
O Cavaleiro das Trevas foi o auge da DC Comics no cinema — Foto:Reprodução
Adaptações cinemáticas de histórias de super-heróis infestam as salas de cinema. Temos listas cada vez maiores de produções anunciadas, aguardadas e com data marcada até 2020 e adiante. Grandes estúdios correm atrás de direitos para adaptar heróis fantasiados com orçamentos faraônicos, para superproduções cheias de efeitos especiais e cenas de ação eletrizantes.

Mas nem sempre foi assim. Apesar do primeiro Superman (1978) de Richard Donner marcar toda uma geração (e eu diria, mais de uma) mostrando em doses equilibradas o humor e o drama do Homem de Aço, seu orçamento substancial foi quase uma aposta – como muitos outros excelentes filmes da década de 70. As continuações foram decaindo e os filmes foram ficando mais e mais bobos (embora nenhum deles chegue nem perto de ser desprezível), mas a coisa só teve um novo fôlego quando Tim Burton fez Batman (1989).

Toda a luz e esperança do Superman deram lugar a uma influência gótica e sombria que marcaram uma geração inteira, não somente no cinema, mas nos quadrinhos. Naturalmente, com a saída de Burton e os filmes cada vez mais carnavalescos e bizarros, a coisa desandou novamente.
Então chegamos a X-Men (2000), de Bryan Singer. Na época, o diretor não era fã de quadrinhos, mas era difícil não reparar o apelo dramático que havia na luta dos mutantes por reconhecimento e aceitação. Lutar por aceitação por ser “diferente” é uma coisa com a qual todo mundo pode se identificar, especialmente fãs de quadrinhos.

Se o Superman de Donner e o Batman de Burton eram fiéis as suas versões dos quadrinhos, com liberdades criativas, os X-Men de Singer seguiram numa rota totalmente diferente. Decidido a apresentar aqueles personagens icônicos (e imensamente populares nos anos 80 e 90) para um público que não os conhecia, Singer lançou fora os uniformes colantes e trouxe tanto atores jovens como as performances aclamadas pela crítica de Anna Paquin, Ian McKellen e Patrick Stewart. Deu certo: não somente estalou uma franquia que continua forte (apesar dos tropeços) em quase vinte anos, como inspirou a ideia de que filmes de super-heróis não precisam agradar somente os fãs dos quadrinhos – eles podem ser bons filmes por si só.
Em 2002, a Sony finalmente realizou o seu tão protelado Homem-Aranha, arriscando com o diretor Sam Raimi (de Xena e A Morte do Demônio), seguindo numa direção totalmente oposta dos X-Men de Singer: em vez de trajes pretos e drama sério, Homem-Aranha agradou o público que cresceu com o personagem e apresentou um herói clássico para as novas gerações pelo inimitável estilo de Raimi.

O espetáculo colorido, as acrobacias, a inocência e o coração do Homem-Aranha foram um sucesso de público – e bilheteria. Homem-Aranha atingiu 114 milhões de dólares num único fim-de-semana, marcando um recorde que não cairia por mais quatro anos à frente. Se Singer mostrou que filmes de super-heróis poderiam ter um apelo para o público “comum”, com suas jaquetas e aspecto severo, foi Homem-Aranha quem mostrou que o espetáculo com uniforme colado e codinomes espalhafatosos também funcionava – com o devido orçamento.
No entusiasmo das bilheterias de Homem-Aranha, alguns estúdios começaram a se sacudir pra lançar suas adaptações de histórias de super-heróis nos cinemas. Então vieram os fracassos de bilheteria e crítica Mulher-Gato (2004) e Elektra (2005), filmes de baixo orçamento, dirigido por diretores inexperientes, com histórias longe do material original – e que causaram um imenso dano aos fãs de quadrinhos. Diante do resultado ruim, os estúdios se acovardaram – e começaram a considerar filmes com heroínas femininas apostas que não valiam o investimento.

Mesmo hoje, em pleno 2017, filmes de super-heróis com protagonistas femininas são raros. A Marvel Studios terá 20 filmes com protagonistas homens antes do seu primeiro filme com uma heroína (Capitã Marvel, prevista para 2019). Com as adaptações bem-sucedidas de heroínas femininas em séries (Jessica Jones na Netflix, Supergirl na CW), e o vindouro filme da Mulher-Maravilha este ano, talvez a tendência mude e mais heroínas mulheres surjam para inspirar e maravilhar os fãs.
Batman Begins (2005), do notório Christopher Nolan, ofereceu um estudo de personagem do Batman de uma maneira inacreditavelmente verossímil, anulando de vez o desastre causado por Joel Schumacher nos anos 90. Batman foi revitalizado para audiências do mundo todo como um herói sóbrio, situado no mundo real e enfrentando ameaças bem reais – e o lado fantástico da película explorava a psique tanto do herói quanto de seus vilões.

A sua continuação de 2008, O Cavaleiro das Trevas, foi a epítome da DC Comics no cinema. Christopher Nolan tocou no tema do terrorismo, onde seu herói cada vez mais autoritário e instável enfrenta um vilão que ataca de formas cada vez piores ao ser combatido. O Cavaleiro das Trevas está para Batman como O Império Contra-Ataca está para Star Wars.
Homem de Ferro (2008), lançado no mesmo ano do magnum opus de Nolan, foi uma das maiores apostas da história do cinema – e uma daquelas que deu certo demais. Com os direitos de uso dos heróis favoritos da Marvel, Homem-Aranha, X-Men e Quarteto Fantástico, vendidos pra outros estúdios, a Marvel Studios produziu o primeiro Homem de Ferro com Jon Favreau, estrelando um ator recém-saído da reabilitação Robert Downey Jr. sob a liderança do presidente Kevin Feige para criar o filme mais importante de suas carreiras.

Assistido por ele mesmo, Homem de Ferro não é lá essas coisas de extraordinário. Claro, o design do traje é elegante e moderno, o protagonista é carismático e hilário, e a história é desenvolvida de forma satisfatória – mas a grande mudança ocorre quando Samuel L. Jackson aparece no pós-credito como Nick Fury. Os fãs entraram em polvorosa, mesmo sem fazer a menor ideia do que o MCU significava.
Vingadores (2012) é o grande clímax da sequência pós-créditos de Homem de Ferro. Nunca antes na história do cinema um estúdio conseguiu de forma bem-sucedida produzir uma série de filmes solo com diferentes protagonistas, todos no mesmo universo, levando a um grande evento que traria esses personagens juntos num mesmo filme.

Vingadores não somente definiu como fazer filmes de super-heróis, mas influenciou toda a indústria do cinema sobre como levantar franquias – a palavra chave sendo “universo compartilhado”. Todos os estúdios de cinema estão ou buscando direitos de uso para adaptar heróis de quadrinhos, livros e games, ou revitalizando franquias para usar a imensamente divertida (e lucrativa) ideia de universos compartilhados.

Deadpool (2015) foi o mais recente filme a sacudir a maneira como as coisas são feitas em filmes de super-heróis. Há um ano atrás, o filme do mercenário tagarela chegou aos cinemas depois de longos anos sendo desenvolvido (e semi-cancelado) graças a sua estrela, Ryan Reynolds, que fez o possível e o impossível pra garantir que a película fosse bem-sucedida. Com um orçamento minúsculo e um roteiro estrondorosamente hilário, Deadpool caçoou da “fadiga de filmes de heróis” enquanto introduzia uma abordagem totalmente nova ao gênero – com todas as suas meta-piadas, ultraviolência e bilheteria explosiva, Deadpool atiçou os estúdios pra possibilidade de filmes de super-heróis voltados para maiores.
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