Hoje, a realidade do mercado de serviços jurídicos não é fácil. Este, sem dúvidas, é
um fato incontroverso. Os seus desdobramentos refletem-se no crescimento exponencial do número de advogados e bacharéis, ao passo que se reduzem drasticamente os espaços disponíveis para esses profissionais atuarem. Atualmente, está cada vez mais difícil posicionar-se no mercado. Outras constatações fáticas inegáveis que se consolidam rapidamente, indicando o fim de inúmeras características que outrora foram buscadas a fim de suprir uma demanda permanentemente progressiva.
As demandas atendidas pelas sociedades de advogados não se reduziram, ao contrário estão ressignificando o seu crescimento. Dito de outra forma, as habilidades que
eram necessárias há duas décadas, ou quinze anos atrás, se modificaram substancialmente. Existiu um momento histórico, em que foi necessária a presença nos escritórios de “advogados repetidores” para preencherem gama variada de documentos, tendo em vista o volume de informações a que se atendia, especialmente quando se direciona o olhar à época de predomínio dos meios físicos de tramitação processual, a qual já se localiza muito distante da percepção destes dias.
Assim, em ciclo no qual se vivencia simultaneamente emergência e consolidação de
ferramentas baseadas em Inteligência Artificial, aprendizado de máquina, processamento de linguagem natural, mineração de dados, análise preditiva, revisão assistida por tecnologia, ou seja, disponibilização de softwares que estão aptos, em diferentes níveis, a interpretar grande conjunto de dados, identificar padrões, prever novos comportamentos a partir dessa base de conhecimento e diagnosticar características divergentes nesse agrupamento, aponta indubitavelmente para o fim dos “advogados repetidores”.
A título de exemplo menciona-se que em 2019 existe no Brasil um advogado para
cada 190 habitantes, o que significa um aumento aproximado de 92% no número de
causídicos em 11 anos, sem considerar os estagiários e as inscrições suplementares na
OAB. Em outros países essa proporção se reduz. Nos Estados Unidos, com população 56% maior que a brasileira, há um advogado para cada 244 habitantes, com crescimento de 13% entre 2008 e 2016 (no mesmo período a quantidade de advogados no Brasil ampliou-se em 75%), enquanto no País de Gales essa estatística posiciona-se em um advogado para cada 486 cidadãos.
Esta é uma realidade difícil que acena com o fim e o início de novos momentos no
mercado de serviços jurídicos. Certamente, a advocacia do futuro será a advocacia do
passado. O número crescente de profissionais treinados em uma percepção enciclopedista e repetidora do direito positivo, junto com a disponibilidade de novas tecnologias que não substituem ou praticam ato privativo de advogado, mas contribuem decisivamente para que as demandas atendidas pelos advogados sejam entregues mais rápida e eficazmente evidencia ocasião em que receberá destaque o profissional interdisciplinar, observador analítico e contextual da realidade, com a percepção cultural de valores sociais e corporativos, interpretando o direito através de múltiplas fontes.
Todavia, esta realidade também apresenta oportunidades àqueles que
adequadamente se preparem para atuar em um cenário de serviços jurídicos globalizados, integrados tecnologicamente, com softwares para estruturação de dados, que exige respostas precisas em tempo real, as quais não devem apenas solucionar uma
controvérsia, mas subsidiar uma decisão estratégica.
Wilson Sales Belchior – É graduado em direito pela UNIFOR, especialista em Processo Civil pela UECE, MBA em Gestão Empresarial e mestre em Direito e Gestão de Conflitos na UNIFOR. Também possui curso de curta duração em resolução de conflitos na Columbia Law School, nos Estados Unidos. Na mesma instituição participou de série de pesquisa avançada. Palestrante, professor universitário em cursos de pós-graduação em diferentes estados e autor de diversos artigos e livros, publicados em revistas, jornais, portais de notícias e editoras de circulação nacional. Conselheiro Federal da OAB (2013-2015). Vice-presidente da Comissão Nacional de Advocacia Corporativa do Conselho Federal da OAB (2013-2015). Membro da Comissão Nacional de Sociedade de Advogados do Conselho Federal da OAB (2010-2012). Membro da Coordenação de Inteligência Artificial do CFOAB (2018). Atualmente é Conselheiro Federal eleito para o triênio 2019-2021 e Presidente da Comissão Nacional de Direito Bancário.