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A decadência de uma Festa

   Uma das mais tradicionais festas de nossa cidade está com os dias contados. É o que prevejo caso não […]

   Uma das mais tradicionais festas de nossa cidade está com os dias contados. É o que prevejo caso não mude o conceito na sua estrutura e na sua produção. Quem conheceu a Festa das Neves, sabe do que estou falando.

   Criada desde o século XIX para se comemorar o aniversário da cidade e de sua padroeira, infelizmente a maior referência em manifestação de rua dos últimos 50 anos tem sido gradativamente prejudicada pela falta do interesse público e o descaso de várias e sucessivas gestões municipais que não estão preocupadas em dar continuidade as nossas tradições e nem tão pouco na sua preservação. Estive lá e comprovei essa triste realidade.

   Antigamente a festa tinha um ar nostálgico e de puro comprometimento com a nossa cultura. Existia aconchego e uma essência peculiar que atraía a família paraibana a uma verdadeira celebração do profano com o religioso. E o que vemos hoje? Uma festa completamente fragmentada, dispersa, suja e desrespeitosa com a população. Parece-me que realizam o evento simplesmente para cumprir um calendário, como se fosse uma mera obrigação do poder público, mas sem nenhum compromisso em qualificá-la. Afora os shows do Ponto de Cem Réis, nada acontece!

   É verdade que a cidade cresceu tomando outras proporções, mas retirar o evento de perto da Catedral foi no mínimo contraditório. Dividir a festa em várias ruas e praças só fez também contribuir para que o evento se dispersasse. Acabou-se o aconchego. Perdeu-se na unidade. Na verdade a Festa das Neves servia como um grande encontro anual pontuado pela celebração da cidade e de seus munícipes. Existia calor humano e energia de sobra nas várias barracas de jogos populares em sua volta.  Os pavilhões armados na Rua General Osório concorriam entre si, numa espontânea e virtuosa alegria que dava prazer participar e compartilhar de todas elas. Havia “correio sentimental”, distribuição de brindes, leilão de gastronomia e bebidas, brincadeiras, bingos, grupos musicais variados, muita dança e alegria o que fazia dessa saudável concorrência um diferencial em cada noite festiva. Em meio a essa descontração ficava difícil escolher o pavilhão mais animado. Montava-se o parque infantil completamente interagindo com a festa. As “canoas de madeira”, o “trem fantasma”, “o Tira-Prosa” e a barraca da “Monga, a mulher que vira macaco” eram brinquedos esperados por todos aqueles que curtiam a chegada do evento. Hoje praticamente só existem brinquedos infláveis e mini roda gigante. Além das atrações principais existiam grupos de cultura popular em vários pontos da festa formando geralmente grandes círculos com a participação do público. A “enganação” dos ambulantes na “dança das tampinhas” e nas “mágicas de baralhos” era uma atração a parte. Não existiam espaços vazios. Tínhamos prazer em circular nas ruas e sentir o aroma do milho verde, da pipoca, da maçã do amor e do rolete de cana. Era uma festa lúdica, harmônica e grandiosa. Infelizmente isso mudou! Perdeu-se na essência e na história.

   Da mesma forma que acabaram a Festa do Rosário em Jaguaribe e a Festa das Hortênsias em Cruz das Armas, não tenho dúvidas que mais cedo ou mais tarde a Padroeira da Cidade ficará apenas na lembrança de alguns poucos que tiveram o privilégio de vivenciarem uma das mais tradicionais festas de rua da cidade.  É lamentável!

  

  

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