio. “Mas a invasão do Capitólio, presenciada por muitos congressistas, tem ajudado a mudar isso um pouco.”

Enquanto isso, o FBI segue investigando o ataque de 6 de janeiro. Mais de 570 pessoas foram presas por participação no ato, e uma recompensa de US$ 100 mil ainda está disponível para quem ajudar a identificar e capturar quem colocou bombas nos arredores do Congresso em 5 de janeiro, na noite anterior ao ataque. Os dispositivos foram encontrados antes de explodir, e ainda não se sabe quem os colocou ali.

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