
André Coutinho e Camila Holanda. (foto: reprodução/redes sociais)
A 57ª Zona Eleitoral cassou os mandatos do prefeito de Cabedelo, André Coutinho, e do vice, Camila Holanda. Como observou o ClickPB, a decisão é da juíza Thana Michele Carneiro Rodrigues e ocorreu após julgar procedente em parte uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral (Aije), movida pelo Ministério Público da Paraíba (MPPB).
Conforme a decisão, foi julgada procedente em parte a prática de abuso de poder político e econômico e captação ilícita de sufrágio. A cassação também abrange o vereador Márcio Silva (União Brasil).
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Segundo a decisão, além da cassação de André, Camila, e Márcio a sentença proferida pela 57ª Zona deixou o prefeito, a vice e o vereador devem ficar inelegíveis por oito anos. A medida também abrange o ex-prefeito da cidade, Victor Hugo Castelliano e a investigada Flávia Monteiro.
A decisão é em primeira instância e cabe recurso.

Como observou o ClickPB, André Coutinho e Camila Holanda também deverão pagar uma multa individual no valor de R$ 40 mil. O mesmo valor da multa também deverá ser pago por outros dois investigados: Márcio Alexandre Melo e Silva e Flávia Santos Lima Monteiro.
Afinal, quais teriam sido os atos ilícitos no pleito de 2024 em Cabedelo, segundo a Justiça Eleitoral?
A denúncia do Ministério Público, acatada em parte pela Justiça Eleitoral, aponta para a influência, entre outros pontos, do tráfico de drogas e organizações criminosas no pleito de 2024.
Conforme a denúncia, Flávia Santos Lima Monteiro era funcionária comissionada da gestão de Cabedelo, na época do então prefeito Vitor Hugo (Avante) e teria ligação com uma facção criminosa que atua na cidade.
Flávia teria atuado na distribuição de cestas básicas e compra de votos, em benefício do atual prefeito e da vice e também do então candidato a vereador, eleito, Márcio Silva (União Brasil).

“Os abusos de poder econômico e político restam configurados quanto a todos os investigados, cujas condutas extrapolaram os limites da atividade lícita de campanha, ao empregar, direta ou indiretamente, recursos públicos, cargos comissionados e promessas de vantagem futura, bem como destinação de cestas básicas às famílias de presos que tinham proximidade com facção criminosa para influenciar o voto de eleitores em situação de vulnerabilidade”, diz trecho da decisão, como observou a reportagem.
“Tendo, nesse ponto, participação decisiva o investigado Vitor Hugo, o qual, embora não tenha sido candidato nas eleições de 2024, instrumentalizou a máquina administrativa em benefício da coligação, realizando nomeações e contratações orientadas por interesses eleitorais e facilitando a atuação de Flávia Monteiro e demais agentes ligados à facção criminosa na cooptação ilícita de eleitores”, traz o trecho final da decisão em primeira instância.
Impossível mensurar quantidade de votos influenciados
Para a Justiça Eleitoral, apesar da expressiva diferença de votos entre André Coutinho e o segundo colocado (Wallber Virgolino), além do vereador Márcio Silva ter sido o mais votado, “a aferição da gravidade dos atos ilícitos — especialmente na hipótese de abuso de poder e captação ilícita de sufrágio — não exige a demonstração de potencialidade para alterar o resultado das eleições, tampouco está condicionada à margem de votos obtida”.
Segundo a juíza, “o que se exige é a constatação de que a conduta violou bens jurídicos tutelados pelo Direito Eleitoral, como a paridade de armas entre os candidatos, a liberdade de escolha do eleitor e a normalidade das eleições”.
“Ademais, seria impossível, do ponto de vista técnico e probatório, mensurar com exatidão o número de votos que tenham sido diretamente influenciados pelas condutas ilícitas sistêmicas empreendidas pelos investigados”, diz ainda trecho da decisão.
Como exemplo é citado o caso do investigado Márcio Silva, onde as investigações apontam que pelo menos 42 – e isso é expressivo – foram comprados por promessas a eleitores – alguns já contratados pela Prefeitura Municipal.
“Embora isso seja despiciendo, porque não alteraria o resultado global de sua eleição, percebe-se, nessa pequena amostragem, a intensidade do impacto de condutas eleitoreiras ilegais em determinada localidade, de modo a afastar a presunção de legitimidade democrática no todo e tornar impositiva a aplicação das sanções legais”, cita a decisão da juíza Thana Michele.
O que ocorre agora? O prefeito e a vice de Cabedelo saem do cargo de forma imediata?
A decisão deverá ser comunicada de forma imediata ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE-PB) e a Presidência da Câmara Municipal de Cabedelo para fins de cumprimento e adoção das providências decorrentes
da cassação dos diplomas.
Segundo as primeiras informações obtidas pela reportagem, o prefeito, a vice e o vereador devem seguir no cargo até o julgamento dos recursos que devem ser impetrados.
Qual foi o resultado das eleições 2024 em Cabedelo?
Conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o resultado das últimas eleições para prefeito em Cabedelo foi:
André Coutinho (Avante) – 66,24% – 25. 966 votos;
Wallber Virgolino (PL) – 21,46% – 8.413 votos;
Jacqueline (Podemos) – 7,66% – 3.001 votos;
Rogério Bezerra (Psol) – 3,02% – 1.184 votos;
Iron Oliveira (DC) – 0,85% – 334 votos;
Neno Austricliano (PCO) – 0,76% – 299 votos;
Operações em 2024
Como trouxe o ClickPB, ao longo dos meses de outubro e novembro de 2024 foram realizadas operações em Cabedelo, com objetivo de combater a possível influência do tráfico no pleito.
Em 18 de outubro, a Polícia Federal deflagrou operação ‘En passant I‘.
Na ocasião, foram cumpridos mandados de busca e apreensão no setor de Recursos Humanos da Prefeitura de Cabedelo e na Secretaria de Administração da Cidade, na Região Metropolitana de João Pessoa, e em outros locais ainda não divulgados.
À época, os nomes dos alvos não foram revelados. Foi detalhado pela PF que os crimes investigados eram: constituição de organização criminosa, uso de violência para coagir o voto, ameaça, lavagem de dinheiro e peculato, dentre outros.
Já em 19 de novembro, como desdobramento da ‘En passant I‘, a PF deflagrou uma nova operação em parceria com o Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco).
À época, segundo informações passadas pela Polícia Federal, cinco mandados de busca e apreensão e um mandado de prisão, estão sendo cumpridos.
André Coutinho se pronunciou sobre a decisão da Justiça Eleitoral.
Confira nota:
NOTA
Diante de recente decisão proferida pela juíza da 57ª Zona Eleitoral, venho, na condição de prefeito de Cabedelo, reafirmar meu compromisso com a transparência, a responsabilidade institucional e o respeito à vontade soberana do povo cabedelense, expressiva nas urnas. Porém, por não concordar com a narrativa e as conclusões nela inseridas, apresentarei recurso confiando plenamente na sua reforma.
Seguirei exercendo minhas funções com serenidade, como sempre fiz, acreditando que esse episódio será devidamente esclarecido e superado. Reafirmo meu compromisso e da vice-prefeita Camila Holanda, de continuar trabalhando em prol dos cidadãos de Cabedelo, que nos elegeu com 25.966 votos (66,24%).
A todos os cabedelenses reafirmo que continuaremos exercendo plenamente o nosso mandato legitimamente conferido pelo povo de Cabedelo e que não haverá qualquer alteração ou problemas na continuidade da gestão municipal até o julgamento do último recurso, quando a verdade será restabelecida.
Cabedelo está acima de tudo, e meu compromisso com a cidade e com cada cidadão permanece inabalável.
André Luis Almeida Coutinho, prefeito de Cabedelo-PB.
O ClickPB disponibiliza o e-mail redacao@clickpb.com.br caso os citados desejem se pronunciar sobre a decisão da Justiça Eleitoral.