Na última terça-feira (14), o THR noticiou que a Warner Bros. estaria planejando um reboot de Matrix (1999), com Michael B. Jordan (Creed: Nascido para Lutar e Pantera Negra) como protagonista e roteiro de Zak Penn (Os Vingadores).
Há um mês atrás, Keanu Reeves, em entrevista para promover John Wick – Um novo dia para Matar disse ao Yahoo Movies que toparia participar de um novo filme de Matrix se as irmãs Wachowski, que escreveram e dirigiram a trilogia original, estivessem envolvidas.
Eu não acho isso uma boa ideia. Vou explicar porquê.
O primeiro Matrix foi um filme extraordinário. Ele conseguiu aproveitar bem as referências cyberpunk estabelecidas por obras anteriores (Neuromancer, Ghost in the Shell e Dark City) junto com um estilo cinemático que rendeu imitadores por anos a fio.
Usar sobretudos estilosos, mergulhar atirando, correr em paredes e desviar de projéteis se esquivando pra trás em câmera lenta: tudo isso se tornou clássico instantâneo, copiado, imitado e referenciado em dezenas de filmes, games, animações e quadrinhos nas décadas seguintes.
Misture-se os tiroteios estilosos com lutas de artes marciais wuxia, diálogos filosóficos, a instigante paranoia com os agentes, uma premissa divertida para super-poderes, todo o encanto da ideia messiânica e Matrix, lançado discretamente em abril de 1999, se tornou um sucesso inesperado.
Se ainda nos anos 90 as discussões sobre a relação de dependência do homem e das máquinas, a tendência das massas à imersão numa realidade fabricada e a necessidade de um levante social já pareciam atuais, em 2017 estão ainda mais. Hoje, tecnologias de realidade virtual, gadgets vestíveis, o projeção do “eu idealizado” online em aplicativos como Facebook ou Instagram, a dicotomia entre o conforto da alienação e o terror do mundo real: nunca uma época foi tão propícia para um filme alfinetar esses assuntos.
No começo dos anos 2000, a Warner Bros. tentou de todo jeito dar continuidade ao fascinante primeiro filme. Tentaram explorar a ideia da experiência de transmídia com um universo expandido onde um game (Enter the Matrix) complementava o enredo entre o segundo (Matrix Reloaded) e o terceiro filme (Matrix Revolutions).
Essas expansões e exploração do universo de Matrix ainda foi tentada, com discutíveis graus de sucesso, em mais games (The Matrix: Path of Neo e o MMORPG The Matrix Online) e a excelente série de animes The Animatrix.
E não por acaso, The Animatrix foi a melhor coisa que conseguimos pra servir de continuação ao primeiro filme, que deu origem a tudo: histórias curtas, contadas com primor visual e no sensorial, cada uma carregada de temática e valor artístico – e nenhuma delas precisou ter Neo de volta como protagonista. Cada uma contou a sua história em Matrix, acrescentando coisas novas sem precisar apagar e recomeçar aquele mundo do zero.
Reveja o episódio Second Renaissance e entenda como Matrix ainda nem começou a ser explorado, muito menos esgotado, pra precisar de um reboot.
Expansão, e não reboot, é o que tem dado certo no cinema: vemos isso em Creed – Nascido para Lutar, vemos isso em Mad Max: Estrada da Fúria, vemos isso em Rogue One: Uma História Star Wars.
E essa é a opinião do roteirista Zak Penn, que comentou no Twitter os rumores do reboot, dizendo que “quem conhece Animatrix e os quadrinhos de Matrix sabe que não se pode nem deve ser feito um reboot.”
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