Saúde

TOC não é mania, é doença, mas pode ser controlado

Confundido com uma simples mania, o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) é uma doença sem cura, mas que pode ser controlada para melhorar a qualidade de vida d

” Um, dois, três, quatro. Quatro, três, dois, um. Abre tranca, fecha tranca. Abre tranca, fecha tranca. Confiro se a porta está fechada antes que o táxi amarelo passe na rua. E se ele não passar, algo de ruim vai acontecer com a minha mãe.” Não leitor, o que você acaba de ler não é nenhum trecho de um texto com uma pitada de poesia concreta, mas sim palavras que descrevem como funciona a mente de uma pessoa portadora do Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), uma doença ainda sem cura e que atinge 3% da população mundial.

Quem não conhece o distúrbio acha que não passa de capricho de pessoas com muitas manias. Afinal, como alguém pode checar repetidas vezes se uma porta está fechada? Mas infelizmente é assim que o TOC se manifesta. Os sintomas são pensamentos obsessivos muitas vezes seguidos de atitudes compulsivas, transformadas em rituais. “Na cabeça do portador do TOC, se ele não fizer determinada coisa, como dar três pulinhos antes de sair de casa, algo muito grave pode acontecer”, explica Roseli Gedanke Shavitt, médica pesquisadora do Protoc – Projeto Transtornos do Espectro Obsessivo-Compulsivo do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo.

No dia-a-dia, o portador de TOC tenta não deixar que os pensamentos obsessivos invadam sua cabeça (veja quadro), mas não consegue controlá-los e acaba desenvolvendo compulsões para se livrar deles. A pessoa então passa a ter comportamentos ou atitudes mentais repetitivas e muito constantes (como lavar as mãos, dispor objetos de maneira simétrica ou contar as coisas inúmeras vezes) para diminuir a ansiedade causada pelas idéias obsessivas. E é justamente essa intensidade na repetição de ações e idéias que sinaliza se alguém tem ou não TOC. A explicação para tanto exagero é simples: temos um mecanismo no circuito cerebral que filtra os pensamentos recorrentes e nos portadores de TOC ele não funciona direito. Como resultado, os pensamentos se repetem infinitamente, transformando- se numa obsessão.

OS SINTOMAS DO TOC

• Medo de pegar germes sentando em uma determinada cadeira, cumprimentando ou tocando pessoas e maçanetas

• Medo de ser contaminado por insetos ou animais

• Medo de ficar doente por meio de contaminação ou de doenças como AIDS e câncer

• Necessidade de lavar repetidamente as mãos para se livrar de sujeira ou contaminação

• Ter compulsão de limpar a casa excessivamente

• Medo de jogar coisas fora por achar que vai precisar delas no futuro

• Preocupação em perder algo insignificante, como um pedaço de papel

• Preocupação excessiva com a ordem das coisas, como a disposição dos livros na estante ou dos alimentos na despensa

• Necessidade de sentar/levantar várias vezes de uma cadeira ou abrir e fechar a porta determinado número de vezes

• Necessidade de contar coisas: número de azulejos, livros na estante, árvores na rua, etc.

• Ter a compulsão de tocar algo ou alguém com a mão esquerda se já tocou com a mão direita e vice-versa

• Checar, com amigos e médicos, que você não tem nenhuma doença grave

• Ter obsessão sobre fatos relacionados e cores. Por exemplo: preto associado à morte, vermelho associado com sangue e ferimentos

• Fazer muitas listas de coisas ou atividades a serem cumpridas

• Ter de rezar ou realizar rituais específicos para que nada de ruim aconteça a alguém


COMO TRATAR

As causas desse mau funcionamento intrigam a ciência, que ainda não sabe porque esse filtro falha. “Estudos mostram que há uma forte tendência de o TOC ocorrer em famílias e poderia caracterizar uma alteração genética, mas não é um fator determinante”, diz a médica Roseli. Tanto que qualquer pessoa pode desenvolver TOC em qualquer fase da vida, como aconteceu com a modelo Luciana Vendramini, que a partir dos 19 anos passou a manifestar a doença e chegou ao ponto de ficar quatro anos sem sair de casa. Hoje Luciana controla a doença com medicação e terapia, que são as ferramentas mais eficazes. “A Terapia Cognitivo- Comportamental, aliada aos medicamentos, é o tratamento top de linha para esse tipo de transtorno, garantindo até 70% de eficácia na eliminação dos sintomas”, afirma a psicóloga Regina Célia Metidieri, diretora da Escola da Intuição de São Paulo Sara Bat.

Os medicamentos têm como função tentar reativar os filtros com defeito e se baseia na prescrição de antidepressivos que podem ser combinados com antipsicóticos, dependendo do caso. “Uma convenção internacional determina que, se após dois anos a pessoa tem quadro estável, a medicação é suspensa e o tratamento será apenas com as sessões de terapia”, explica Roseli. Para os portadores de TOC, a terapia é o ovo de Colombo porque ela ensina a controlar os distúrbios obessivo-compulsivos. O doente aprende a lidar com as compulsões de maneira hierárquica: trata primeiro o que menos incomoda até chegar às coisas mais graves. “Em média 60% das pessoas alcançam o sucesso e desse total cerca de 55% dos pacientes afirmam que tiveram muito ganho de qualidade de vida”, diz Roseli.

CUIDADOS COM A FAMÍLIA

Só que não basta cuidar do doente. Os familiares dos portadores de TOC também precisam se tratar, porque esse tipo de problema afeta a todos da casa. Não é fácil morar com uma pessoa que fica, literalmente, cinco horas tomando banho ou que precisa sentar e levantar 30 vezes antes de ocupar definitivamente o lugar à mesa para fazer uma refeição. “Os familiares precisam aprender a conviver com isso de maneira saudável, a não condenar o doente e tornar-se um aliado dele”, explica a fotógrafa Maura Carvalho, que há dez anos fundou a Astoc (Associação Brasileira da Síndrome de Tourette, Tiques e TOC). Para ajudar a filha, hoje com 18 anos, a família de Maura fez terapia. “Foi muito bom porque ganhamos ferramentas para conviver com isso e a minha filha tem uma vida ótima e nem toma remédios”, conta. Com sua experiência, Maura é taxativa em dizer que a melhor maneira de tratar o TOC é se informar sobre o distúrbio, porque às vezes a pessoa tem TOC num grau mais leve e nem percebe. O rei Roberto Carlos é um exemplo. Ele achava que vestir somente roupas azuis, entrar e sair pela mesma porta e não usar determinadas palavras em letras de músicas eram simples superstições até perceber que não era bem assim. Em 2004, ele procurou tratamento e admitiu publicamente que é portador da doença. Hoje, presta, por meio do seu site, um serviço de informações sobre TOC, colocando em sua página links de associações de diversos estados. Mais uma prova de que o primeiro remédio para o TOC é a informação. Afinal, duas em cada 100 pessoas do planeta podem desenvolver a doença e elas podem ser eu e você.

FIQUE EM PAZ COM A DOENÇA

DICAS DE AUTO-AJUDA PARA O DOENTE


• Procure informações sobre o TOC junto a grupos de apoio familiar ou terapeutas

• Lembre que o que acontece com você não é sinal de falta de caráter ou preguiça

• Não fuja ou finja que um problema não existe. Procure formas de resolvê-lo com o apoio de outras pessoas (familiares, médicos)

• Aos poucos, questione se seus medos e preocupações podem realmente causar o que lhe aflige, como o temor de que alguém morra se você não lavar a mão centenas de vezes

• Aos poucos, tente enfrentar seus medos, começando pelos menores

DICAS PARA A FAMÍLIA

• A pessoa que tem TOC não é assim porque quer. Provavelmente ela sofre com isso e não sabe como resolver a situação. Ajude-a

• Não pressione ou critique nem diga ao portador de TOC o que ele deve fazer para controlar seus distúrbios

• Observe em quais situações os rituais acontecem e, se possível, esteja perto para dar atenção e suporte antes de a pessoa começar a fazê-los

• Incentive qualquer habilidade do portador de TOC , sem necessariamente elogiar

• Procure cuidar dos seus próprios problemas e não direcione a sua vida em função de quem tem TOC

• Geralmente quando alguém tem TOC na família todos os membros passam por problemas. Devido a isso é importante que todos procurem ajuda de grupos de apoio familiar ou terapeutas, principalmente os familiares mais próximos do doente

FONTE: PROTOC (Revista Raça, por Roberta de Lucca)

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