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Crítica: Dunkirk e a experiência de imersão cinemática

Três perspectivas distintas no tempo, mas alinhadas na tensão e narrativa imersiva

Crítica: Dunkirk e a experiência de imersão cinemática

Dunkirk, o drama da evacuação das forças aliadas na praia de Dunquerque durante a Segunda Guerra Mundial, estreou nos cinemas da Paraíba nesta quinta-feira (27) – confira horários de sessões em todos os cinemas do estado aqui.

A passagem do tempo sempre foi um elemento definidor na filmografia de Christopher Nolan. Amnésia (Memento, 2000) foi um suspense rodado ao contrário, onde o expectador acompanha pelo ponto de vista bizarro de um amnésico (Guy Pearce) a tentativa de juntar as peças da morte de sua esposa, uma pista de cada vez. A Origem (Inception, 2010) propôs mundos dos sonhos onde cada camada de consciência se distinguia da outra pela forma como o tempo avançava de segundos para minutos, de minutos para horas, de horas para dias, de dias para semanas, de semanas para meses, de meses para o infinito. Tudo é relativo; Interestelar (Interestellar, 2014) nos mostrou um astronauta (Matthew McConaughey) numa jornada através da dilatação do tempo prevista por Einstein, separando-o de sua filha por 20 anos numa exploração espacial. Até mesmo na trilogia do Batman (Batman Begins, O Cavaleiro das Trevas, e O Cavaleiro das Trevas Ressurge, de 2005 a 2012), vemos o foco num super-herói amadurecendo através de uma escalada no terrorismo da metrópole onde ele habita e as consequências de suas decisões na história de Gotham City.

Dunkirk é ao mesmo tempo uma extensão natural e um aperfeiçoamento técnico do mote de Chirstopher Nolan com o estica e puxa das horas, dias, semanas e a impossibilidade de distinguir entre períodos de tempo.

Dunkirk não perde tempo com papo furado, históricos complexos, e nem mesmo personagens com extensos e mirabolantes diálogos – algo que nos acostumamos tanto a ver num filme de Christopher Nolan. Nada de frases de efeito, axiomas e máximas pra virar meme. 

Em Dunkirk, tudo o que Nolan faz é transmitir a sensação de estar lá – em três perspectivas simultâneas na nossa percepção, em tempos diferentes, conciliados pela mesma tensão, três vezes mais intensa pela sobreposição da magistral trilha sonora do seu velho comparsa, Hans Zimmer.

A evacuação na praia durante uma semana de tensão; a rota pelo mar durante um dia inteiro; e a rota pelos céus, no expressivo piloto aéreo interpretado por Tom Hardy, dura uma hora.

Dunkirk também é muito menos sobre poderio militar e mais sobre a imensurável generosidade humana daqueles que decidem arriscar a vida para ajudar quando não são obrigados a isso. É de levar lágrimas aos olhos – e tudo com poucas palavras, de forma tão intensamente sensorial que quase nos sentimos parte da história.

Isto, aliás, é o maior mérito de Dunkirk: o filme é espetacularmente imersivo, e em diversos momentos eu tive de me lembrar que estava são e salvo no cinema. 

A trilha sonora espetacular e os efeitos sonoros do filme contribuem para a imersão com mergulhos no grotesco das metralhadoras e explosões, seguido do desolador chiado da maresia com o horizonte vazio – nada de resgate à vista. Entre os silêncios contemplativos e os estrondos titânicos de metralhadoras, o ruído do relógio vem fazendo tique-taque, misturado com os pulos que o coração dá e alimentando uma tensão que nos faz pular na cadeira.

Nolan entrelaça as histórias desses três pontos de vista distintos no tempo (semana, dia, hora), dilatados e condensados numa unidade pela música e efeitos sonoros, com a intensidade de cada momento acumulando de um jeito enervante e real – porque nenhum daqueles personagens está protegido pela impenetrável “armadura do protagonista” que chega são e salvo no final. 

Pelo contrário: cada um deles pode morrer a qualquer momento, e quando morrem, são de modos que, se não são todos horríveis, (o filme poupa o horror , a sanguinolência exacerbada, em favor da tensão), são todos penosos. Nós não conhecemos estas pessoas, nós não sabemos seu passado (alguns deles, não sabemos nem o nome), mas quando eles são colocados nas situações da história, nós conseguimos entender o pânico e o desespero, a tensão e a esperança – e a humanidade que há neles se alinha com a nossa – de modo que nos sentimos na história.

Somos nós batendo no vidro pra não morrer afogados e esquecidos, desamparados numa praia fria onde, no horizonte, quase conseguem ver seus lares.

Com menos violência física, menos terror da guerra, Dunkirk dá nos nervos por penetrar no horror existencial de lutar para sobreviver. É um filme sobre seres humanos sob pressão.

Dunkirk é um filme sobre a desolação e a desesperança. Encurralados numa praia, cercados por todos os lados, os soldados Aliados esperam em filas ordenadas (e absurdas) pela chegada de resgate. 

Cada centímetro de território guarnecido custa vidas humanas, e logo nos primeiros minutos até o fim definitivo, acompanhamos o desespero não pela vitória, mas pela sobrevivência. 

Afinal, o que mais seria considerado vitória numa guerra senão chegar vivo em casa?

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