A partir de vídeos e de ameaças divulgados na internet, a polícia tenta identificar punks e skinheads – carecas, em português – que estão em uma guerra declarada em São Paulo. Nas imagens, eles dão demonstrações de força e dos instrumentos usados em brigas.
Só neste ano, os grupos já participaram de seis mortes em São Paulo. Entre as vítimas estão pessoas que não faziam parte de nenhuma gangue. Uma delas foi o balconista Jaílton Pacheco, de 24 anos. Ele defendeu um colega que se recusou a dar um desconto de R$ 0,40 em um pedaço de pizza e acabou morto a facadas por três jovens que se diziam punks.
Os punks e os skinheads têm hábitos parecidos e freqüentam bares e casas noturnas no Centro e nos Jardins, área nobre de São Paulo. Na região central da Capital, o perigo aumenta quando anoitece e as ruas ficam quase vazias. Basta um encontro para acontecerem as brigas.
Os punks e skinheads violentos são jovens, têm entre 14 e 26 anos e, geralmente, andam com facas e canivetes. O movimento punk surgiu na década de 70, criado por pessoas ligadas à arte e à moda.
O problema, segundo a polícia, é que os grupos radicais de punks – e também de skinheads – tentam se impor pela força. Segundo a delegada Margarette Barreto, existe um culto à violência nas gangues. “Mais de 20 já foram cadastradas pela delegacia, com problemas criminais. Eles usam a desculpa de se enfrentar por [causa das] idéias”, diz ela.
Entre os punks, as gangues mais violentas são a Devastação Punk e o Vício Punk. Grande parte de seus integrantes vive no centro de São Paulo.
Os skinheads mais conhecidos fazem parte dos grupos Carecas do ABC e Carecas do Subúrbio. São encontrados nas periferias das zonas Norte e Leste, além de cidades da região metropolitana.
Mas a maior rivalidade dos punks é contra os skinheads de um grupo chamado Front 88, que costuma freqüentar a Avenida Paulista. O número 88 significa duas letras "h", a oitava do alfabeto, uma referência à saudação nazista: “Heil, Hitler”.
Os integrantes do Front 88 se dizem nacionalistas, pregam o racismo e o ódio a nordestinos. “Tem umas gangues que não gostam de negros, outras que não gostam de judeus ou mendigos. A maioria não gosta de homossexuais”, diz a delegada Margarette.
Na semana passada, um grupo de punks espancou um jovem de 17 anos que, segundo a polícia, pertencia ao Front 88. Em abril, uma outra briga entre os grupos levou à morte o estudante Ricardo Sutanis. Só então a família descobriu que ele andava com skinheads.
O irmão de Ricardo, Alirio Sutanis, que não pertence a nenhum grupo, sofre com as conseqüências da intolerância. “É ameaça de morte, [dizem] que vou morrer, que vão me pegar”, conta.
Fonte: Globo