
BR-230. Foto: Walla Santos
Senhoras e senhores… rezemos.
Porque só em forma de oração dá pra suportar essa penitência chamada BR-230.
Não é estrada, é via-crúcis.
Cada buraco, um mistério doloroso. Cada engarrafamento, uma estação da paixão.
Prometeram a obra do século.
Pois acertaram: já dura um século.
A triplicação não é rodovia, é ladainha.
Eterna.
Se o mundo acabar amanhã, o fim dos tempos vai encontrar os paraibanos presos nesta obra que não anda.
É o único lugar onde o tempo para.
Não por milagre… mas porque o carro não anda.
Pais rezam pra chegar vivos ao trabalho.
Mães choram no volante, presas, com medo de não buscar o filho na escola.
A BR virou confessionário coletivo: cada buzina é um pecado confessado.
A obra do século é também a mentira do século.
Governos passam.
Máquinas enferrujam.
E a gente continua no purgatório do asfalto.
Aqui não se mede progresso em quilômetros.
Mede-se em quilômetros de fila.
E eu rezo, ironicamente:
Ave BR-230, cheia de carros.
O congestionamento é convosco.
Bendita sois vós entre as estradas.
E maldito é o fruto do vosso nunca acabar.
Santa Paciência, rogai por nós motoristas…
Agora e na hora da buzina eterna. Amém.
A triplicação da BR-230 é o milagre ao contrário:
quanto mais prometem, mais se multiplica a raiva do povo.
E nós, pobres mortais, seguimos de farol baixo…
esperando que um dia o asfalto ressuscite.
Aleluia.

