Gilson Faustão

Família de deficiente visual que morreu sob acusação do ‘fio preto’ cobra retratação da Energisa

Várias famílias prejudicadas com o caso do fio preto da Energisa e acusadas, segundo elas injustamente, de instalar gatos em suas residências continuam enfrentando acusações e exposição. A família de Gilson no Alto do Mateus, conhecido como Faustão, recebe até hoje em sua fatura de energia a cobrança de uma multa relacionada à denúncia de instalação de gato no ano de 2012.

Faustão, que era deficiente visual, foi acusado de instalar um gato em sua casa. Após a denúncia e grande exposição da família, Faustão teve seus problemas de saúde, como diabetes e hipertensão, agravados e acabou falecendo há quase oito meses.

De acordo com Suellen Borba, filha de Faustão, “de forma alguma ele recebeu algum pedido de desculpas ou sequer uma carta de condolências chegou na minha casa vindo da empresa”. Ela lamenta que seu pai tenha falecido sem nunca receber qualquer retratação ou indenização. “É muito difícil saber que o meu pai faleceu sem ter esse sentimento que a Justiça foi feita”, ressalta Suellen.

Ela conta que uma equipe da empresa foi até a residência da família informando que seria feita uma investigação devido a uma denúncia anônima. “Subiram no telhado da casa e disseram ter encontrado o tal fio”, afirmou a filha de Faustão.

Durante a investigação, os funcionários da Energisa chegaram a deixar estragos na casa e graves acusações. “Eles derrubaram água no cano para conseguir puxar o fio, quebraram o gesso da minha casa, disseram ao meu pai que ele estava se fazendo da deficiência dele para se fazer de coitado”, detalha Suellen.

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Depois de todas as acusações e sabendo de sua inocência, a família acionou a Justiça para que o problema fosse solucionado. De acordo com Suellen, em primeira instância a decisão foi favorável aos consumidores, porém, a Energisa recorreu e acabou vencendo em segunda instância.

Depois de terem passado por tudo isso, Suellen diz que a família se sente lesada e inconformada com toda a injustiça, principalmente a que recaiu em seu pai. “Porque ele era um homem de bem, um deficiente visual que não tinha como subir na minha casa, ou ele ou minha mãe, para fazer qualquer ato ilícito”, afirma a jovem que tinha 15 anos na época do incidente.

A vereadora Raíssa Lacerda (PSD) acompanhou o caso na época e até hoje faz referência e cita toda a humilhação a que a família foi submetida. “Minha gente, é muito grave. Um cidadão com o nome de Faustão, morador do Alto do Mateus, deficiente visual, foi acusado do ‘gato’. E logo após essa acusação, ele sendo deficiente visual – porque quando você é acusado chega com a polícia -, ele entrou em depressão de chegou a óbito. Isso gera danos morais”, alertou Raíssa. 

De acordo com a vereadora, em todo o estado, “mais de mil pessoas foram lesadas” e, por meio do apoio do seu gabinete, no Judiciário 326 receberam decisões favoráveis. “Na época eu levei essas pessoas à Descon, que é uma delegacia, fizeram um BO e depois eu levava ao Ministério Público. Então, 326 pessoas foram indenizadas”, contou a vereadora, que pretende continuar levando os casos adiante para fazer justiça. 

“Desde 2013 eu estou denunciando que a própria empresa Energisa estava forjando ‘gatos’. Ela colocava ‘gatos’ na casa dos consumidores e depois ia cobrar R$ 7 mil desses consumidores. A denúncia é gravíssima. Temos que estourar uma CPI”, destacou a vereadora.