Em entrevista

Anielle Franco fala sobre importunação sexual após denunciar Silvio Almeida: “Eu só queria que parasse”

Em sua primeira entrevista após assédio, ministra da Igualdade Racial disse que ouviu comentários sexistas e recebeu toques indesejados.

Lula, ministra, Anielle Franco

Foto: Ricardo Stuckert/PR

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, revelou ter ouvido comentários sexistas e recebido toques indesejados por parte de Silvio Almeida, ex-ministro dos Direitos Humanos. Essa é a primeira vez que Anielle comenta publicamente o que viveu durante todo esse tempo.

Em entrevista à revista  Veja, a ministra contou que a situação começou em 2022, na transição de governo. Na época, ela já ouvia comentários embaraçosos, que escalonaram até chegar à importunação sexual.

Diante da incerteza sobre como agir, Anielle acabou tomando a decisão oposta que normalmente recomendaria a outras mulheres e optou pelo silêncio. “Ficamos com medo do descrédito, dos julgamentos, como se o que aconteceu fosse culpa nossa”, revelou à Veja.

Certa vez, Anielle sofreu uma abordagem inapropriada durante uma reunião. Após o incidente, expressou seu desconforto a Silvio Almeida, pedindo que ele não repetisse tal atitude. Embora ele tenha admitido seu erro na hora, ao se despedir, o ex-ministro teria murmurado uma frase desrespeitosa em seu ouvido.

“É muito difícil falar sobre isso. Ninguém se sente à vontade para relatar uma violência. E, nesse caso, a gente está falando de um conjunto de atos inadequados e violentos que aconteceram sem consentimento e reciprocidade e que, infelizmente, mulheres do mundo inteiro vivenciam diariamente. Mas é importante deixar claro que o que houve foi um crime de importunação sexual. Fui vítima de importunação sexual”, afirmou Anielle.

Atitudes inconvenientes

Anielle relatou ainda que não tinha nenhuma relação profissional com Silvio Almeida até dezembro de 2022 e o conhecia apenas pela sua carreira acadêmica.

“Por um tempo, quis acreditar que estava enganada, que não era real, até entender e cair a ficha sobre o que estava acontecendo. Fiquei sem dormir várias noites. Eu só queria trabalhar, focar na missão, no propósito e em toda a responsabilidade que se tem quando se assume um cargo como o meu. Mas não conseguia”, relatou.

A ministra contou que, em diversos momentos, chegou a se culpar por não ter conseguido reagir ou denunciar no mesmo momento. “Me culpei muito pela falta de reação imediata, e essas dúvidas ficaram me assombrando. Me lembrava de todas as mulheres que já tinha acolhido em situação de violência. Mas o fato é que não estamos preparadas o suficiente para enfrentar uma situação assim nem quando é com a gente. Eu me senti vulnerável”.

No entanto, Anielle não queria ter sua vida novamente exposta por conta da violência.

“Sou muito mais do que isso e me orgulho da minha trajetória. Só queria que aquilo parasse de acontecer. Como uma pessoa que sempre teve muita fé, acreditava que em algum momento aquilo acabaria e eu conseguiria seguir a minha vida”, declarou à revista Veja.

No início, Anielle escolheu o silêncio, pois a situação era extremamente violenta para ela e afirmou que nenhuma vítima, de qualquer tipo de violência, deveria ser obrigada a se expor ou falar no momento que os outros esperam.

“As vítimas têm de falar na hora em que elas se sentirem confortáveis. Vou repetir isso quantas vezes for necessário: vítima é vítima. Você fala quando se sente apta e acolhida a falar”.

 

 

 

Por Terra

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