Se você é como a gente, aqui na UMA, que basta ler a palavra stress para ficar estressada, temos uma boa notícia: o bicho pode não ser tão ruim quanto parece. O responsável por essa afirmação é Artur Zular, médico especialista em psicossomatização e autor do livro Sucesso sem Stress (Record). “É bom deixar claro que esse estado sempre fez parte da gente, desde a época das cavernas e, aliás, espero que não o percamos nunca, porque ele funciona como uma reação para nos adaptarmos a uma situação nova, diferente, imprevisível. Isso acontece o tempo todo.
O que é pouco divulgado é que existem dois tipos: o ruim (Distress) e o bom (Eustress). O bom é capaz de mover montanhas, de nos fazer ir à luta, e sairmos da tendência que temos à acomodação”, completa Zular. E quando é que diferenciamos um do outro? “Quando o stress é positivo, tipo aquele frio na barriga que você sente quando vai sair pela primeira vez com o homem que você gosta, melhora a memória e o humor, acelera o corpo, deixa você mais esperta, interessante, vendo e ouvindo mais intensamente.
Ele é ruim quando afeta a saúde. Você sente dor de cabeça, dores musculares, suor nas mãos, diarréia, perda de foco e libido, insônia, aumento de pressão e pode até desenvolver uma síndrome do pânico”, explica Artur.
MULHERES E STRESS
O resultado das pesquisas feitas pela psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Management Association, indica que as mulheres são mesmo duras na queda. “Descobrimos que as profissionais tendem a se adaptar melhor aos desafios e pressões, sendo menos suscetíveis às doenças que se originam do excesso de stress”, afirma.
Segundo Ana Maria, as mulheres vivem mais e melhor por quatro razões: temos mais facilidade para verbalizar nossas emoções, somos mais conscientizadas das nossas condições físicas e emocionais, temos mais disciplina na prática regular de relaxamento e cultivamos mais crenças religiosas. A psicóloga sugere o que podemos fazer para viver numa boa no meio da doideira da vida moderna:
■ Diante de um problemão, avalie a situação antes de entrar em pânico. Quanto mais positiva você for, mais verá o problema como uma oportunidade, um desafio.
■ Diminua a cafeína e o álcool.
■ Está provado: mulheres que trabalham em algo de que gostam têm muito menos stress.
■ Permita-se mais prazeres e muito mais coisas boas.
■ Transforme o barro em ouro. Ao invés de se descabelar quando perder o emprego, por exemplo, escreva um livro e adote hábitos saudáveis, como caminhar.
■ Troque a palavra “eliminar” ou “controlar” o stress por outra mais eficiente: “administrar”.
■ Coloque qualidade na sua vida devagarzinho. Nada de milagres e fórmulas mágicas.
■ Se algo causa muito stress em você como, por exemplo, falar em público, recorra a técnica de visualização. Veja-se várias vezes por dia na situação para você perder o medo.
■ Invista na respiração. Pessoas que respiram profundamente, a partir do abdome, tendem a ser mais calmas diante das situações difíceis do cotidiano.
■ Não fique muito tempo remoendo conflitos, do tipo: faço ou não faço um esporte? Ligo ou não ligo para ele? Vamos, tome logo uma decisão!
A ARTE DE VIVER BEM COM AS IMPERFEIÇÕES
Esse foi o caminho que a jornalista francesa Véronique Vienne (colaboradora da revista Martha Stewart Living) descobriu para dar um chega para lá no stress ruim. Afinal, quanto mais a gente quer ser perfeita, mais exige de si mesma e mais a casa cai. Veja algumas sugestões de Véronique para uma vida melhor:
■ Não seja a senhora-sabetudo. Erre para valer. Para o escritor James Joyce, enganos eram “portais para a descoberta”.
■ Faça o contrário do que todo mundo fala: perca tempo! Por exemplo, ao invés de visitar uma cidade inteira em três dias, vá a um único museu e passe o resto do tempo em cafés e jardins, observando os estressados correndo de lá para cá.
■ Só carregue bolsas que possam servir de travesseiro.
■ Arrume sua mesa do escritório só para poder desarrumá-la depois.
■ Pare de querer ser útil o tempo todo. Relaxe!
■ Tome nota das coisas… e esqueça as anotações!
■ Não deixe para a eternidade o que você pode fazer hoje.
■ Seja boba de vez em quando. Não precisa contar para o analista que você dorme abraçada com a almofada.
“Ter engordado teve seu lado bom”
Esse ano engordei 10 quilos, fiquei estressadíssima e no fundo do poço. Ficava trancada em casa no fim de semana e não aceitava nenhum convite para sair. Minhas roupas não serviam e isso me deixava pior ainda e aumentava mais a minha tensão. Mas foi justamente esse stress que me empurrou para voltar à superfície. Entrei numa academia, fiz dieta, voltei à terapia, me reequilibrei. Estou emagrecendo e virei uma mulher feliz e muito melhor do que eu era antes. Viva o stress!
Tatiana Bergamo, 29, publicitária
“Antecipar problemas causa stress e destrói neurônios. Os animais só se estressam no momento certo”
ROBERT M. SAPOLSKY – NEUROCIENTISTA
“Troquei o stress por humor e me dei bem”
Quando montei a minha empresa, eu queria editar tudo quanto é tipo de livro, para competir com as grandes. O resultado foi um grande stress. Fiquei tão nervoso que, por pouco, não roí os dedos. Aí teria que escrever com a ponta do nariz. Porém, esse stress foi também a saída. Resolvi usá-lo para alavancar minha editora e comecei a focar só nos livros de humor. Publiquei livros engraçados como “O código da vinte e cinco de março”, sobre a vida do Chaves, o Manual de xavequeiro, etc. Foi um sucesso! Meu trabalho virou fonte de diversão.
Paulo Tadeu, 35, editor de livros
“Quando sentir stress, primeiro aceite-o, depois use-o como energia criativa. Não lute contra ele”
OSHO – MESTRE ESPIRITUAL
Pratique o devagar!
Em entrevista exclusiva para a revista UMA, o escritor canadense Carl Honoré – autor do best-seller Devagar (Record) – conta como passou de um cara estressadísimo a bon vivant
UMA – Na sua opinião, o que fez aumentar tanto o stress ruim nas últimas décadas?
Carl Honoré – É culpa do nosso desejo de querer consumir tudo, ler todos os livros, assistir todos os filmes, comprar todas as coisas que vemos, praticar todos os cursos, ver todos os canais, conquistar todas as pessoas. Ufa!
UMA – O que acostumava deixar você muito estressado?
Honoré – Sentir que as pessoas estavam controlando como eu usava meu tempo. Isso me sufocava. Sou muito mais feliz hoje em dia por poder dizer NÃO para muitas coisas.
UMA – É verdade que o stress ajudou você a mudar radicalmente sua vida?
Honoré – Sim, e foi na fila do portão de embarque no aeroporto de Roma. Era uma fila longa, não tinha nada para fazer senão… Nada mesmo! Só que eu já não era mais capaz de não fazer nada. Então, para tornar a espera mais produtiva, comecei a ler o jornal e vi um artigo que ensinava os pais a lerem os clássicos infantis para seus filhos em apenas 1 minuto, para economizar tempo. Primeiro, achei o máximo. Imagine só metralhar seis ou sete histórias e ainda assim acabar em menos de dez minutos? Já comecei a tentar adivinhar em quanto o tempo o livro chegaria na minha casa. Depois caí na real, fiquei horrorizado e resolvi sinceramente rever a minha vida.
UMA – E o que mudou depois disso?
Honoré – Li tudo a respeito do movimento Slow (Devagar) e comecei a praticá-lo na minha vida. O Slow é uma filosofia mundial que propõe trocar a quantidade pela qualidade. Tudo é feito mais devagar, com mais sabor: o lazer, as refeições, os exercícios, as brincadeiras com as crianças e até o sexo. No Slow, o menos é mais. A primeira coisa que fiz foi pedir demissão do jornal onde eu era correspondente estrangeiro e virar freelancer. Depois, comecei a incluir menos atividades na minha agenda diária, dando preferência apenas às coisas realmente importantes para mim. Também escolhi apenas um esporte que eu gostasse muito, diminuí a freqüência de TV por dia e do acesso à internet, celular, essas pragas viciantes… Todo dia me proponho uma paradinha para relaxar e sempre faço as refeições com minha família. Ah, também parei de usar relógio (risos).
UMA – Como está o movimento Slow no mundo?
Honoré – De vento em popa. O slow food (comer devagar) que começou na Itália, em represália à abertura do primeiro Mc Donald’s – tem milhares de adeptos no mundo inteiro. O lema é comer produtos frescos, artesanais e com muita calma. Um jantar pode durar em média 4 horas. Até o Japão está entrando nessa onda. A cada dia, dezenas de pessoas se filiam ao Clube da Preguiça, que propõe diminuir o ritmo enlouquecido do dia-a-dia. O slogan que eles usam é: “Devagar está com tudo”.
UMA – Onde você acha que vamos parar? Acha que a coisa vai ou racha?
Honoré – Se as pessoas não diminuírem o seu ritmo de vida, vamos rachar. Para você ter uma idéia, os psicólogos especializados no tratamento de adolescentes que sofrem de ansiedade estão com as salas de espera cheias de crianças de não mais que cinco anos, com problemas gástricos, enxaquecas, insônia, depressão e distúrbios de alimentação. Como você vê: o problema é sério. Mas acredito que o movimento Slow está cada vez mais forte no mundo. E todos vão ganhar com isso. Por exemplo: estudos realizados em vários países indicam que as crianças de famílias que costumam comer juntas têm mais probabilidade de êxito na escola, sendo menos passíveis de sofrer de stress ou começar a beber ou fumar muito cedo.
UMA – Então, o slow vencerá?
Honoré – Esse estilo de vida não vai acontecer de um dia para o outro, mas como a revolução feminista e a revolução verde, mudará nossas culturas profundamente. Acho que em 20 anos teremos um genuíno mundo muito mais devagar.
Fonte: Revista Uma/Uol
Tudo pode ter seu lado bom, até aquela criatura chamada estresse
Fomos condicionadas a acreditar que o stress é o verdadeiro massacre da serra elétrica. Felizmente, os especialistas encontraram o lado bom dessa criatura. Leia
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