Magistrados do Vaticano acusaram formalmente neste sábado o mordomo do Papa Bento XVI, Paolo Gabriele, por posse ilegal de documentos secretos. A Santa Sé afirmou que uma investigação mais completa será realizada para checar se Gabriele não tem cúmplices que o ajudaram a vazar o material.
Na sexta-feira, após o Vaticano divulgar a prisão de uma pessoa com documentos confidenciais, a imprensa italiana já tinha identificado o suspeito como sendo o mordomo. Por ter amplo acesso ao Papa e às chaves de salas do Vaticano, Gabriele conseguiu documentos secretos que, vazados, se transformaram no escândalo “Vatileaks”.
Um comunicado se referiu a Gabriele como “o réu”. Segundo a nota, uma investigação preliminar foi transformada em uma “investigação formal”, o que significa que ele foi oficialmente acusado. Ele escolheu dois advogados para defendê-lo.
Como o Vaticano não possui prisão, Gabriele está preso em uma “sala de segurança” da polícia do Vaticano, dentro dos limites do pequeno Estado. Se for condenado, Paolo Gabriele pode enfrentar mais de 30 anos de prisão por posse ilegal de documentos de um chefe de Estado. Ele cumpriria a pena em uma prisão italiana, graças a um acordo entre Roma e o Vaticano.
Bento XVI disse a pessoas próximas que se sentia “doído e atingido” pela prisão de um de seus homens mais próximos.
Comentaristas da imprensa italiana dizem duvidar que Gabriele tenha agido sozinho e alguns acreditam que ele faz parte de uma luta interna por poder. “Nunca o senso de desorientação da Igreja Católica atingiu esses níveis”, escreveu o historiador religioso Alberto Melloni no “Corriere della Sera”. “Mas agora existe algo a mais, um senso de uma desordem sistemática”.
Alguns dos documentos vazados para a imprensa italiana no escândalo que ficou conhecido como “Vatileaks” envolvem acusações de corrupção, má administração e trocas de favores na distribuição de contratos de trabalho no Vaticano e desentendimentos internos sobre a gerência do Banco do Vaticano. Nesta quinta-feira, Ettore Gotti Tedeschi, presidente do Instituto para as Obras Religiosas (IOR), nome oficial do banco, foi demitido.
Em janeiro, uma reportagem de uma uma TV italiana exibiu cartas particulares para o secretário de Estado, o cardeal Tarcisio Bertone, e para o Papa, escritas pelo arcebispo Carlo Maria Vigano, ex-vice-governador da Cidade do Vaticano e atualmente embaixador da Sante Sé em Washington.
As cartas mostraram que Vigano foi transferido após expor o que ele disser ser uma rede de corrupção, nepotismo e troca de favores ligados ao concedimento de contratos para fornecedores italianos com preços inflacionados.